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quarta-feira, 20 de abril de 2011

Como assistiremos TV em 2020



São Paulo — Uma TV LCD de 55 polegadas com resolução full HD é o máximo que você pode desejar? Pois saiba que, dentro de dez anos, a tecnologia que hoje enche nossos olhos vai parecer coisa de museu. Novos padrões de alta definição estão em fase final de desenvolvimento e devem chegar à sua sala na próxima década. A mudança deve passar por duas etapas. Na primeira fase, surgirão os televisores 4K (3 840 por 2 160 pixels), com uma resolução quatro vezes superior à do padrão atual. Depois será a vez do Super Hi-Vision (7 680 por 4 320 pixels), que permitirá a exibição de imagens com uma quantidade de pontos 16 vezes maior que a atual.

Se a alta definição já impressiona, o futuro promete um realismo inédito, com telas capazes de exibir detalhes imperceptíveis para o olho humano. O 4K, também chamado de Quad HD, está começando a ser usado nos cinemas, principalmente nos Estados Unidos. Ainda são poucas as salas capazes de exibir nesse formato, e também não há muitos filmes disponíveis. Por isso, a tecnologia só deve chegar às TVs daqui a alguns anos. Protótipos de televisores com esse tipo de resolução já foram mostrados nas feiras IFA, em Berlim, e Consumer Electronics Show (CES), em Las Vegas.

Estreia no cinema

O 4K surgiu em parte por uma necessidade da indústria cinematográfica. Com a chegada dos equipamentos digitais, os estúdios de Hollywood decidiram estabelecer normas para garantir uma boa qualidade da exibição. Em 2002, Disney, Fox, MGM, Universal, Paramount e Warner criaram a Digital Cinema Initiatives, entidade responsável por esse trabalho. Dois padrões foram escolhidos: o 2K (2 048 por 1 080 pixels), que hoje está na maioria das salas digitais de cinema, e o 4K, que começa lentamente a se expandir.

No Brasil, as primeiras salas 4K foram abertas em dezembro do ano passado pela rede UCI. Outros exibidores devem seguir por esse caminho. Além dos blockbusters e das animações infantis, o futebol será uma das vitrines do novo padrão. Alguns jogos da Copa de 2014 serão mostrados nesse formato em cinemas daqui e de outros países, por meio do projeto 2014K. A iniciativa, organizada pela Universidade Mackenzie e pelo instituto de pesquisas CPqD, prevê transmissões ao vivo, em 3D, das partidas do Brasil e das seleções de países parceiros do projeto.

Como a quantidade de dados de um streaming em 4K tridimensional é enorme, isso terá de ocorrer por meio de redes de altíssima velocidade, as redes fotônicas, construídas com cabos de fibra óptica e usadas atualmente apenas por universidades. Os requisitos técnicos limitam hoje o uso da tecnologia por emissoras de TV, mas as dificuldades devem ser superadas durante esta década. "A imagem é impressionante. Pelo histórico que conhecemos da imagem em movimento, é bem provável que o 4K chegue às TVs, mas pode ser que demore um pouco mais do que esperamos", diz Jane de Almeida, professora da Universidade Mackenzie e uma das coordenadoras do projeto 2014K.

Mais espaço no ar

Para ser transmitido pelo ar, o sinal 4K vai exigir uma adaptação no Sistema Brasileiro de TV Digital. "Na TV aberta, acabamos de fazer uma transição de analógico para digital. Vamos precisar de mais espectro para chegar a outra", diz Fernando Bittencourt, diretor da Central Globo de Engenharia. Isso só ocorrerá quando terminarem as transmissões analógicas no país, em 2016. A TV Globo já começou a fazer experimentos com a nova tecnologia de altíssima definição. "O 4K, o 3D e o Super Hi-Vision estão no nosso radar, mas não para TV aberta no curto prazo", afirma Bittencourt.

Criado pela rede estatal japonesa NHK, o Super Hi-Vision (SHV), ou ultra-alta definição (UHD), deve estrear em 2020, quando está programado o início dos testes em larga escala. Experiências com o padrão têm sido feitas desde o início da década passada. Como produz uma imagem 16 vezes mais detalhada que a da alta definição atual, por enquanto o sinal em SHV funciona bem só em redes de alta velocidade. Em setembro, a BBC fez um teste com a NHK e transmitiu, ao vivo, dois programas de 30 minutos da Inglaterra para o Japão. A rede japonesa também tem testado a transmissão do sinal por satélite ou pelo ar.

Além das dificuldades causadas pela enorme quantidade de dados gerada nas gravações, o sistema precisa superar outros problemas para se tornar comercialmente viável. "Há uma série de desafios na produção de programas em Super Hi- Vision, como a quantidade de trabalho necessária para a captação, a edição e a mixagem do som. Fazer gravações à noite é ainda complicado", diz Masaru Kanazawa, engenheiro sênior da divisão de pesquisa em sistemas avançados de TV dos laboratórios da NHK. "Mas estamos confiantes de que vamos superar tudo isso a tempo. A TV de alta definição teve os mesmos problemas."

Desenvolver um novo formato demora muito. Por isso Kanazawa iniciou a discussão antes mesmo de a alta definição ter sido anunciada. "As pesquisas começaram em 1995", afirma. A NHK acredita que os consumidores vão querer um nível de detalhamento maior no futuro e resolveu se antecipar. As TVs capazes de exibir imagens em Super Hi-Vision terão 70 polegadas ou mais. Em tamanhos menores, não se nota a diferença em relação ao full HD (1 920 por 1 080 pixels).

A evolução do SHV não será apenas na quantidade dos detalhes mostrados na tela. O sistema proposto pela rede japonesa vai adotar o áudio 22.2, capaz de utilizar 24 caixas acústicas dispostas em três alturas diferentes. Captar o som adequadamente também está entre os desafios a superar. Apesar das dificuldades, Kanazawa acredita que o SHV vai substituir o 4K por ter a vantagem de gerar imagens com resolução maior e mais quadros por segundo (24 ou 30 contra 60). O certo é que, com qualquer dos dois sistemas, sua TV terá outra cara, muito diferente da atual.

De londres a Tóquio

Um dos maiores testes com Super Hi-Vision ocorreu no ano passado. A inglesa BBC transmitiu dois programas dos seus estúdios em Londres para a NHK, em Tóquio. O primeiro deles foi um show do grupo The Charlatans e o segundo, uma apresentação da equipe britânica de tae kwon do. O sinal de 350 Mbps percorreu uma rede de alta velocidade (1 Gbps), passando por Holanda, Alemanha e Estados Unidos. Tudo correu bem, mas os pesquisadores querem aumentar a compressão do vídeo — hoje feita em MPEG-4 — e estão colaborando no desenvolvimento de um novo codec, o HEVC. O objetivo é ter um streaming de 150 Mbps.

O olho que tudo vê

Todos os equipamentos capazes de gravar em Super Hi-Vision são protótipos, desenvolvidos pela NHK em parceria com fabricantes. Hoje, apenas três câmeras conseguem fazer imagens em ultra-alta definição. Cada aparelho tem três sensores de 33 megapixels e pesa aproximadamente 20 quilos — o que ainda é um problema para a captação de cenas externas. Também não existem TVs prontas para o novo formato. O protótipo usado nos laboratórios da NHK tem 600 polegadas.

Exame

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