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domingo, 31 de maio de 2015

O uso de plantas medicinais pode fazer mal?

O mastruz




Eliane Evanovich- mestra em Ciências Biológicas - Universidade Federal do Pará



As primeiras escrituras sobre o uso de plantas medicinais data de cerca de 3700 a.C da China. Relatos sumérios, egípcios, hindus e de populações pré-colombianas também são clássicos sobre o uso de extratos de plantas para diferentes fins. No Brasil, por contarmos com uma enorme diversidade botânica e origem multiética, o uso de plantas medicinais está diretamente atrelada à nossa cultura. Atualmente, os conhecimentos etnofarmacológicos extraídos de povos amazônicos por cientistas, principalmente estrangeiros, auxiliam na aquisição de informações necessárias para o desenvolvimento de novos medicamentos a partir de substâncias extraídas de plantas locais. Esses povos muitas vezes sabem qual planta deverá ser usada para tratar determinada moléstia e qual a dose aproximadamente necessária. Apesar de ser um conhecimento passado de geração a geração será que muitas dessas plantas não causariam mais problemas ao leigo que as usam do que soluções?

Quando preparo um determinado chá de planta X para tratar um problema Y, sei mesmo qual a quantidade apropriada para 1 litro de água?

Sabemos a veracidade da popular frase de Paracelso: "A diferença entre um remédio e um veneno está só na dosagem” quando lemos as bulas de medicamentos e percebemos os efeitos colaterais, interações medicamentosas e as consequências de uma superdosagem. Mas, remédios extraídos da natureza seriam capazes de causar tais reações? Ah, sempre ouvimos dizer que é tudo natural é bom, e se bem não fizer, mal não poderá causar! Será?

Uma importante informação que os cientistas que fazem pesquisas de etnofarmacologia sabem, mas poucos povos da floresta entrevistados conhecem, é que uma mesma planta pode apresentar vários princípios ativos - alguns com efeito medicinal e outros tóxicos (muitas vezes letal). Desta forma, ao usar um chá de uma planta como anestésico poderei ao mesmo tempo consumir outra substância que mata minhas células hepáticas.

Afinal, para que a preocupação em escrever essa matéria?

A preocupação está em ver centenas de páginas no Brasil que estimulam o uso de plantas medicinais comprovadamente tóxicas. Algumas dessas até sugerem o uso para tratamento do "Câncer" (como se este fosse somente uma doença e não várias com diferentes causas). Não podemos afirmar que certa planta de fato não possui o princípio ativo que irá auxiliar na busca e desenvolvimento de tratamentos para conter o crescimento de células tumorais. Seria pretensão afirmar isso, mas também é um ato pretensioso e perigoso dizer que certo tratamento natural terá um poder curativo sobre um problema letal como câncer (nesse momento generalizo câncer como crescimento descontrolado de um determinado tipo celular).

Alguns exemplos do uso indiscriminado e danoso de plantas é o confrei (Symphytum officinale) - planta usada normalmente como cicatrizante (para uso externo) ou em forma de chá. O uso dessa planta exótica extremamente usada pelo mundo é responsável por algumas mortes por hepatite tóxica, sendo, portanto o uso caseiro condenado pela Organização Mundial de Saúde nas últimas décadas (MAGNABOSCO et al., 1997; TANIGUCHI et al., 2002). Apesar dessa proibição, em pesquisas no google, ainda encontramos inúmeras páginas nacionais de medicina alternativa que indicam o uso desta planta. Fígados e rins em geral são os órgãos mais afetados pelo uso indiscriminado de plantas medicinais por causa da presença de substâncias como safrol, ligninas, alcalóides pirrolizidínicos (também com potencial carcinogênico), terpenos e saponinas.

O mastruz (Chenopodium ambrosioides), extremamente disseminado em nossa cultura no tratamento humano e de animais domésticos como antifúngico, antibactericida, anti-helmíntico, cicatrizante, anestésico, etc., com múltiplas funções na "medicina popular" dispõe de doze princípios ativos que servem para muitos tratamentos, incluindo os citados acima, mas também apresenta terpenos e saponinas, substâncias não isoladas no uso comum, sendo os efeitos tóxicos inevitáveis  1.

