Pesquisar este blog

sábado, 3 de abril de 2010

Ateu fanático quer acabar com o cristianismo



Li esta pérola em uma comunidade ateísta do orkut:

"Todo mundo concorda que o Cristianismo é o mal da humanidade e o responsavel pelas piores crueldades.
Se acham os donos da verdade e querem que todos sejam como eles.

Mas se todos sabem disso então por que ninguém faz?
Nunca vejo em nenhum grupo de Ateus discutindo uma forma de acabar com a Farda da história já que isso faz mal a todos que aqui habitam esse lugar.

Fico imaginando como mudaria as coisas se isso acabase.
Os líderes perderiam muito de seus poderes de manipulação, esse povo falso ficariam apavorados.
Com uma mentira tão bem contada para o povinho fica difícil abrir os olhos deles pois isso é colocado na cabeça deles desde bebezinho e vai até a terceira idade e fazem questão de negar qualquer hipótese contraria a isso.

Seriam então a forma de acabar com isso substituindo isso por algo confortavel a eles que acabando com essa farsa e então quando desvincular essa coisa e vincular a outra abrir os olhos deles.
Porque apenas mostrar que não existe Deus nenhum isso não entra na mente deles pois ficariam sem chão, sem respostas, sem conforto e a segurança que isso lhe dar então a forma seria substituir isso por outra coisa que lhe dasse segurança mental."





Minha resposta:


"Caro Eduardo, eu tentei ser conivente com as suas afirmações. Mas se lermos as suas afirmações com atenção, vemos que são de uma leviandade, pueridade e limitação histórica incomensurável. É evidente que em um post de Orkut não conseguirei esgotar o assunto e tampouco abarcar todo o contexto histórico, político, social e religioso que se faria necessário para demonstrar que suas declarações não têm qualquer significado à luz histórica, sendo fruto legítimo de ignorância histórica. Farei o possível para tentar ser breve. Comecemos.
“O cristianismo é o mal da humanidade e responsável pelas piores crueldades”
“Humanidade”, é um termo geral e vago. O que você quer significar com isso? Dizer que o cristianismo é a pior religião desde a origem da humanidade, ou da civilização ocidental? Isso demonstra o inevitável: o seu despreparo intelectual e ausência de eloqüência, ou seja, clareza para delimitar os conceitos que emprega. Se for o primeiro caso, tratar-se-ia de um absurdo tão grande que não valeria a tentar descrever. Quantas religiões cometiam aquilo que hoje chamamos de “atrocidades” (axiologicamente relativo aos valores que defendemos hoje) inimagináveis muito antes do surgimento do cristianismo ortodoxo no Império? Os astecas arrancavam os corações de crianças; as milhares e milhares de seitas e religiões que faziam outras espécies de sacrifícios humanos abomináveis; os persas crucificavam e esfolavam as pessoas vivas; os assírios decapitavam e cometiam assassínios dos mais bárbaros; e os infanticídios de várias tribos africanas relacionados à culto religioso documentados pelos antropólogos; e a dizimação de povos inteiros, escravidão e venda de escravos que os muçulmanos faziam; e o canibalismo de cunho religioso, ainda existente em várias tribos indígenas e na África; e a escravidão, que o cristianismo primitivo e em grande parte de sua história combatera, mas que era lugar comum nas religiões do Império e orientais, etc. Veja que, de memória, citei apenas algumas coisas indesejáveis associadas com a religiosidade de vários povos diferentes. Poderia prosseguir indefinidamente, mas teria de escrever um livro para tal. Sua afirmação, portanto, não faz qualquer sentido nesse contexto. Some todas as atrocidades cometidas por todas as seitas religiosas desde o surgimento do Homo sapiens e o que o cristianismo fizera de mal não será de nenhum modo comparável, embora inaceitável.



