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quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sobre armas nucleares e ônibus espaciais

Primeiro, uma trilha sonora apropriada:



Agora, o ótimo artigo:
Quem tem direito à soberania nuclear?

Artilharia nuclear: Quem não brincou, não brinca mais



O presidente Lula, na semana passada, questionou a legitimidade dos países que detêm o monopólio da bomba para se apresentarem como críticos do governo de Teerã. Mais ainda: colocou como pressuposto para um acordo sólido e democrático o desmantelamento de todos os arsenais nucleares. Foi o que bastou para a indignação estridente de alguns comentaristas.

O mandatário brasileiro colocou o dedo em uma ferida. Quem possui autoridade para determinar quais países podem ingressar no clube atômico e quais não? Por exemplo, por que o Irã deve ser pressionado a abrir mão de seus projetos e Israel merece tolerância? A qual lógica obedece essa discriminação? 

Retornemos um pouco no tempo. O documento que serve de base institucional para essa arbitragem é o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e foi assinado em 1968. Naquele momento, no auge da Guerra Fria, cumpriu papel de conjurar os riscos de um conflito atômico.

Com o mundo dividido em dois campos, a restrição ao uso militar da energia nuclear nas mãos das duas superpotências, União Soviética e Estados Unidos, limitava as possibilidades de conflagração a partir de países que escapassem da hegemonia bipolar.

Na prática, os Estados alinhados a uma ou outra das superpotências delegavam sua defesa estratégica à nação-líder do sistema político-econômico a que pertenciam. Não foi uma regra de fácil implantação: França e China, membros do Conselho de Segurança da ONU, assinaram o tratado apenas em 1992. Obviamente um acordo com esse perfil reforçava o papel hegemônico de soviéticos e norte-americanos.

A fórmula continha, além do duopólio nuclear, regras de contenção que forçavam relativa paridade entre os dois campos, evitando que a supremacia de um ou outro lado, geradora de vantagem comparativa insuperável, servisse de incentivo a puxar o gatilho.

O equilíbrio atômico impedia o choque entre União Soviética e Estados Unidos. Também estabelecia limites para intervenção militar em guerras regionais, como foi o caso do Vietnã, onde as forças americanas não puderam recorrer a seus arsenais nucleares. Por fim, ao bloquear a proliferação de armas dessa natureza, reduzia as chances de uma hecatombe que fluísse da periferia para o centro dos sistemas em disputa.


Hegemonia imperialista

Mas o cenário que deu origem a esse tratado caducou. Após o colapso soviético, o mundo mergulhou em uma situação de forte desigualdade militar, marcada pela preponderância dos Estados Unidos, que assumiram uma função pretoriana e unilateral sobre a questão atômica.

As conseqüências geopolíticas dessa disparidade são visíveis. A Casa Branca pôde, nos últimos 20 anos, comandar guerras de dominação ou ocupação que possivelmente seriam inviáveis no passado. Apenas para lembrarmos os fatos mais notórios: os processos de pacificação da Iugoslávia, do Iraque e do Afeganistão, teriam ocorrido na era da bipolaridade?

Os aliados regionais de Washington passaram a contar com uma margem de manobra muito ampla. A situação mais emblemática ocorre no Oriente Médio. O desequilíbrio bélico a favor de Israel, apesar desse país até hoje ter se recusado a assinar o tratado de não-proliferação, é pedra angular na política norte-americana.

A fragilidade defensiva e ofensiva de palestinos e países árabes, além do Irã, garante ao sionismo não apenas a segurança das fronteiras israelenses como também a execução de uma política expansionista praticamente ilimitada. O desequilíbrio militar, afinal, é uma premissa para a hegemonia imperialista.

A verdade é que os Estados Unidos, com a cumplicidade de outras potências atômicas, lograram fazer do velho tratado um instrumento de sua supremacia, exatamente um dos cenários que se desejava evitar há 40 anos. Os norte-americanos não são fortes o suficiente, por exemplo, para exigir a liquidação dos arsenais de Rússia e China, mas tratam de impedir que surjam novos protagonistas nucleares que desorganizem sua estratégia de poder.