A trombeteira (Brugmansia suaveolens), planta ornamental normalmente utilizada na forma de chá (das flores) ou cigarro para uso antiasmático, anticonvulsional, cardiotônico e narcótico, apresenta dezenas de substâncias ativas, dentre elas alucinógenos que causam uma lista gigantesca de efeitos colaterais, como náuseas, vômito, mudança comportamental, retenção urinária, redução dos reflexos, hipotermia, alteração do controle hidroeletrolítico, etc. Portanto, os efeitos neurológicos da planta são claros. E antes que alguém se empolgue com seu uso experimental, trabalhos com ratos revelaram efeito neurotóxico e promotor de estresse oxidativo, afetando várias regiões cerebrais que coordenam a capacidade cognitiva (Dickel et al., 2010).

A trombeteira


Arruda (Ruta graveolens), planta aromática usada desde a Grécia antiga para diferentes males inclusive o "mau-olhado" e energia negativa é comumente usado como anestésica, anti-helmíntica, antibactericida, calmante, etc. Os perigos de seu uso são tão evidentes que mesmos as páginas e livros que a indicam para tratamento de doenças pedem prudência em seu uso devido os inúmeros efeitos colaterais como hemorragias uterinas, aborto e até morte. Segundo Ritter et al. (2002), a arruda apresenta alcaloides que estimulam as contrações uterinas resultando em aborto. De Freitas et al. (2005) observou a morte de fetos de camundongos após o tratamento de fêmeas grávidas com a arruda, assim, estes autores sugerem evitar o uso de qualquer planta medicinal durante a gestação. A presença de substâncias fotossensíveis também causa queimaduras e lesões cutâneas. Portanto, o uso desta planta precisa de cautela.

Outras plantas que também possuem afeito abortivo e potencial efeito teratogênico são o boldo-do-chile (Peumus boldus Molina), falso boldo (Plectranthus barbatus Andr. Benth), Buchinha-do-norte ou cabacinha (Luffa operculata L. Cogn.) e Losna (Artemisia absinthium L.) (Costa et al., 2004). Esses são apenas alguns exemplos, muitos outros poderiam ser citados.

Na França durante a década de 90 vários casos de hepatite foram relatados devido ao uso de cápsulas de têucrio (Teucrium chamaedrys) - medicamente usado normalmente para emagrecer. Outros casos similares foram observados no norte do Brasil decorrentes do uso de sacaca (Croton cajucara Benth), planta usada no tratamento de emagrecimento e males intestinais2.

Quando fazemos pesquisas mais minuciosas verificamos que intoxicações por plantas são comuns, principalmente por superdosagem ou metabolização daquelas substâncias indesejadas citadas acima (não isoladas nos preparos caseiros). E por isso poderia discorrer durante mais linhas sobre a toxicidade já comprovada de várias plantas medicinais em humanos, animais domésticos ou cobaias, mas não é esse o meu objetivo. Apenas peço cautela e tento alertar para os inúmeros riscos associados a um hábito tão comum em nossa cultura, mas que pode ser letal.



Referências Bibliográficas

Costa KCS, Bezerra SB, Norte, CM, et al. Medicinal plants with teratogenic potential: current considerations. Braz. J. Pharm. Sci. vol.48 no.3 São Paulo July/Sept. 2012.

De Freitas, TG.; Augusto, P.; Montanari, T. Effect of Ruta graveolens L. on pregnant mice. Contraception, v.71, n.1, p.74-77, 2005.

Dickel et al. Efeitos comportamentais e neurotóxicos do extrato aquoso de Brugmansia suaveolens em ratos. Rev. Bras. Farm., 91(4): 189-99. 2010.

Magnabosco M.; Rivera m. L.; Prolla i. R.; de Verney y. M.; de Mello e. S. Hepatic veno-oclusive disease: report of case, Journal of Pediatrics, Nova York, v. 73, n. 2, p. 115-118, 1997.

Taniguchi, A. N. R.; Ccélia, Vieira, S. M.; Ferreira, C. T.; Zaffonatto et al. Relato de caso – Doença veno-oclusiva induzida por chá de Senecio brasiliensis. 2002.



Link Consultado:

1 http://www.ansci.cornell.edu/plants/medicinal/epazote.html



2 http://www1.unimed.com.br/nacional/bom_dia/saude_destaque.asp?nt=13337


Comentário:

Excelente artigo, que serve para alertar quem confia cegamente em páginas do Facebook como "Cura  pela natureza" e dá credibilidade a sites que garantem que determinados chás curam várias doenças. Consulte sempre um médico antes de acreditar em curas naturais, indicadas na internet.

