A FUNDAÇÃO DE JACAREÍ
Dos poucos
dados históricos que chegaram até nós, sabe-se que a vila de Jacareí surgiu em
meados do século XVII, como pousio das gentes antes de penetrarem no sertão;
sendo um povoado a meio caminho entre Mogi das Cruzes e Taubaté, tendo maiores
ligações com a primeira, de quem se desmembrara como vila . Embora as terras
pertencessem como sesmaria a Antônio Afonso, este nunca veio para tomar posse ,
e a 22 de novembro de 1653, foi elevada à vila, sendo capitão-mor desta Diogo
de Fontes.
A professora
Nice Le Coq Muller apontou este fato, apoiada nos estudos de Sérgio Buarque de
Holanda, que apresenta e discorre sobre a Carta Foral de elevação desta vila,
datada de 22 de novembro de 1653. Nela consta como capitão-mor o já citado
Fontes, que também aparece como representante da vila de Mogi das Cruzes numa
documentação datada de 13 de junho de 1640. Também no documento de requerimento
do pelourinho de Jacareí, constam vários nomes de moradores da vila de Mogi, o
que parece acentuar a relação existente entre estes dois núcleos.
Com a elevação
à vila, Jacareí constituiu-se o primeiro núcleo urbano do Vale Médio rio
Paraíba, na rota de penetração do bandeirantismo. E esta penetração se deveu a
vários fatores, em especial, conforme Lecocq Muller, à política metropolitana
de ocupação de territórios através de doação de terras; à procura por jazidas
minerais e escravização de indígenas, além do estabelecimento de ligações com o
Litoral Norte da Província.
Estes fatos
são corroborados, conforme os estudos de John Manuel Monteiro, que apontam que
a vila de Jacareí (1653), bem como as outras vilas de Taubaté (1640) e
Guaratinguetá (1651) surgiram quando os colonos de S. Paulo, Parnaíba e Mogi
das Cruzes, premidos pela crise de abastecimento de cativos guaranis, voltaram a
sua atenção para a região do Vale do Paraíba. Da mesma forma, esta expansão se
voltou para as regiões Oeste e Noroeste, resultando nas vilas de Itu (1656-58),
Jundiaí (1655) e Sorocaba (1661).
Em ambas as regiões, foram formadas estas
vilas, que tinham uma pequena produção agrícola, baseada no trabalho indígena,
e que abasteciam as expedições que por ali passavam, tornando-se também ponto
de partida para novas viagens em busca de índios no sertão.
Além disso, a
formação das vilas, de um modo geral, estava ligada, conforme os estudos do
professor Nelson Omegna, ao cumprimento dos preceitos cristãos, isto é, à
assistência à missa e ao recebimento dos sacramentos. Nesse sentido, as vilas
acabavam recebendo uma denominação cristã, que estaria ligada ao nome do santo
de devoção dos moradores. Dessa forma, Jacareí recebeu o pomposo nome de “Villa
de Nossa Senhora da Conceição do Paraíba de Jacarehy”, como já havia acontecido
com Taubaté, que era chamada de “Villa de S. Francisco das Chagas de Taubaté”.
Mas o costume fez com que o comprido nome cristão, em muitos documentos,
sofresse abreviações e que o nome indígena se sobrepusesse ao nome português e
oficial. Já em 27 de outubro de 1700, quando da criação da Comarca de S. Paulo,
Jacareí aparece como “Villa do Parahyba”. Por outro lado, na obra “Cultura e
Opulência do Brasil”, de André José
Antonil, cuja 1ª edição é de 1711, o nome “Villa de Jacarehy” aparece no
capítulo sobre o “Roteiro do caminho da villa de S. Paulo para as Minas Gerais,
e para o Rio das Velhas...”. Em 20 de junho de 1767 e 10 de abril de 1769,
tanto o nome mais comprido como sua versão mais simplificada, “Villa de
Jacarehy” aparecem em certidões emitidas pelos tabeliões da vila.
Num segundo
momento, ainda no século XVIII, com o surgimento do ouro nas Minas Gerais, a
vila, como todo o Vale do Paraíba Paulista e Fluminense se tornaria uma
especial passagem entre as regiões de Minas e o Rio de Janeiro, por ela
passando, ou dela saindo inúmeros produtos de abastecimentos.
Já em finais
do século XVIII, a vila começou a se firmar. Pelo menos é o que se depreendeu
de sua produção agrícola mostrada através dos “Documentos Interessantes para
História e Costumes de S. Paulo”, nos quais se registrou a presença de cultura
canavieira e de trigo na região valeparaibana, em especial em Jacareí, que
tinha em meados de 1798, cerca de 56 engenhos de açúcar. No início do século XIX, Jacareí exportava
muito fumo e café, além de açúcar e porcos.
A instalação
da cultura cafeeira deve ter sido em meados da década de 1830, porque em 1836 ela
ocupava o 3º lugar da Província de S. Paulo, com 54.000 arrobas; em 1839, é a
quarta colocada com 54.000 arrobas, ultrapassada por Pindamonhangaba com 62.628
arrobas; mais de quinze anos depois, em 1854, sua produção subiu a 204.010 arrobas,
sendo a quinta cidade em produção da Província, atrás de Bananal, Taubaté,
Pindamonhangaba e Campinas. E sua produção não se restringiu somente ao café,
mas dividiu-se também entre o algodão e cereais.
Por seu
crescimento, ela é elevada à cidade por decreto provincial de 3 de abril de
1849, e por isso esta data é comemorada como sendo aniversário da cidade,
embora a data de sua fundação não seja esta, mas apenas a data em que ela se
tornou cidade.
Ana Luíza do Patrocínio é historiadora em Jacareí
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