Afinal, até países com economia frágil, incapazes de manter exércitos regulares dotados com os equipamentos mais modernos, poderiam desenvolver o ciclo atômico completo e criar um arsenal tático, com poder dissuasório ou de médio alcance, ampliando sua capacidade defensiva. A Coreia do Norte, que rompeu com o tratado em 2003, é uma evidência dessa possibilidade.


Validade vencida

Não há qualquer sensatez, é evidente, em se apostar na disseminação do poderio nuclear como caminho para a paz. Mas a renúncia unilateral ou forçada à soberania atômica, nos termos atuais, significaria aceitar como imutável a geopolítica da supremacia.

O presidente Lula, com seu modo cordato, deixou claro que o antigo tratado está com validade vencida. Suas palavras apontam para outro tipo de acordo, baseado na igualdade de todas as nações perante a lei internacional. Fora desse parâmetro, é o reino da hipocrisia.

Breno Altman é jornalista e diretor de redação do Opera Mundi.

Fonte: Opera Mundi


Comentários:
Desnecessário dizer que até hoje, o único país que cometeu um ataque terrorista e nuclear foram os Estados Unidos da América, contra o Japão. O ataque é visto por muitos historiadores como algo desnecessário na II Guerra Mundial, já que o país asiático já estava fragilizado e a rendição não tardaria. 
Voltando aos dias de hoje, o cinismo dos americanos e dos russos não têm limite. Criaram um pacto para reduzir em 30% o poderio nuclear. Ou seja, de milhares de ogivas nucleares capazes de detonarem continentes, querem cortar uma pequena parte. E o resto? Onde está a coragem dos nossos amigos yankees e dos ex-soviéticos, para reduzirem à números mais expressivos?

Lembrando que na resolução atual, os signatários julgam-se no direito de atacarem quem não participa da festa, ou seja, quem não tem arma nuclear, exatamente como os EUA fez contra o Japão.
Não creio, a curto prazo, que os EUA ou a Rússia sejam imbecis à ponto de deflagrarem um ataque atômico, mas nunca podemos afirmar que cenários políticos à curto ou médio prazo não propiciarão o contrário.
Boa parte do dinheiro que é jogado pelo ralo na manutenção do arsenal nuclear seria melhor utilizado se fosse aplicado nas pesquisas espaciais, bem mais úteis. Atualmente, a NASA precisa pedir esmolinhas ao governo Obama para excelentes projetos. Já que um assunto costuma puxar o outro, é tragicômico que os EUA, agora que vão aposentar o bom e velho Ônibus espacial, vão passar uma boa temporada pegando carona nas velhas naves Soyuz russas..
Soyuz:Carona dos americanos para as glórias do espaço, até surgir o substituto dos ônibus espaciais..


2 comentários:

Athena disse...

Eu de facto, não percebo mtos desse assunto. Mas concordo plenamente, que as bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki era desnecessárias e esses actos constituem crimes contra a humanidade. Os americanos deveriam tb ter tido o seu Nuremberga, como os nazis tiveram. Mas, já nesse tempo, a hipocrisia reinava. Por aquilo que li, a rendição do Japão iria acontecer mais cedo ou mais tarde.
Os EUA não querem que outros países tenham armas, mas eles podem? só na Europa, os EUA têm mais de 100 ogivas espalhadas por diversos países e alguns chefes de estado já exigiram a retirada imediata desses arsenais, mas n me parece que Obama ceda. E a Russia a mesma coisa. Ou seja, reduzem 30% e ainda ficam 60%!!! E os idiotas da comunidade internacional, vêem essa atitude como algo de espectacular... Que cínicos!!!
Eu tb acho que eles n seriam loucos ao ponto de deflagrarem um guerra nuclear, até porque tanto a Russia como os EUA, em plena guerra fria, conheceram bem os efeitos devastadores que um conflito desse género traria. Enfim, no fundo é com você diz, para quê gastar tanto dinheiro em arsenais nucleares, quando ele faz tanta falta para coisas mto mais úteis?
Seria bom que o mundo ficasses livre, de uma vez por todas, dessa praga...

Athena disse...

A música tá demais! Bem apropriada para este tema ;)