Tossir durante um infarto NÃO SALVA ninguém







Boato – Sabe como sobreviver a um ataque cardíaco? É só tossir repetidamente e com força pode salvar vida durante infarto.

A “TV Revolta” foi a página do Facebook, no Brasil com maior crescimento durante a semana do dia 9 até 16 de maio. O sucesso da página pode ser atribuído a alguns motivos como entrar constantemente em assuntos polêmicos e discursos políticos contra o Governo Federal. É o que diz o blog Pragmatismo Político.






Com uma rápida passagem pela página, é possível encontrar mensagens de caráter, no mínimo, questionável. Seria verdade todas as informações que a TV Revolta divulga? Não vamos falar de política nesta postagem, mas sim de outra informação.







Em postagem do dia 14 de março, a página divulga uma dica para salvar vidas durante um possível infarto. De acordo com a imagem, se você estiver sozinho, basta tossir repetidamente a cada dois segundo sem parar. Segundo a TV Revolta, os movimentos realizados ao tossir bombeiam sangue para o coração, assim o sangue continua circulando. Confira o texto na íntegra abaixo:





Como sobreviver a um infarto se você está sozinho! Compartilhe com os seus amigos!

“Os cardiologistas dizem que se todos que leem isso compartilharem com outras 10 pessoas, você pode ter certeza que estará salvando uma vida.. COMPARTILHE! SALVE UMA VIDA! Muitas pessoas estão sozinhas quando infartam. Sem ajuda, a pessoa cujo coração está batendo irregularmente começa a sentir-se fraca, e tem apenas 10 segundos antes de desmaiar. Entretanto, estas vítimas podem se ajudar tossindo repetidamente com bastante força! Você deve respirar bem fundo antes de cada tossida e a tosse deve ser forte e prolongada, vindo do fundo do peito. Uma inspiração e uma tosse devem ser repetidas a cada 2 segundos sem parar, até que chegue ajuda, ou que você sinta que o coração está batendo normalmente. As inspirações profundas trazem oxigênio para os pulmões e os movimentos de tossir bombeiam o coração e mantém o sangue circulando. Essa pressão no coração também faz com que ele volte a bater normalmente e dessa maneira a vítima tem tempo de chegar à um hospital. Compartilhe isso com o maior número de pessoas! Você pode estar salvando suas vidas!”




Esse tipo de boato é aquele clássico caso de lenda sobre saúde muito dificilmente de ser comprovada empiricamente. Afinal, ela só pode ser testada se você está sofrendo um ataque cardíaco. Mas saiba que a história não passa de um antigo boato que circula online.

A “técnica” de tossir para evitar um infarto é um antigo boato que circula na Internet. Ele surgiu por meio de um e-mail com o nome “Técnica de ressuscitação” ou “ressuscitation technique”. Porém, a teoria nunca foi comprovada, nem pela American Heart Association.




O site Mendedhearts.org afirma que é apenas um rumor contagioso, que não evitará um infarto. Ou seja, conforme reforçam diversos sites de confiança, tossir não evita infartos. Deixar de compartilhar informações ruins, assim sim, pode evitar.

sábado, 30 de maio de 2015

Brincadeira do espírito Charlie é marketing do filme ‘A Forca’



A "brincadeira do espírito Charlie", que está na moda no Facebook e no twitter (com direito a um "twitaço" de fanáticos religiosos na referida rede social) faz parte de uma ação para o lançamento do filme A Forca. Nele, curiosamente, existe um espírito de um menino chamado Charlie, que morreu enforcado em um acidente durante uma peça de teatro estudantil, assombra os estudantes de uma escola. O trailer você pode ver aqui:


Every school has its spirit. New trailer for #TheGallows, in theaters July 10th. https://t.co/UqYK4O4eah

— The Gallows (@TheGallowsMovie) May 22, 2015





O filme é uma produção de Jason Blum, o mesmo de Atividade Paranormal (2007) e Sobrenatural (2010), e deve estrear no Brasil no começo de julho.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Consumo de maconha junto com álcool eleva quantidade de THC no sangue, diz estudo



Poucas pesquisas se debruçam sobre a reação do nosso organismo ao consumo simultâneo de álcool e maconha, apesar da frequência com que muitas pessoas combinam ambas as drogas. Mas um novo estudo da Associação Americana para a Química Clínica (AACC, na sigla em inglês) mostra que essa mistura faz com que a quantidade de tetrahidrocanabinol (THC), a substância psicoativa da maconha, no sangue do indivíduo seja muito mais elevada do que quando ele fuma sem beber.




