Alvo de procedimento na Corregedoria da Câmara de São Paulo que pede a suspensão de seu mandato por quebra do decoro parlamentar, o vereador paulistano Netinho de Paula (PC do B) lançou mão de uma nota oficial para se pronunciar sobre as acusações de ter usado notas frias na prestação de contas da verba de gabinete.
Como explica o texto divulgado, o ex-cantor sente-se perseguido por ser um nome supostamente bem cotado para concorrer ao Palácio do Anhangabaú em 2012 - ele foi lançado pré-candidato pelo PC do B em abril.
A nota oficial afirma que o político "estranha a divulgação precipitada" do teor das apurações preliminares, já que a efetiva do processo para suspensão de seu mandato depende de votação em plenário (veja abaixo). Como ele argumenta, a informação "prejudica sua imagem pública e não leva esclarecimento algum à população paulistana".
Netinho "estranha ainda mais" que o fato seja noticiado após a divulgação de "pesquisa de intenção de votos realizada na capital e que o coloca como um dos principais nomes para a disputa da Prefeitura de São Paulo no próximo ano".
Como mostrou uma pesquisa de intenção de voto, feita via telefone em 11 e 12 de maio e divulgada pelo jornal Diário de São Paulo, Netinho aparece em 2º colocado em alguns cenários. O político é o líder quando confrontado especificamente com José Aníbal (PSDB), Gabriel Chalita (PMDB), Guilherme Afif (PSD) e Fernando Haddad (PT).
Na nota oficial, o vereador se diz "tranqüilo" e afirma que "não cometeu nenhuma irregularidade". Ele também insiste que não há processo aberto contra ele - "o que há é um procedimento preliminar" - e que tal procedimento não "tem como punição a cassação" de seu mandato. No entanto, parlamentares paulistanos ouvidos pela reportagem informaram que, dependendo da evolução das apurações contra Netinho, o político correria o risco, sim, de ser cassado.
Corregedoria aprova relatório
Protocolado quarta-feira (01), o relatório que pede a suspensão do mandato do vereador Netinho de Paula (PC do B) por supostas irregularidades foi aprovado por unanimidade na reunião de quinta-feira (02) da Corregedoria do Legislativo Paulistano.
O relatório é assinado pelo ex-presidente da Casa, vereador Antonio Carlos Rodrigues (PR), que acusa Netinho de quebra de decoro parlamentar - e recomenda que o ex-cantor seja afastado das funções por um período de um a três meses.
Em sua conclusão, o relator afirma que investigações do Ministério Público e da Delegacia de Crimes Funcionais apresentam "diversos e relevantes elementos probatórios" que corroboram a tese, também defendida por Rodrigues, de que Netinho usou notas frias ou fora do padrão necessário para justificar o uso da chamada verba de gabinete - cujo valor hoje chega a pouco mais de R$ 18 mil.
Agora, o relatório segue para análise do plenário. Se a maioria dos 55 vereadores concordar com suas determinações na próxima sessão, na terça-feira (7), o caso volta para a Corregedoria, que irá iniciar os procedimentos burocráticos para executar a pena ao denunciado.
Segundo a decisão de Rodrigues, a suspensão temporária do mandato será "por no mínimo 30 (trinta) até o máximo de 90 (noventa) dias", com a "destituição dos cargos parlamentares e administrativos que o vereador ocupe na Mesa Diretora ou nas comissões da Câmara".
O relatório cita reportagens publicadas pela imprensa que já apontavam irregularidades na prestação de contas do parlamentar.
Em 15 de janeiro deste ano, uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo" comprovou queuma creche funcionava no endereço de uma das firmas - Paulo Sérgio Rodrigues de Souza EPP- listadas na prestação de contas do parlamentar.
No dia 25 de abril de 2010, uma reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" mostrou que a firma Mineral Comunicação, Imagem e Produção recebeu, no total, mais de R$ 12 mil do gabinete do ex-cantor, mesmo estando registrada em um endereço fictício na zona leste, o número 78 da rua Guaxumã.
Na ocasião, Netinho informou ao jornal que contratou a empresa para executar serviços de assessoria de imprensa e que desconhecia "qualquer irregularidade com relação à empresa."
Negritude, agressões e Senado
Netinho ganhou fama no Brasil como líder do grupo de pagode Negritude Junior. Criado na Cohab 2 de Carapicuíba, na Grande São Paulo, o cantor posteriormente passou a encabeçar programas de televisão que davam prêmios a famílias pobres como forma de levar alegria para a periferia.
Em 2005, o artista estampou capas de jornais após supostamente ter agredido sua mulher. No mesmo ano, ele protagonizou outra cena de violência ao dar um tapa em um humorista do programa Pânico, da Rede TV.
Netinho está em seu primeiro mandato como vereador. O político foi um forte concorrente na corrida por uma vaga ao Senado nas últimas eleições. Apesar de ter chegado a liderar pesquisas eleitorais, na reta final ele perdeu espaço e, com seus 7,7 milhões de votos (21,1%), foi vencido pelo tucano Aloysio Nunes Ferreira.
Não devemos esquecer que seu passado o compromete em muito suas ambições políticas.
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