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terça-feira, 6 de abril de 2010

Esclarecimentos sobre a Vacina para Gripe A H1N1

Essa semana fiquei surpreso com o número de pessoas, inclusive médicos, que estão inseguros em relação à vacinação para a gripe pandêmica. Por isso, mais um post sobre a vacina. Espero não estar torrando a paciência de vocês. Vamos lá:

Existem vários tipos de vacina para a gripe A H1N1. Segundo o Ministério da Saúde, a Organização Pan Americana de Saúde (OPAS) fornecerá 10 milhões de doses para o Brasil. O Governo já havia comprado, em novembro de 2009, o primeiro lote de vacinas com 40 milhões de doses fornecidas pelo laboratório Glaxo Smith Kline (GSK). Além disso, encomendou 33 milhões de doses ao Instituto Butantan que as fabricará segundo transferência de tecnologia negociada com o laboratório Sanofi-Pasteur. A vacina que eu tomei foi essa, Butantan-Sanofi Pasteur de vírus inativado da cepa A/California/7/2009 (H1N1)v, propagada em ovo, com 15 μg de hemaglutinina por dose plena. O tipo de vacina também é um dos determinantes do esquema de vacinação proposto pelo Governo.

O que são os adjuvantes?

Os componentes da vacina além dos vírus inativados estão dando o que falar. Em especial devido a "correntes" totalmente desinformadas que circulam por meio de spams nos emails por aí. Vamos às informações: Os adjuvantes são substâncias que aumentam a imunogenicidade da vacina. Em tempos de pandemia, a quantidade de vírus disponíveis é um fator limitante e os adjuvantes aumentam a capacidade de produção da vacina em 100 a 200%. Mesmo assim, isso pode não ser suficiente. Há dois tipos principais de adjuvantes: o esqualeno e os sais de alumínio. A vacina Butantan-Sanofi Pasteur não tem nenhum dos dois. A vacina da GSK tem o AS03, o esqualeno e ainda outro agente imunogênico, o tocoferol (vitamina D). Os adjuvantes foram testados na fabricação de vacinas da gripe sazonal e da H5N1.
E o tal de Timerosal?http://farm4.static.flickr.com/3178/2961464963_bb5df0fab8.jpg

Timerosal, ou em inglês, thiomersal, é o nosso antigo mertiolate. É uma tintura de mercúrio orgânico com poderes antimicrobianos quando usado tópicamente. Foi retirado do mercado por causar uma ardência enorme nos ferimentos abrasivos e pela necessidade de retirada gradual dos produtos à base de mercúrio por razões ambientais. O timerosal é usado nas vacinas na manufatura e para evitar a contaminação do produto final. A vacina pandêmica tem mais ou menos 2,5 a 50 μg timerosal por dose como preservativo. O timerosal contem 49,6% de mercúrio (ou seja, 1,25-25 μg de mercúrio por dose). 



Essas doses são consideradas baixas e aproximadamente 1/4 da ingestão máxima diária para uma pessoa de 60 kg. Muitas pessoas, inclusive algunsvizinhos meus, são alérgicos ao timerosal. E agora? Podem tomar a vacina ou não?

Segundo o relatório abaixo [2] e um especialista em vacinação que consultei, as alergias de contato ao timerosal NÃO contraindicam a vacinação. Existem tipos raros de alergia ao composto nos quais o paciente apresenta sintomas sistêmicos, por exemplo, angioedema (inchaço na boca e face), broncoespasmo (chiado no peito), urticária (vergões na pele). Nesse caso, a alergia é mais importante e a vacina está contraindicada. Na dúvida, é sempre melhor perguntar ao seu médico.

Essa vacina, afinal, é segura?

 Vou citar o relatório novamente: "Baseado em informações recebidas de 16 países, a OMS estima que por volta de 80 milhões de doses da vacina pandêmica foram distribuídas e aproximadamente 65 milhões de pessoas foram vacinadas. Campanhas de vacinação globais têm se utilizado de vacina com e sem adjuvantes, com vírus atenuados e inativados (este último grupo não licenciado na Europa). Apesar da intensa monitorização sobre a segurança das vacinas, todos os dados compilados até o momento, indicam que as vacinas pandêmicas gozam do mesmo excelente perfil de segurança que as vacinas sazonais, as quais tem sido utilizadas por mais de 60 anos."

Nesse ponto, acho que fomos beneficiados por estarmos no hemisfério sul. Dessa vez, testaram lá antes.

[1] Atmar RL, & Keitel WA (2009). Adjuvants for pandemic influenza vaccines. Current topics in microbiology and immunology, 333, 323-44 PMID: 19768413
[2] European Centre of Disease Prevention and Control
. [link]





Fonte



O esqualeno nas vacinas da gripe é tóxico?