O objetivo da pesquisa foi mostrar os perigos gerados pelo consumo das duas drogas por uma pessoa antes de dirigir. Boa parte dos motoristas que se envolvem em acidentes de carro nos EUA beberam álcool e fumaram maconha antes de entrar no carro.

Na pesquisa, 19 pessoas foram examinadas enquanto ingeriam álcool, ou um placebo, em doses pequenas dez minutos antes de inalar canabis vaporizada em doses pequenas ou grandes. Quando houve o consumo de álcool, a concentração do THC no sangue desse participação se mostrou elevada. Assim, o risco de essa pessoa se envolver em um acidente de carro é muito maior do que se ela usar apenas uma das drogas.

O GLOBO

Perguntas e respostas sobre o fim da reeleição para cargos executivos



Leia a matéria do Jornal O GLOBO:



Já era tarde da noite quando o plenário da Câmara aprovou ontem, quarta-feira, o fim da releição para cargos executivos. Todos os partidos orientaram a favor da medida e a emenda foi aprovada por 452 voto sim e apenas 19 votos não, a mais ampla vantagem até o momento na votação da reforma política. O GLOBO selecionou algumas perguntas e respostas para tirar as dúvidas do leitor sobre como ficarão os novos mandatos a partir de 2016, caso a proposta seja aprovada no Congresso Nacional.

O que determina a regra aprovada pela Câmara?

Ela proíbe a reeleição do presidente da República, governadores e prefeitos.

A regra já está valendo?

Não. Para que isso aconteça, ela precisa ser aprovada em segundo turno pelos deputados e a ser analisada, também em dois turnos, pelos senadores. A tramitação é mais rigorosa por se tratar de uma regra que muda a Constituição.

Se for aprovada, os atuais governantes já estarão proibidos de concorrer novamente?

Não. A regra prevê um período de transição. Prefeitos eleitos em 2012 e governadores eleitos em 2014 poderiam ser reconduzidos, como, por exemplo, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

E Dilma Rousseff?

Como ela se reelegeu, já não poderia se candidatar novamente.

Os vice-governadores e vice-prefeitos vão poder disputar o posto novamente no cargo?

Quem ocupar o cargo nos seis meses antes do pleito estará inelegível. Esse mecanismo é comum e foi usado, por exemplo, na eleição do ano passado pelo governador eleito Luiz Fernando Pezão, que era vice de Sérgio Cabral e assumiu o cargo seis meses antes do pleito.

O tempo de mandato muda?

Os apoiadores do fim da reeleição, em geral, defendem que a mudança venha acompanhada da extensão dos mandatos de 4 para 5 anos. Mas essa mudança também precisa ser aprovada no pacote da reforma política que está tramitando.

Quais são os benefícios da regra?

Seus defensores acreditam que ela gera alternância de poder, impedindo que partidos se perpetuem por muito tempo no comando. Também creem que a administração deixa ser pautada pensando exclusivamente na recondução ao cargo.

E os contras?

Em alguns casos, pode gerar a descontinuidade de políticas públicas, especialmente em projetos que dependem de longo prazo para surtir efeito, como políticas de educação, por exemplo.

Algum partido se beneficia mais da mudança?

Difícil dizer. Primeiro, porque a medida só valeria, no mínimo, a partir de 2020. Segundo, porque a regra nunca foi testada após a redemocratização. Seria assim ao fim do mandato de Fernando Collor, mas ele sofreu impeachment.

Por que a aprovação da regra teve placar tão elástico?



Ela foi encampada pelos principais partidos, por lógicas diferentes. O PSDB, que instituiu a reeleição, já havia defendido o seu fim na campanha presidencial de Aécio Neves. O PT, por sua vez, não tinha motivação para votar contra Dilma - que já se reelegeu e, ainda que estivesse em primeiro mandato, a regra não se aplicaria a ela. Mas os partidos ainda vão analisar possíveis cenários e podem mudar de posição.



