Os especialistas chamam os contratos de
plano de saúde de “contratos cativos”. O nome não é à toa. Afinal, por desleixo
dos governantes, fomos empurrados para os braços das empresas de assistência
médica, e delas não conseguimos sair – e nem podemos trocá-las, como se troca de
padaria ou de mercadinho.
Diz o plano de saúde para o sr.
Furtado, o Consumidor: “Quando era jovem, você pagava mensalidades baratas, e
decidiu permanecer no convênio. Como empresa, também não queria que você me
abandonasse. Afinal, no início do contrato, você dava muito lucro, pois quase
não usava os serviços – mas pagava, tintim por tintim, as
mensalidades.”
Continua o plano de saúde: “Fomos
felizes até aqui. Mas agora precisamos discutir a relação.” Como assim, pergunta
o sr. Furtado? “O tempo passou, e você agora está mais carente, precisa mais de
atenção e de cuidados. Enquanto eu estou cansado. Toda dia você me pede exames,
ressonâncias caras e cirurgias. Não dá mais!”
O sr. Furtado, indignado e responde ao
plano: “Quem não aguenta mais as humilhações de vocês sou eu. Após anos de
dedicação e pagamento pontual, sempre que preciso usar o serviço de saúde a que
tenho direito, sou submetido a um show de enrolação e martírio, e tenho de
recorrer aos jornais ou à Justiça para ser atendido, até nos casos de
urgência.”
O sr. Furtado continua: “O plano só
cuida bem dos lucros, e está pouco interessado em nossa saúde. Mas isso acontece
– lembra o sr. Furtado, porque órgãos como Procon, ANS (Agência Nacional de
Saúde Suplementar), e Ministério Público (área do consumidor), não se unem para
uma atuação conjunta e permanente contra os desmandos dos planos.”
E tem mais, queixa-se o consumidor: “Os
médicos que vocês nos oferecem, principalmente, na capital, nos humilham. Pois
nunca têm horário para consulta ou nos atendem quando querem, e em cinco
minutos. Parece que estamos pedindo um favor a eles! Alguns médicos só ‘abrem a
agenda’ (novo jargão do consultório) para marcação de consultas num único dia da
semana. E quem não ligar nesse dia não vai conseguir agendar a consulta. Sem
contar que é missão quase impossível falar com um médico ou médica do convênio
fora do horário agendado, mesmo quando precisamos de uma orientação urgente”,
desabafa o sr. Furtado.
Finalmente, pergunta o mesmo sr.
Furtado ao plano de saúde: “O que vocês fazem contra o descaso dos
médicos?”
Oportunismo
Em tom de confidência, o representante
do plano (que também é de carne e osso) abre com o jogo com o sr. Furtado quanto
aos médicos: “As empresas de saúde os exploram, com a calculadora na mão, mas
não têm tanto poder sobre eles. Alguns, em início de carreira, precisam da grana
magra dos planos e procuram atender bem até que consiga formar sua clientela. Em
seguida, dão adeus à empresa de saúde. Outros, não abrem mão do pagamento, que
tanto criticam, para completar o orçamento, mas descontam a defasagem da má
remuneração nos consumidores, com atendimento aquém do esperado.”
Muitos médicos têm duas agendas. Uma
para o conveniado, que está sempre lotada, sendo que o infeliz tem de esperar
sentado de um a três meses. E outra agenda para o cliente particular, que paga
diretamente a consulta. Para este, a agenda do profissional é mais flexível e o
atendimento é “diferenciado”, como ensina o mercado.
Mas é preciso reconhecer que também
existem os médicos de plano de saúde que suam a camisa para conciliar, em nome
ética e do respeito ao próximo, os interesses do enfermo conveniado e do que
paga diretamente a consulta. Quando encontrá-los, reverencie e
agradeça-os.
Quando saio de uma consulta com um dos
meus médicos habituais eu já marco a próxima. Quando marco consulta com um
"novo" médico, digo que é particular e na data agendada informo que é plano de
saúde; já tive algumas discussões mas sempre sou atendido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário