Nem um boletim de campanha de Serra seria mais propagandístico do que a manchete da Folha de S.Paulo de hoje. O jornalão paulista tratou do debate entre os presidenciáveis que promoveu pela internet, em parceria com o UOL, com a seguinte chamada: “Serra parte para o ataque”. O tucano agradece.
Com base na chamada de primeira página, a Folha podia ter feito várias manchetes. Dizer que Dilma apontou “calúnia” do tucano, que Marina poupou Lula e criticou Serra, que Serra culpou o governo Lula por ações da gestão tucana ou que Dilma citou números irreais. Tudo isso constava do resumo feito pelo próprio jornal do que foi o debate. Mas a Folha pinçou para a sua manchete “Serra parte para o ataque”.
Imagino que deva ser esse o jornalismo limpinho que Serra gosta. Afinal, com tantas opções, o jornal distinguiu Serra não só com a manchete, como com a foto que ocupa todo o alto de página, na qual ele é o único em foco e aparece se dirigindo a Dilma.
A Folha de S.Paulo, como seu título diz, é um jornal paulista. Vê o Brasil a partir de uma ótica das elites paulistanas. Por isso tanta identidade com Serra. Seu provincianismo se reflete nos auto-elogios e no papel a que submete seus jornalistas, alguns aceitam com prazer desmedido, de relevar as coisas que o jornal faz.
A notícia no portal UOL de que “debate online repercute no Brasil e no mundo” é de uma pieguice ímpar. Assim como classificar o debate de histórico. Histórico é o que permanece, o que todo mundo se lembra e será recordado através dos tempos. Alguém acredita que o debate da Folha entrou para a história? Alguém será capaz de lembrar dele ao fim da campanha? Aconteceu algo de marcante durante a sua realização?
Eliane Catanhêde, a colunista da massa cheirosa, usou seu espaço para a louvação oficial, mas quem conseguir ler seu artigo até o fim verá que o fim contradiz o princípio. Ela abre seu texto afirmando que o debate foi o mais importante da eleição. Mas o encerra dizendo que “é improvável que provoque alguma reviravolta”. Então foi importante para quê? Para continuar tudo como está?
Bem que a Folha gostaria de alguma mudança e se esforça para isso com manchetes como a de hoje, mas as pesquisas de intenção de votos, até a do Datafolha, mostram que Dilma segue crescendo e Serra caindo e que a tendência das eleições é ser decidida no primeiro turno. Assim como O Globo chamou Fernando Henrique para ser seu colunista, a Folha pode chamar Serra para cuidar dos elogios ao jornal. Afinal, nem seus aliados políticos lhe são tão fiéis, como voc? pode conferir na série de hoje, “Esqueceram de mim”.
Comentários:
Há um tempo atrás, o próprio Ombudsman da Folha reconhecera que haviam mais notícias negativas ao governo Lula do que positivas; e que o contrário não ocorria em relação ao governo de Geraldo Alckmin, que governava São Paulo na época. Claramente existe uma distorção. Por que os jornais brasileiros não assumem, em editorial, que apoiam José Serra? Já abordei este tema anteriormente.
Há um tempo atrás, o próprio Ombudsman da Folha reconhecera que haviam mais notícias negativas ao governo Lula do que positivas; e que o contrário não ocorria em relação ao governo de Geraldo Alckmin, que governava São Paulo na época. Claramente existe uma distorção. Por que os jornais brasileiros não assumem, em editorial, que apoiam José Serra? Já abordei este tema anteriormente.
Por uma questão de honestidade com o eleitor, os jornais brasileiros deviam adotar esta prática, tão comum em outros países que praticam um jornalismo mais honesto, como nos Estados Unidos. Uma coisa é a isenção na cobertura dos candidatos, nas matérias. Outra é deixar claro que o dono do jornal e seu editor apoiam o candidato X ou Y. O título na capa do jornal, "Serra parte para o ataque", não é nada mais do que pura propaganda. Por que não colocaram algo como "Dilma e Serra duelam em debate" ou "Dilma rebate ataques de Serra"? A intenção por trás do título soa como algo do tipo "Vejam, Serra (nosso candidato) está reagindo".
A foto na capa de um jornal também pode distorcer a realidade e defender na cabeça de quem vê a capa inconscientemente um ponto de vista. Por que a foto mostra Serra inquirindo Dilma?Reparem bem. Uma foto imparcial mostraria os três candidatos, na mesma perspectiva, em uma fotografia tirada na frente dos três. A Marina, então, coitada. Aparece cabisbaixa no canto esquerdo da fotografia, como estivesse se calando.
Um comentário:
Fico contente pois, desde quando a Globo ferrou o Lula contra Elle, e sabemos no que deu, toda vez que a mídia televisia e impressa "apoia" um candidato à presidência ele não é eleito.
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