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Bônus:


Conheça a história da compra de votos a favor da emenda da reeleição, no governo Fernando Henrique Cardoso. Clique aqui.

domingo, 24 de maio de 2015

Resenha do filme Mad Max - Fury Road (2015)



É raro ver nos dias de hoje onde vários personagens assumam o protagonismo em harmonia, sem sobressaltos. Claro que há o principal, Max, mas George Miller acertou na mão tanto no elenco quanto nos personagens, em Mad Max - Fury Road. É bom ressaltar que há pouca computação gráfica e quase tudo é feito " na raça". Os carros são reais, assim como quase todas as cenas de ação.

Repetindo mais o clima do segundo filme da franquia (Mad Max 2: A Caçada Continua), novos elementos são introduzidos e até uma polêmica envolvendo o feminismo foi levantada  - explico mais abaixo.




Em vez de um mundo apocalíptico pós-Guerra Fria, temos um ambiente hostil causado pela falta d´água, mudanças climáticas e problemas causados pela escassez de petróleo.



A trama se desenvolve quando Max (Tom Hardy) é capturado para servir de "bolsa de sangue" para um War Boy ("garoto guerreiro", em uma tradução simples) de Immortan Joe, na Cidadela, e passa um bom trecho da história deixando o espectador em agonia, o qual anseia-o por vê-lo logo livre e lutando contra os que pegaram-no.

Tudo ocorre em um mundo onde miseráveis se estapeiam por água, dependendo da generosidade deste antagonista. Já começa aí uma boa metáfora sobre o que ocorre no capitalismo moderno. Pobres dependendo da bondade do que é concentrado na mão dos ricos.




Quando ele consegue escapar, acaba por encontrar a Imperatriz Furiosa (Charlize Theron), que tenta voltar para sua terra-natal com um dos veículos da Cidadela. Vale dizer que esse protagonismo feminino e feminista, onde mulheres lutal de igual para igual com os homens, irritou vários machista na internet, gerando muitos debates. Certamente muitos homens, diria eu inseguros, se sentiram inconscientemente ameaçados com o que aparece. E, mais para a frente na história, outra "gangue" de mulheres fortes e duronas aparecerá.


Tudo no filme é mercadoria: pessoas que são bolsas-vivas de sangue, mulheres que servem apenas para gerar filhos, água, gasolina e até leite materno, que serve de alimento para os guardiões da cidadela (!).


Não falarei muito sobre a trama, que têm várias reviravoltas e prefiro discorrer sobre a fotografia e a música. As imgens em Cinemascope, capturando grandes paisagens do deserto australiano e os veículos insanos feitos com carcaças de carros antigos são espetaculares, assim como a trilha sonora. A máquina de guerra da cidadela precisa de uma trilha-sonora constante e para isto, temos duas coisas fantásticas: Uma bateria de tambores constantes e rompantes, assim como um guitarrista-insano metaleiro "do mal" tocando uma guitarra que solta fogo, com acordes em tons bem graves. E o mais interessante: O guitarrista do filme é realmente um músico (Sean Hape, mais conhecido como iOTA e um músico de rock popular na Austrália, onde o filme foi gravado) e estava tocando de verdade, nas gravações!
Leia aqui uma entrevista como isto foi possível.



O maior mérito do diretor é aliar todos estes elementos sem sobressaltos, em um equilíbrio raro nos dias de hoje.  Diria que os diálogos em si não são tão extensos, mas são marcantes e o que realmente induz o espectador a prestar atenção em toda a película são as sequências insanas no deserto, com muitas explosões e batalhas nos veículos bisonhamente montados para o filme.
Uma sequência deve sair para este  "reboot" de Mad Max e sem dúvidas será-bem vindo.
Talvez a geração atual de cinéfilos não tenha assistido à trilogia original, mas fica aqui a dica. 

Nota: 10

Trailer:








Curiosidade: Trechos do "Making of" do filme:

domingo, 17 de maio de 2015

Resenha do filme "Chappie"

Terceiro longa-metragem do diretor sul-africano Neil Blomkamp, "Chappie" lida com várias questões que teóricos futurólogos, físicos  e cientistas da computação lidam atualmente: o que vai acontecer quanto as máquinas adquirirem consciência? Precisarão aprender as coisas como crianças? Questionarão seus criadores? É possível transferir uma consciência para uma máquina?
A película sem dúvidas bebe em várias fontes do gênero, como Robocop (os subúrbios que lembram Detroit) e "Um robô em curto circuito" (justamente na questão do robô inteligente com dilemas).


