O veterano roqueiro Neil Young jogou a música no ventilador recentemente ao afirmar que Steve Jobs vendia arquivos digitais comprimidos no iTunes, mas ouvia discos de vinil em casa. A revelação trouxe à tona não só a velha discussão qualidade analógica versus qualidade digital — na música e além, em fotos e vídeos —, mas também uma questão de comportamento na era da informação, em que os usuários privilegiam as possibilidades de um gigantesco volume de alternativas em arquivos em detrimento de uma fidelidade sonora ou iconográfica.
Para especialistas como o professor Esteban Clua, do Instituto de Computação da Universidade Federal Fluminense (UFF) e gerente do Media Lab, num mundo em que a capacidade de armazenamento chega às escalas dos terabytes e petabytes, faz sentido a perda do que ele chama de características artesanais de uma obra.
— Estudos recentes dizem que hoje são produzidas no mundo entre 20 bilhões e 30 bilhões de imagens por dia — comenta Clua. — As pessoas estão mais concentradas na quantidade, dada a facilidade de criar novos arquivos, do que na qualidade. ( leia também: A tecnologia antiga que faz a diferença)
Oito anos de vídeo num único dia
De fato, o exame de alguns números que envolvem as mídias digitais corrobora essa visão. Só no Facebook, 845 milhões de internautas fazem upload de 250 milhões de fotos por dia, o equivalente a 91,25 bilhões de imagens por ano. No iTunes, desde sua criação em 2003, já foram baixadas 16 bilhões de músicas, e no ano passado as vendas de canções digitais no mundo subiram 8% em relação a 2010, representando um volume de US$ 5,2 bilhões, o que responde por 32% da receita da indústria fonográfica. E no quesito vídeo? Só no YouTube, 48 horas de vídeos chegam a cada minuto, o que dá oito anos de conteúdo enviado a cada dia. Segundo as estatísticas oficiais do site, os usuários enviam todos os dias o equivalente a 240 mil filmes de longa-metragem. E três bilhões de vídeos são vistos diariamente, o que dá 1,095 trilhão por ano.
É tanta informação fácil de gerar ou obter que a qualidade acaba ficando para trás. Segundo Esteban Clua, ainda hoje há uma corrida entre desenvolvedores para chegar a novas formas de compressão, de modo que mais e mais arquivos e documentos possam caber em espaços menores. Mas aí se perde qualidade. O consagrado formato MP3, onipresente nos tocadores de música portáteis e celulares, é dez vezes menor que um WAV, por exemplo. Assim detalhes que podem fazer a diferença numa gravação simplesmente evaporam.
— A atmosfera (som de plateia e tudo mais) do disco “Alive!”, do Kiss, originalmente gravado em 1975, perde muita pressão no MP3 — critica o baixista e baterista Diego Matheus. — E ouvir os Beatles em vinil faz diferença, muito pela mixagem em mono.
Matheus diz que não é purista na questão, e na maioria dos casos gosta das versões digitais, mas às vezes a tecnologia atrapalha.
— Em certos álbuns, a clareza e o excesso de compressão do formato digital somem com alguns detalhes bem legais das gravações originais.
Já para o fotógrafo francês Bertrand Linet, a era digital facilitou a vida de todos, inclusive dos profissionais:
— Antes era preciso se preparar bem para uma foto, dependendo do filme (veja quadro), mas hoje a tecnologia digital permite fotos com mais qualidade e muito menos trabalho.
A questão da qualidade teria tudo a ver com o comportamento das gerações atuais, acostumadas com a tecnologia. Dion Chang, diretor da consultoria sul-africana Flux Trends, diz que a atual geração é muito mais imediatista, vive o presente — daí o crescimento da mobilidade, dos posts em redes sociais, os aplicativos prontos para usar. Confirma a análise de Chang o francês Julien Fourgeaud, um dos diretores da Rovio, desenvolvedora do game “Angry Birds”, que disse ao GLOBO na Campus Party o motivo pelo qual os jogos sociais e casuais, mais ágeis e bem menos sofisticados que os games de console e PC, atraem tanto a atenção hoje. Segundo Fourgead, uma das características da cultura conectada de hoje é o fato de as pessoas temerem o comprometimento.
— Não queremos nos comprometer por muito tempo com nada. Preferimos gastar vários minutos ao longo do dia com coisas diferentes do que gastar uma hora de forma concentrada. É realmente uma mudança cultural. E, como as pessoas estão muito mais conectadas, é possível experimentar isso a qualquer hora e em qualquer lugar — disse Fourgeaud.
Tal atitude se reflete nas imagens improvisadas feitas com celulares que aparecem nos murais do Facebook, nos vídeos capturados a qualquer momento, mesmo sem motivo aparente. Se o filósofo alemão Walter Benjamin (1892-1940) vivesse hoje, sua análise no texto “A obra de arte na época de sua reprodução técnica”, comparando a unicidade de uma pintura com a reprodução “ad nauseam” de uma fotografia, facilmente copiável, poderia se estender para a replicação quase infinita das mídias digitais.
E, no fim, a própria linguagem formal se esfacela diante do “internetiquês” — as gírias e as siglas usadas na comunicação via e-mail, SMS, posts e mensagens instantâneas. Nesse quesito, os especialistas divergem. David Crystal, linguista irlandês que propôs um novo campo de estudo derivado desse tipo de comunicação — a linguística da internet —, defende que se trata de uma nova linguagem inventada pelas novas gerações. Já Silvio Laccetti, professor de Humanidades americano, acredita que o “internetiquês” pode prejudicar até as futuras chances de emprego dos estudantes de hoje.
O Globo
Há uma grande facilidade em registrar-se tudo hoje em dia, mas a qualidade técnica dessas coisas muitas vezes é baixíssima, assim como a futilidade destas filmagens, fotos, sons etc.
Comentario do Celso:
Artigo muito mal escrito, começa falando de som e desanda para fotos e vídeos, sem ao menos se aprofundar no que se propunha no título.
Até transparece que os "especialistas" em som nunca ouviram falar em SACD ou DVD-Áudio, formatos digitais multicanal muito superiores ao vinil e até mesmo ao cd.
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