Vide que você não especificou qual espécie de “mal” é o cristianismo, eu citei apenas algumas barbáries históricas associadas com aquilo que os antropólogos em geral consideram a “religião” de vários povos. Se eu for pensar em outros males que infligiu a “humanidade”, então não haveria espaço suficiente. Lembremos que, no século XX, certos ditadores ateus e engenheiros sociais incréus mataram mais que todos os religiosos somados juntos ao longo da história: os comunistas, ateus, conseguiram matar mais do que duas guerras mundiais juntas (mais de 100 milhões de pessoas). Não mataram, de certo modo, “em nome do ateísmo”, obviamente. Nenhum ateu é cúmplice disso. Relembro que, religioso ou não, isso não é garantia de ser digno de um ser humano. De facto, o cristianismo trouxe sofrimento e dor à humanidade: foi intolerante em várias ocasiões, queimou pessoas vivas, foi conivente com extermínios e outros males. Mas o cristianismo, em uma visão geral da história, não soma parcela significativa para colocá-lo como “o maior dos males”. Só sendo muito ingênuo em crer que o fim do cristianismo traria “paz” e tudo se resolveria: trata-se de um absurdo que tem de ser defenestrado. E o Islã, meu caro amigo? Como fica? E os fanáticos de outras religiões que tomariam terreno? Queira você ou não, existem valores desejáveis no cristianismo tanto como em outras religiões. Relembro-o de que ninguém precisa ser cristão para agir de modo que se considere moralmente aceitável (somos ateus). Seu ódio é em grande parte injustificável: não resiste a um argumento histórico sólido. Puro castelo de areias. Agora vamos analisar algumas proposições suas.

Hitler:Ele também queria acabar com quem pensasse diferente


“Se acham os donos da verdade”. Aqui você diz que os cristãos acreditam ter o monopólio da verdade. E vejamos o que você diz depois: “Com uma mentira tão bem contada”, “Manipulação...”, “Vamos acabar com a farsa cristã”, “Não existe nenhum Deus”, etc. Primeiro você diz que são os cristãos que têm a verdade absoluta. Depois você se coloca na posição de ter a verdade: eles são iludidos e eu é que tenho a verdade. Para refutar isso é muito simples: a conclusão de se algo é verdadeiro ou falso deve vir no fim de um discurso, e não no começo. Tanto você como vários outros cristãos partem de certezas específicas para depois argumentar: você inverteu o modus operandi de qualquer argumentação honesta. Neste quesito, você não é diferente dos cristãos. Enquanto eles estão convictos da existência de Deus, você é convicto da inexistência sem apresentar qualquer argumento que justifique a sua assertativa. Ademais, crê (sem ter apresentado bons argumentos) que não há factualidade na história cristã sem prová-lo. Por lógica, há dois tipos de ateísmos: o ateísmo “forte” (crente e dogmático, que é o seu caso), e o ateísmo “fraco” (cético, que não nega, apenas conclui dadas as evidências). Você é tão crente como alguns cristãos, e tão fanático quanto eles. A Igreja condenou por muito tempo outras seitas concorrentes com a liturgia católica (Inquisição): se os cristãos tivessem todo o poder, com certeza teriam eliminado outras manifestações culturais. E você, pelo que posso interpretar, quer o mesmo: deseja varrer o cristianismo da face da Terra, o que é intolerância religiosa. Entre os dois extremos, não há diferença. Concluo, portanto, que você é tão fanático e dogmático quanto o pior tipo de cristão existente.


Façamos o seguinte, caro amigo. Quando você aprender a sustentar suas afirmações com argumentos fundamentados em um pouco de história legítima e primeiro partir da evidência para depois seguir com a conclusão, conversemos. Estude história e. Suas declarações são vagas, levianas e sem substância. Abraços, passar bem." 

4 comentários:

Luciano Henrique disse...

Achei muito interessante quando você citou os engenheiros sociais. Aliás, o neo ateísmo (o mesmo não posso dizer do teísmo ou ateísmo) é fruto de engenharia social. Excelente artigo.

Athena disse...

muito boa resposta :)! Gostei e subscrevo.

carnoc disse...

concordo em partes.
Essas outras religiões em nome de Deus faziam coisas muito crueis, o cristianismo fez tambem, matou pessoas que tinham credo diferente dos seus, cruelmente por sinal, impediu e impede até hoje o progresso, agora se acabar não será nenhum mal para as pessoas do mundo, tambem nenhum bem, somente será um regime politíco disfarçado de Deus no mundo

Ivani Medina disse...

Por falar em limitação histórica, entendo que o problema esteja exatamente aí. O acatamento do Novo Testamento nunca foi científico, mas uma licença ideológica. O cristianismo criou e colocou a sua autobiografia como parte da sua doutrina. Esperteza pura, pois quem reclamar pela história é visto como inimigo da fé. Acontece que a esmagadora maioria dos cristãos desconhece a história mundana do cristianismo. Dão como verdadeiras as afirmações acadêmicas comprometidas com a cultura dominante. Aquele estudante que não se alinhar não vai encontrar orientador para a sua monografia e, se acaso encontrar, será detonado pela banca. Como não deixo assunto no ar, deixarei dois links complementares a respeito das minhas afirmações.
Saudações.

http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/a-antiga-dec-ncia-crist
http://cafehistoria.ning.com/profiles/blogs/e-o-mundo-ocidental-quase-foi-judeu