Em vez dos problemas sociais envolvendo alienígenas, como em "Distrito 9", Blomkamp agora lida com a criminalidade de Joanesburgo e como a  polícia local utiliza robôs para combatê-lo. É aí que surge o protagonista. Dev Patel é o cientista da computação Deon e ele aproveita que um desses robôs utilizados pela polícia apresenta defeito para implantar a inteligência artificial que ele acaba de criar em casa, após muito tempo. Mesmo sem autorização de sua chefe Michelle Bradley (Sigourney Weaver), ele vai atrás desse objetivo.

Seus planos não ocorrem exatamente como ele previa, quando uma gangue de bandidos da cidade sequestra o cientista (liderados por  "Ninja" -Watkin Tudor Jones- e Yolan Visser, interpretando versões malvadas deles mesmos) , quando ele ia para casa com o robô. Estes querem que Patel transforme Chappie em uma máquina do cirme. É interessante notar que não é esta gangue que faz o papel de antagonista, mas sim Vincent (Hugh Jackman), também engenheiro de computação da mesma firma onde trabalha Patel, que tem um projeto paralelo de robôs para a polícia chamado "O Alce". Este tuddo faz para sabotar o simpático robô-protagonista com a sua máquina, que lembra muito o robô-inimigo de Robocop, ED-209.


É importante dizer que Chappie no princípio é uma criança, que precisa explorar o mundo para adquirir conhecimento. Aos poucos, meio assustado, começa a questionar o universo dos humanos e porque eles mentem tanto. Com muitas referências ao filme "Um robô em curto-circuito 2", ele começa a ficar rebelde, falando várias gírias de gangues e tomando atitudes bastante radicais para ajudar a gangue que vai tomando conta dele. É bom ressaltar que o responsável pelos movimentos magistrais do protagonista ficam a cargo do ator Sharlto Coppley.



É interessante saber que Chappie na verdade nasceu de um filme de curta-metragem de Blomkamp, chamado "Tetra Vaal" (que agora é o nome da empresa que produz os robôs policiais) , de 2004:








Como todas essas referências e ingredientes, Chappie é um filme que não só mostra os possíveis desdobramentos do futuro da computação, como o fato de que sem dúvidas somos produtos do meio em que vivemos.


Trailer:


segunda-feira, 11 de maio de 2015

Dilma, Lula e o regabofe do Dr. Kalil

Por Renato Rovaí



Dilma e Lula foram no sábado ao casamento do médico Roberto Kalil. Ambos eram padrinhos do noivo. Ao chegar a presidenta teve de enfrentar um manifestação de meia dúzia de paneleiros com cara de mal-amados que moram ali nas imediações do Itaim, bairro do buffet Leopoldo, um dos mais chiques da cidade.

Nada de mais. Nada de menos. Presidentes da República e ex-presidentes têm o direito de ser padrinhos e madrinhas de casamentos. E necessariamente esses amigos não têm de ser pobres.

Podem ser muito ricos, como o médico em questão parece ser.

Mas neste caso há uma outra questão em jogo. O momento do país não é nem dos melhores e nem sequer razoável. Vive-se uma crise política de grandes proporções abatendo o governo e o partido de Lula e Dilma.

Num momento como esse não se deve agir apenas de maneira racional. E tampouco deve-se fazer as coisas que parecem não ser erradas.

Nessas horas é preciso estar atento aos significados e símbolos.

O casamento de Roberto Kalil foi um evento típico das cortes. Lá estavam presentes representantes de toda a elite econômica e política do país.

Mais do que isso, foi um evento realizado com pompas de uma produção hollywodiana.

E num momento onde o discurso do governo é de ajustes e a prática é de corte de direitos, não é hora para a presidenta do país ir numa badalação dessas. Muito menos para o ex-presidente Lula, que é o principal patrimônio popular do PT.

Era hora de dizer ao “companheiro” Kalil que infelizmente seria um erro ir na sua festa porque neste momento é preciso estar mais próximo dos companheiros de sempre: os acampados do MST, os sindicalistas, os catadores, as mães trabalhadoras, os professores em luta, os petistas que estão sendo perseguidos, os jovens que são massacrados pela polícia nas periferias etc.

Era hora de mais seriedade.

Não se trata de sectarismo barato. Nem de moralismo babaca. A questão é que ao serem fotografados numa festa que é um acinte para maior parte dos brasileiros, Lula e Dilma acabam sendo entendidos como parte desta elite.

E perdem muito mais do que ganham.

E não só eles.

Aqueles que acham que eles são diferentes dessa elite também perdem muito.