Em muitos emails que contraindicam o uso da vacina contra H1N1, há o argumento de que substâncias presentes na vacina: thimerosal e esqualenos, são tóxicos. O thimerosal é usado para evitar que as vacinas se contaminem com bactérias. Não há evidências de que a quantidade de mercúrio na vacina é tóxica. O Atila ainda nos lembra que uma porção de cação pescado em São Paulo tem mais mercúrio que na vacina (não comam cações pois é uma espécie ameaçada!).
O esqualeno é utilizado para estimular o sistema imune e aumentar a eficiência da vacina. Nosso corpo produz esqualeno como parte de seu funcionamento e há esqualeno no seu sangue neste momento. O óleo que cobre o seu corpo também possui esqualeno. A quantidade de esqualeno deixada em nossas impressões digitais é tanta que é fácil quantificar a concentração de esqualeno no seu mouse. Não é de se espantar que comidas de origem animal contenham esqualeno. Esqualeno também é utlizado em cosméticos como cremes e batons.
A história de que o esqualeno nas vacinas é tóxico tem data de início. Entre 2000 e 2002, um grupo de pesquisadores publicou dois artigos (1 e 2) mostrando que soldados que apresentavam a Síndrome da Guerra do Golfo possuíam anticorpos anti-esqualeno. A hipótese do grupo era de que o esqualeno presente nas vacinas contra o antrax dadas aos soldados estaria provocando a formação de anticorpos anti-esqualeno nos soldados, o que provocaria a Síndrome da Guerra do Golfo. No entanto, pesquisas posteriores mostraram que a pesquisa tem sérios problemas experimentais.
Alguns esclarecimentos:
1) a vacina contra o antrax não usa esqualeno como adjuvante! - análises da vacina anti-antrax mostraram que o adjuvante utilizado para aumentar a eficácia da vacina era o hidróxido de alumínio. No entanto, algumas vacinas anti-antrax contém esqualeno... em quantidades minúsculas associadas à contaminação causada pelo contato da nossa pele com algum instrumento usado na fabricação da vacina (3). Para se ter uma ideia, o esqualeno contido nas vacinas anti-antrax possui esqualeno em uma concentração menor do que possuímos no nosso sangue. Eu chegaria a dizer, usando estes critérios, que tudo que injetamos no corpo possui esqualeno.
2) O grupo não demonstrou que seu método detecta anticorpos anti-esqualeno - quem trabalha com ensaios de detecção de anticorpos sabe que é fácil se enganar usando estes métodos. Para evitar isso, é preciso fazer experimentos de controle para garantir a eficácia do método. O grupo responsável pela pesquisa associando vacinas com a Síndrome da Guerra do Golfo nunca publicou dados mostrando que seu método funciona!
3) O esqualeno não é capaz de induzir anticorpos anti-esqualeno - a hipótese do grupo era de que o esqualeno faria o corpo "voltar-se contra si" através de anticorpos anti-esqualeno. Pesquisas posteriores mostraram que o esqualeno NÃO induz a produção de anticorpos anti-esqualeno, mesmo se injetado em quantidades altas (4). Outros estudos utlizando métodos confiáveis de detecção o anticorpo anti-esqualeno mostrou que uma boa parcela da população possui estes anticorpos naturalmente e que a porcentagem de soldados que foram à Guerra do Golfo que tinham anticorpos anti-esqualeno é a mesma da população (5)!
4) O esqualeno pode induzir doenças auto-imunes, se você for um camundongo - se injetarmos altíssimas doses diretamente nas juntas de ratos, eles poderão ter artrite. Não deixem injetarem vacinas nas suas juntas! Além disso, uma das formas do esqualeno, o MF59, induziu sintomas parecidos com lúpus em camundongos. No entanto, testes com altas quantidades de MF59 em humanos não provocaram o mesmo efeito. Lembro que as quantidades de esqualeno nas vacinas é baixa.
5) O esqualeno é usado em vacinas anti-gripe desde 1997 - o esqualeno é usado na Europa desde 1997 e não há indícios epiemiológicos de problemas associados ao seu uso. Desde 1997, milhões de pessoas são vacinadas todo ano com vacinas que contém esqualeno.
Os emails que dizem que o esqualeno é tóxico, enfim, só estão gerando pânico e paranóia. Estes emails se baseiam em um estudo já desacreditado por inúmeros outros estudos. As evidências apontam que o esqualeno é uma substância segura nas vacinas.
Fontes:
(1) Asa, P. (2000). Antibodies to Squalene in Gulf War Syndrome Experimental and Molecular Pathology, 68 (1), 55-64 DOI: 10.1006/exmp.1999.2295
(2) Asa PB, Wilson RB, & Garry RF (2002). Antibodies to squalene in recipients of anthrax vaccine. Experimental and molecular pathology, 73 (1), 19-27 PMID: 12127050
(3) Spanggord RJ, Sun M, Lim P, & Ellis WY (2006). Enhancement of an analytical method for the determination of squalene in anthrax vaccine adsorbed formulations. Journal of pharmaceutical and biomedical analysis, 42 (4), 494-9 PMID: 16762524
(4) Del Giudice G, Fragapane E, Bugarini R, Hora M, Henriksson T, Palla E, O'hagan D, Donnelly J, Rappuoli R, & Podda A (2006). Vaccines with the MF59 adjuvant do not stimulate antibody responses against squalene. Clinical and vaccine immunology : CVI, 13 (9), 1010-3 PMID: 16960112
(5) Phillips CJ, Matyas GR, Hansen CJ, Alving CR, Smith TC, & Ryan MA (2009). Antibodies to squalene in US Navy Persian Gulf War veterans with chronic multisymptom illness. Vaccine, 27 (29), 3921-6 PMID: 19379786





Um comentário:

Juarez Furtado Jr disse...

bom dia, gostaria de parabeniza-lo pelas reais e baseadas (citaçao de fontes) informaçoes, sou medico e no momento vivendo esse turbilhao de informaçoes "netianas" x ministeriais, e muita confusao na cabeça dos pacientes estao surgindo e piorando o estado de panico criado pelo meio jornalistico. Felizmente esta gripe A nos "pega" no fato de ser mais rapidamente difundida.. porem de efeitos morbidos (%) semelhante as outras gripes. abraço