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terça-feira, 3 de abril de 2012

Jacareí, 360 anos: Historiadora fala sobre a fundação da cidade


A FUNDAÇÃO DE JACAREÍ



Dos poucos dados históricos que chegaram até nós, sabe-se que a vila de Jacareí surgiu em meados do século XVII, como pousio das gentes antes de penetrarem no sertão; sendo um povoado a meio caminho entre Mogi das Cruzes e Taubaté, tendo maiores ligações com a primeira, de quem se desmembrara como vila . Embora as terras pertencessem como sesmaria a Antônio Afonso, este nunca veio para tomar posse , e a 22 de novembro de 1653, foi elevada à vila, sendo capitão-mor desta Diogo de Fontes.
A professora Nice Le Coq Muller apontou este fato, apoiada nos estudos de Sérgio Buarque de Holanda, que apresenta e discorre sobre a Carta Foral de elevação desta vila, datada de 22 de novembro de 1653. Nela consta como capitão-mor o já citado Fontes, que também aparece como representante da vila de Mogi das Cruzes numa documentação datada de 13 de junho de 1640. Também no documento de requerimento do pelourinho de Jacareí, constam vários nomes de moradores da vila de Mogi, o que parece acentuar a relação existente entre estes dois núcleos.
Com a elevação à vila, Jacareí constituiu-se o primeiro núcleo urbano do Vale Médio rio Paraíba, na rota de penetração do bandeirantismo. E esta penetração se deveu a vários fatores, em especial, conforme Lecocq Muller, à política metropolitana de ocupação de territórios através de doação de terras; à procura por jazidas minerais e escravização de indígenas, além do estabelecimento de ligações com o Litoral Norte da Província.
Estes fatos são corroborados, conforme os estudos de John Manuel Monteiro, que apontam que a vila de Jacareí (1653), bem como as outras vilas de Taubaté (1640) e Guaratinguetá (1651) surgiram quando os colonos de S. Paulo, Parnaíba e Mogi das Cruzes, premidos pela crise de abastecimento de cativos guaranis, voltaram a sua atenção para a região do Vale do Paraíba. Da mesma forma, esta expansão se voltou para as regiões Oeste e Noroeste, resultando nas vilas de Itu (1656-58), Jundiaí (1655) e Sorocaba (1661).
 Em ambas as regiões, foram formadas estas vilas, que tinham uma pequena produção agrícola, baseada no trabalho indígena, e que abasteciam as expedições que por ali passavam, tornando-se também ponto de partida para novas viagens em busca de índios no sertão.
Além disso, a formação das vilas, de um modo geral, estava ligada, conforme os estudos do professor Nelson Omegna, ao cumprimento dos preceitos cristãos, isto é, à assistência à missa e ao recebimento dos sacramentos. Nesse sentido, as vilas acabavam recebendo uma denominação cristã, que estaria ligada ao nome do santo de devoção dos moradores. Dessa forma, Jacareí recebeu o pomposo nome de “Villa de Nossa Senhora da Conceição do Paraíba de Jacarehy”, como já havia acontecido com Taubaté, que era chamada de “Villa de S. Francisco das Chagas de Taubaté”. Mas o costume fez com que o comprido nome cristão, em muitos documentos, sofresse abreviações e que o nome indígena se sobrepusesse ao nome português e oficial. Já em 27 de outubro de 1700, quando da criação da Comarca de S. Paulo, Jacareí aparece como “Villa do Parahyba”. Por outro lado, na obra “Cultura e Opulência  do Brasil”, de André José Antonil, cuja 1ª edição é de 1711, o nome “Villa de Jacarehy” aparece no capítulo sobre o “Roteiro do caminho da villa de S. Paulo para as Minas Gerais, e para o Rio das Velhas...”. Em 20 de junho de 1767 e 10 de abril de 1769, tanto o nome mais comprido como sua versão mais simplificada, “Villa de Jacarehy” aparecem em certidões emitidas pelos tabeliões da vila.
Num segundo momento, ainda no século XVIII, com o surgimento do ouro nas Minas Gerais, a vila, como todo o Vale do Paraíba Paulista e Fluminense se tornaria uma especial passagem entre as regiões de Minas e o Rio de Janeiro, por ela passando, ou dela saindo inúmeros produtos de abastecimentos.
Já em finais do século XVIII, a vila começou a se firmar. Pelo menos é o que se depreendeu de sua produção agrícola mostrada através dos “Documentos Interessantes para História e Costumes de S. Paulo”, nos quais se registrou a presença de cultura canavieira e de trigo na região valeparaibana, em especial em Jacareí, que tinha em meados de 1798, cerca de 56 engenhos de açúcar.  No início do século XIX, Jacareí exportava muito fumo e café, além de açúcar e porcos.
A instalação da cultura cafeeira deve ter sido em meados da década de 1830, porque em 1836 ela ocupava o 3º lugar da Província de S. Paulo, com 54.000 arrobas; em 1839, é a quarta colocada com 54.000 arrobas, ultrapassada por Pindamonhangaba com 62.628 arrobas; mais de quinze anos depois, em 1854, sua produção subiu a 204.010 arrobas, sendo a quinta cidade em produção da Província, atrás de Bananal, Taubaté, Pindamonhangaba e Campinas. E sua produção não se restringiu somente ao café, mas dividiu-se também entre o algodão e cereais.
Por seu crescimento, ela é elevada à cidade por decreto provincial de 3 de abril de 1849, e por isso esta data é comemorada como sendo aniversário da cidade, embora a data de sua fundação não seja esta, mas apenas a data em que ela se tornou cidade.

Ana Luíza do Patrocínio é historiadora em Jacareí

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