Nesta quarta-feira (21), o mestre dos teclados Rick Wakeman voltou a capital paulista, depois de 11 anos, no Teatro Bradesco. Acompanhado da sua banda English Rock Ensemble, ele fez duas apresentações em sequência, as 21 e as 23h30 (o segundo show atrasou um pouco).
A banda é composta por Tony Fernandez (baterista, amigo desde os tempos dos "Strawbs"), Nick Beggs (baixo), Ashley Holt (vocalista, a voz de todos os seus álbuns mais marcantes) e Dave Colquhoun (guitarra). Na plateia podiam ser vistas pessoas de todas as idades, com destaque de muitos e muitas fãs da "geração youtube", que provavelmente conheceram Wakeman por influência dos pais ou por terem achado-o "cult", após verem vídeos na internet. O fenômeno é interessante, pois mostra que o rock progressivo definitivamente não morreu e ainda conquista novos adeptos. A apresentação é diferente do que tem sido visto na própria terra de Wakeman (Inglaterra) onde ele costuma fazer apenas shows de piano e contando piadas.
Foto: Aurelio Moraes
O show começa com um medley do seu álbum Journey to the Centre of the Earth. A banda ataca com a introdução, segurando no baixo e na bateria e então entra Rick Wakeman no palco, começando a tocar com um timbre de coral num dos nove teclados. Sucessivamente vai passando para seu velho sintetizador minimoog e para os outros instrumentos. Sem contar com um coral, uma orquestra e a narração original do álbum, ele passa pela principais músicas do "Jornada" (como é conhecido pelos fãs), com muito improviso e solos viajantes de rock progressivo.
É bom ressaltar que neste ano Wakeman regravou todo o álbum "Jornada ao Centro da Terra", com direito a um vocal feminino e duas novas faixas.
A segunda música é "Catherine Howard", do álbum "The Six Wives of Henry VIII", com os músicos se divertindo bastante ao tocá-la.
Depois, é a vez da faixa "The Visit", do "Phantom Power", com as músicas gravadas para o filme original da década de 20 do Fantasma da Ópera (fora de catálogo atualmente). O interessante é que na última vez que esteve no Brasil, em 2001, a música foi cantada por Damian Wilson (vocalista figura fácil em bandas de progressivo). Com Ashley Holt, resgata-se uma versão bem próxima da original. Curioso também é ouvir o guitarrista e o baixista fazendo em uníssono a segunda voz da música, originalmente da vocalista Chrissie Hammond. Sem um sintetizador Prophet no palco, Wakeman emula-o em um Roland, com uma timbragem bem similar ao do lendário teclado, na hora do solo.
Chega a vez de "Myhths and Legends of King Arthur and the Nights of the Round table". Ele passa pelas faixas Arthur, Guinevere (que não era executada ao vivo há muitos anos), Lancelot and the Black Night e The Last Battle. Novamente, Holt faz toda a diferença, contando sempre com os solos de minimoog e os arranjos cheios de orquestração. É uma pena que os shows do Brasil não tenham contado com uma orquestra, como os que acontecerão na Argentina, mas não ficam devendo em qualidade por isto.
O baterista de muitos anos Anthony Fernandez (foto: Antonio Saraiva Coelho)
Falando um pouco sobre a banda, Fernandez utilizou uma timbragem bastante jazzística nos shows, porém com um "peso" interessante". O novo integrante da banda de Wakeman Nick Beggs é e bastante virtuoso, tendo até um solo no show. Beggs utiliza muito a técnica de slap, marcando o tempo nas músicas e se tendo um bom entrosamento com Fernandez, na "cozinha" das músicas. Dave Colquhoun já toca a um tempo com Rick e também tem bastante espaço para solar.
Beggs (foto: Antonio Saraiva Coelho)
Chega a vez de "Music Reincarnate", do "No Earthly Connection". Como Ashley Holt cuidou da sua voz em todas estas décadas, a versão é bem parecida com a do álbum, sendo bem emocionante para os fãs.
Em "Catherine Parr", Wakeman mostra todo seu virtuosismo, executando seus solos de órgão Hammond (em um sintetizador) e no moog. A banda acompanha tudo com bastante velocidade e precisão.
Dave Colquhoun e Wakeman
O show volta para o álbum do Rei Arthur em Merlin, o momento quando Rick Wakeman pega seu teclado portátil e vai para o meio da plateia, onde escolhe uma assistente para segurar o teclado enquanto ele termina o solo no palco. No primeiro show, uma senhora bastante desajeitada quase deixou cair o teclado. Já no segundo, a jovem Cris Guerra não decepcionou e saiu emocionada. Esta versão de Merlin conta com vocais desde 1993, quando Rick criou uma letra para ela no álbum "Classic Tracks". A original era somente instrumental.
(Foto: Acervo pessoal de Cris Guerra)
A apresentação é encerrada com uma versão de Starship Trooper, do Yes. A música, que foi gravada em 1971 quando Rick nem era membro da banda, é apresentada em uma releitura do mesmo do álbum Fields of Green, de 1997, gravada originalmente por Chrissie Hammond. Ashley Holt não tem propriamente dita a voz ideal para a canção, que soa melhor com vocais mais suaves, mas vale a versão pelos solos do Mago dos Teclados.
Na segunda apresentação, a banda já estava bastante cansada (culpa da produtora, que marcou duas apresentações para a mesma noite), mas por outro lado já estava familiarizada com o palco e devidamente aquecida.
Rick Wakeman mostrou que era realmente a alma do Yes, com sua grande presença de palco, seu bom humor nos comentários - como quando pediu desculpas por seu português, dizendo que seu inglês também era ruim- assim como sua qualidade técnica de grande músico e tecladista, além de sua brilhante capa de mago.
Nick Beggs e Rick Wakeman
Wakeman, passando no meio da plateia
Toda a banda, vista de cima
Vídeos:
The visit:
The forest/The Battle:
Music Reincarnate/ No Earthly Connection:
Arthur:
Catherine Howard:
4 comentários:
Brilhante resenha! Faço minhas as suas palavras! Os shows foram maravilhosos e inesquecíveis!
Shows excelentes! Comentários pertinentes!
Boa tarde Aurélio,
De onde apareceu esse show? Ele não constou no site do RW.
Existe algum lugar (sites etc) no qual eu posso acompanhar a agenda mais de perto? Sei que é impossível esse show voltar a acontecer, mas você poderia me passar uma fonte pra eu ficar atento? Fui nos 2 do Yes seguidos em SP e nem fiquei sabendo desse, nem de longe. Não me perdoaria se perdesse isso de novo.
Obrigado. Eduardo Araújo
Acompanho o site do Rick Wakeman, fiquei sabendo através dele.
rwcc.com
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