Aos domingos, quem chega à Paróquia São Paulo Apóstolo, na capital paulista, tem a sensação de ter voltado no tempo. No altar, o padre Aldo está de costas para os fiéis, em direção ao Oriente, e o evangelho é todo em latim. A missa celebrada na forma extraordinária - ou “antiga do Rito Romano” - foi pedido de um grupo de famílias, que queria reconstituir a tradição de séculos atrás. Com o consentimento do Vaticano e a orientação do bispo, a missa 'à moda antiga' foi introduzida no calendário da igreja. Hoje, uma vez por semana, a celebração reúne católicos da comunidade e até religiosos de outros municípios.
Antes de ser designado para a função, padre Aldo reservou um ano para estudos. “Além da sequência do ritual, eu precisava saber o que estava pregando e não apenas decorar as passagens”, conta o clérigo. Outra diferença são as vestimentas. Por cima da batina preta, há a túnica branca chamada de alva e a estola, que nada mais é do que uma faixa que desce do pescoço e diferencia o padre no altar. Já aos bispos, cabe ainda a casula, uma espécie de capa ou poncho, geralmente prateada ou dourada. Durante as celebrações, eles mantêm ainda no braço esquerdo o manípulo, uma pequena faixa de seda.
“Em 2007, o Papa Bento XVI autorizou a celebração de missas em latim aos fiéis que solicitassem. A prática tinha sido abandonada pela Igreja depois do Concílio Vaticano II. Para muitos, a volta representaria uma tentativa do pontífice em reaproximar os católicos insatisfeitos com as reformulações propostas pelo decreto”, explica o pároco.
Se essas missas bem tradicionais e que fazem você se sentir em alguma catedral da Idade Média surgiram eventualmente como reação às decisões do Concílio Vaticano II (1962-1965), foram essas mesmas resoluções que abriram espaço para missas na língua nacional e mais próximas das culturas locais. E aí, as opções são as mais variadas: gauchesca, afro, árabe e até sertaneja.
“Na verdade, a eucaristia e os sacramentos são os mesmos. Todas essas celebrações fazem parte do que se convencionou chamar ritos litúrgicos ocidentais da Igreja Católica. Apenas foram feitas adaptações, de acordo com as peculiaridades de cada região ou grupo” explica o cônego Antônio Aparecido Pereira, da Arquidiocese de São Paulo.
Um bom exemplo dessa aproximação da religião com a cultura regional são as cerimônias celebradas no sul do Brasil. Nos Centros de Tradição Gaúcha (os CTGs), é comum, em datas comemorativas como a Semana Farroupilha, utilizar símbolos gauchescos durante os cultos. Cuia de chimarrão, espeto de churrasco e até lampiões ornamentam o altar. Os cânticos também são apresentados no ritmo dos violeiros, e no quesito trajes o que não faltam são as bombachas e botinas.
Idealizada pelo padre Paulo Murab Aripe, antes mesmo das resoluções do Concílio, o estilo ganhou adeptos pelo estado afora. “Há sete anos introduzimos a ‘missa crioula’ às celebrações do centro e, a cada vez, um novo elemento é apresentado. Certo dia, por exemplo, o padre dispensou o sermão e pediu para algum voluntário declamar o texto de um poeta da região”, relembra Adriano Rizzi, responsável pelo CGT Capitão Ribeiro, do município de Capitão, no interior do Rio Grande do Sul. Aliás, o ano novo por lá começou com a celebração de mais uma missa. Às dez da manhã, do dia 1 de janeiro, o galpão já estava lotado de fiéis que ouviram atentamente a pregação do padre Silvério Schneiders e receberam a benção coletiva.
Longe dali, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, outro grupo chama atenção. Nas missas de Frei Athaylton Jorge Monteiro Belo, mais conhecido como frei Tatá, é o atabaque que dá o ritmo da celebração. Muitas vezes associado à umbanda e ao candomblé, o instrumento de percussão é ponto central da missa na Paróquia de São João Batista. Além das cores vibrantes e da música animada, características mais marcantes da missa afro, o momento do ofertório também é muito diferente. Ao som de batidas africanas, as mulheres dançam com cestas de frutas, legumes e pães, que são divididas por todos os fiéis no fim do ritual.
“A missa afro ganhou força no Brasil na preparação da campanha da fraternidade sobre o sobre o negro, em 1988 [Centenário da Abolição da Escravatura]. Quando vim pra cá em 1997, ela já havia sido consolidada por frei David Raimundo dos Santos, da Educafro, que envolveu padres, religiosos e leigos da América Latina e Caribe, com alguns teólogos ligados à teologia da libertação”, explica frei Tatá. Embora o Concílio Vaticano tenha valorizado a cultura negra, a liturgia segue rigorosamente o rito prescrito por Roma. “A diferença que sinto está na vibração das pessoas. Parece que todos falam a mesma língua. A maneira como a proposta é acolhida na oração, nos cantos. É como se eles dissessem: estou na minha casa”, acrescenta o frei.
Em casa, também se sentem os imigrantes de língua árabe que procuram a Eparquia Nossa Senhora do Paraíso, em São Paulo. Uma das igrejas greco-católicas melquitas espalhadas pelo país, a paróquia costuma ser bastante frequentada por descendentes de sírios e libaneses da cidade. O rito melquita preserva uma estrutura muito parecida com o rito da Igreja Católica Latina Romana (primeiro a liturgia e depois a oferenda). Assim como os maronitas – com rituais também em árabe e um número de seguidores ainda maior no Brasil - ele remonta aos rituais antigos, da época de Constantinopla e foi elaborado por São João Crisóstomo.
“O grego era a língua original, mas desde o Concílio Vaticano II cada igreja usa a língua própria do país em que está. Na Nossa Senhora do Paraíso, como temos uma comunidade árabe, fazemos a missa em grego, árabe e português duas vezes por semana."
Para acompanhar a missa, não há um folheto para seguir as partes em árabe e grego. O que há é um telão na igreja, com toda a transcrição da cerimônia feita pelo padre. Uma diferença marcante é o sinal da cruz feito de maneira invertida: os dedos tocam os ombros da direita pra esquerda. Como em todas as missas, o sermão é sempre em português. No caso da celebração da Nossa Senhora do Paraíso, a leitura do Evangelho é feita em árabe e português e as partes responsoriais, nas quais os fiéis respondem às interlocuções do sacerdote, são feitas por um coral, em grego.
"A missa é mantida assim por tradição, porque os imigrantes, especialmente os mais velhos, gostam de assistir a missa na língua que aprenderam quando criança, sentem-se mais próximos. Também aparecem curiosos e fiéis de outras paróquias, que acham esse tipo de ritual interessante", emenda o padre sírio.
IG
Comentário do Aurelio:
A igreja católica faz isto porque está desesperada, atrás de fiéis e mais dinheiro dos dízimos e o que os fiéis dão nas missas. Como vêm cada vez mais perdendo suas "ovelhas", apelam para qualquer coisa.
A igreja católica faz isto porque está desesperada, atrás de fiéis e mais dinheiro dos dízimos e o que os fiéis dão nas missas. Como vêm cada vez mais perdendo suas "ovelhas", apelam para qualquer coisa.
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