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domingo, 17 de abril de 2011

Diário de um ecochato


Escritor encara 4 dias de "ecologista radical" e conta que se sentiu fraco com dieta vegana e que não topou fazer xixi só no banho

1º dia
A pior característica do nosso tempo é o desprezo pelo coletivo. Por isso aceitei o convite para passar três dias atento à quantidade de gás carbônico que emito.
Também vou obedecer à "dieta vegana". Não vou comer nem sequer ovo, leite ou derivados.
O uso indiscriminado de energia é um vilão. Cortei o elevador. Logo cedo, desci sete lances de escada para buscar as compras, mas o zelador não permitiu que eu voltasse carregando-as. "Quinze dias de casado e já endoidou". Ele colocou a caixa no elevador e interfonou para a minha mulher.
No banho, o chuveiro ligado é só para enxaguar. A pasta de dente vegana é péssima e um tubo de 50 g custa R$ 13! Passei a manhã sem acender as luzes. Estava um dia claro. Fiquei ansioso demais com tudo isso e não consegui trabalhar no meu livro novo.
No almoço, enchi o prato de verdura. Logo, um constrangimento: havia ovo no arroz e, diante do olhar horrorizado de uma senhora, devolvi as duas colheres.
Almocei 750 g de alimento exclusivamente vegetal, e não fiquei satisfeito. Passei a tarde irritado e com medo de falhar. Vim escrever em um café, mas mesmo os salgados vegetarianos levam leite na massa. Pedi uma salada de frutas e me acalmei.
Talvez minha fome seja imaginária. (Não me sinto bem dizendo isso.) Mas algo é muito claro: meu corpo está estranho. O medo e a ansiedade são físicos. Não quero enfraquecer.

2º dia
Preparei uma "feijoada vegetariana" para o almoço. Ficou um horror. Precisei de uma porção de banana com quinua e linhaça para me sentir alimentado. Emocionalmente, o dia foi bem pior que ontem. Começo a me perguntar se não há algum fetiche no vegetarianismo radical. Por que vocês precisam ser tão fortes?
Antes de começar meu "plano verde", fiz várias pesquisas e concluí que conseguiria cumpri-lo sem prejudicar minha vida.
Quanto à energia, tudo bem. Não uso mais o elevador do meu prédio. Além disso, não sei dirigir, tenho economizado muita energia e meu banho está sendo o mais racional possível.
Quero continuar dessa forma para sempre. Prometo que nunca mais vou usar o elevador.
A dieta vegana, por sua vez, está mexendo comigo. Estou irritado. Sem dizer de outros medos, que me envergonham: será que eu posso ficar burro?
Não são os indivíduos, mas as empresas os principais emissores de gás carbônico. A China é um dos grandes poluidores. Essa gente, além de censurar e prender os artistas, ainda está acabando com o planeta. Devíamos parar de comprar os produtos deles. É tudo de péssima qualidade mesmo...

3º dia
8h: Acordei às 3h com um forte enjôo e assustado com os pesadelos. Sonhei com um boi que, mesmo abatido, continuava gritando comigo.
Depois, fui atacado por uma horta. Estou me sentindo ridículo.
Às 5h, estava com uma fome terrível. Talvez alguém diga que tenho obedecido à dieta errada: coma mais grãos e verduras. Tenho me alimentado bastante, mas não me sinto forte. Eu queria muito comer um pedaço de bolo que está na geladeira.
De resto, tomei meu banho racional e usei a escada. Não acendi nenhuma lâmpada e fiz apenas uma xícara de café na máquina. Gastei um pouco mais de água porque me barbeei. Sinto-me fraco e nervoso.
22h40: O dia foi mais sossegado. Almocei em um restaurante vegetariano e passei a tarde comendo frutas. De noite, hambúrguer de soja e salada. Antes de dormir, leite de soja com melão.
Não vou ser vegano (nem vegetariano). Só não jogo o tal extrato de clarofila fora porque custou uma nota. Talvez eu coma menos carne. Sempre me senti culpado por causa do abate dos animais e essa experiência me fez pensar mais nisso.
Não acho cruel extrair leite de um animal para consumo. Por outro lado, com certeza não uso mais o elevador e meu consumo de água vai ser racional. Só não vou topar essa história de segurar a urina até a hora do banho, porque adoro ir para o chuveiro de manhã. Não vou passar, depois, 24 horas com vontade. Compenso esse pecadilho não dirigindo: não tenho um carro para lavar. Parece um bom negócio: um carro pelo xixi.
Estou me sentindo fraco e com o raciocínio embotado. Também tenho vergonha.

4º dia
Encerrei a "dieta vegana" no jantar, com um peixe. Não tive nenhum prazer especial. Meu pedido por um copo de leite puro causou estranhamento, mas, quando contei os motivos, o garçom se solidarizou.
Algo me surpreendeu: no final de tudo, engordei 300 g! Também fiz um orçamento: o veganismo é caro. Os preços médios dos restaurantes vegetarianos são altos.
Falando com mais calma, tudo isso reforça a hipótese de que há fetichismo nesse radicalismo todo. Uma pergunta secundária: até o ovo? E outra, crucial: que culpa de fato está sendo expiada aqui?
Não me resta dúvida de que preciso usar a energia de forma mais racional. Os chineses são péssimos, concordo. E é necessário discutir eticamente nossa relação com os animais. Mas o problema urgente é a fome.


Folha de SP

Esse radicalismo de não comer carne é totalmente desnecessário. Melhor economizar energia em alguns momentos do que ser fanático a ponto de não querer comer nenhum derivado animal, se quer ajudar o meio-ambiente.

2 comentários:

Anônimo disse...

prefiro agradar a gregos e troianos...
comer carne e vegatais....

vegans são um porre....

Unknown disse...

Certos comentários me cansam. E nem ouso dizer da reprodução deles.