Uma pequena empresa suíça do setor de metalurgia descobre durante uma tragédia no Paquistão uma nova área de investimento.
As máquinas de filtragem e dessalinização de água da Trunz já foram exportadas para 35 países. Agora é a vez do Brasil.
Foi um teste de coragem para os habitantes de Arbon, uma pequena cidade localizada às margens do lago de Constança, no nordeste da Suíça. A água oferecida em copos plásticos durante uma reunião na prefeitura havia sido retirada diretamente do córrego local e filtrada por uma caixa de aço. "Organizamos essa ação simpática para mostrar como é possível beber essa água que não é poluída, mas sim um pouco turva pelas folhas e algas", conta Andrea Trunz, lembrando com um sorriso que ninguém havia ficado doente depois da prova.
A principal intenção da diretora de marketing da empresa Trunz era mostrar à população local a utilização prática dos seus sistemas de purificação de água e dessalinização. Graças aos painéis solares e uma pequena turbina eólica, eles também funcionam sem necessitar de energia corrente. "Assim era possível puxar e filtrar sem eletricidade a água do córrego, filtrá-la e dar às pessoas", explica. Andrea acrescenta, porém, que a brincadeira pode se tornar um assunto sério, sobretudo quando água potável é uma questão de vida ou morte em regiões de catástrofes.
Em janeiro de 2010, aparelhos da Trunz foram empregados no Haiti após um violento terremoto. Dez sistemas móveis de purificação de água movidos a energia solar haviam sido transportados ao país caribenho para suprir a população local com água limpa. "Eram máquinas instaladas na Venezuela e que foram emprestadas pelo governo venezuelano ao Haiti", conta Andrea. Ela lembra que também o primeiro protótipo foi utilizado no Caxemira, uma região do Paquistão, em 2005, após um forte tremor de terra.
Nova área de investimentos
Purificação de água nunca foi a principal atividade da Trunz. Essa pequena empresa foi criada em 1972 pelo engenheiro Remo Trunz para atuar na área sistemas de ar-condicionado e refrigeração. Anos depois, expandiu seus negócios para a metalurgia e montagem de peças, incluindo para a indústria automobilística. Mas foi apenas em 2007 que o empresário decidiu fundar a Trunz Water Systems.
"Tudo começou com a ideia de um marinheiro de ter acesso à água potável em áreas sem energia elétrica como ilhas. Depois instalamos a pedido de uma ONG canadense esse protótipo na Caxemira em 2005. Então vimos que existia um potencial para esses produtos. Durante três anos pesquisamos até decidir criar um novo setor na Trunz", explica Ralph Hangartner, diretor da Trunz Water Systems.
Desde então, mais de 450 sistemas de filtragem e dessalinização já foram exportados a 35 países, dos quais uma grande parte à Venezuela. "São 240 aparelhos instalados por nós depois que o governo venezuelano iniciou um grande programa de melhoria das condições de vida para as populações ribeirinhas, sobretudo no delta do Orinoco", afirma Hangartner. O programa prevê a montagem de 900 sistemas de filtragem da água dos rios, contaminada devido às atividades mineradoras e falta de saneamento básico, para pequenas comunidades. O interesse levou a empresa a abrir sua primeira subsidiária estrangeira no país governado por Hugo Chávez.
O típico sistema instalado pela Trunz é capaz de produzir mil litros de água por hora através do sistema de ultrafiltração. O líquido é prensado contra uma membrana capaz de filtrar partículas como vírus, bactérias e parasitas maiores do que 0,04 micrômetros. O processo não necessita de produtos químicos. "E tudo é feito apenas com a energia solar ou eólica, dando como resultado uma água completamente pura", ressalta o diretor da empresa.
Custos elevados
Apesar das vantagens dos sistemas de purificação da Trunz - robustez e facilidade de manutenção e operação - o maior problema é o preço, que se explica devido à tecnologia empregada e o custo de produção na Suíça. O aparelho mais simples é vendido a 55 mil francos (48 mil dólares) e que, somando-se outros custos como troca de peças (baterias) e financiamento, se eleva a 70 mil francos (US$ 60 mil).
Porém a empresa suíça acredita que, a longo prazo, o investimento compensa. "Se você calcular o consumo de combustíveis para mover um gerador, para fazer funcionar um filtro de água, ou também os gastos de transporte de água potável, a nossa solução acaba sendo muito mais barata, e sem falar também no aspecto ecológico", diz Hangartner.
E em países onde o sol aparece o ano inteiro, a utilização de sistemas com painéis solares e geradores eólicos parece ser um bom negócio. Em Abu Dhabi, a capital dos Emirados Árabes Unidos, aparelhos de dessalinização da Trunz são utilizados para retirar a água salobra encontrada a muitos metros abaixo da superfície nessa região desértica.
Aposta no Brasil
O mesmo problema - regiões sem infraestrutura e carência de água potável - também existe no Brasil, o que levou a empresa suíça a lançar seus olhos ao maior país sul-americano. "Depois de procurar bastante tempo, encontramos um parceiro brasileiro para nos ajudar a iniciar um projeto-piloto que inicia agora, no mês de junho", revela Hangartner.
Um aparelho de dessalinização será instalado em três comunidades no Nordeste brasileiro - Santaluz (Bahia), Santa Luzia (Paraíba) e Trindade (Pernambuco) - por um período de três meses, um mês em cada uma delas. "Nelas muitos habitantes só têm acesso à água de poço artesiano, na qual em muitos casos é completamente salobra. E para filtrá-la são necessárias muitas horas", explica o engenheiro.
Os testes serão acompanhados pela Geoklock, a empresa parceira no Brasil e gerida também por um suíço. O equipamento utilizado utiliza a técnica de osmose inversa, onde se usa uma pressão mais elevada do que no caso da ultrafiltragem para fazer com que a água atravesse uma membrana de várias camadas. Esta retém partículas maiores do que 0,01 micrômetros, como é o caso do sal, mas também vírus, bactérias e parasitas.
Se o projeto-piloto for bem-sucedido, Trunz espera poder convencer as autoridades públicas no Brasil de que pode oferecer a melhor e mais barata solução para as populações carentes. "Porém também esperamos convencer pequenos empresários, pois vender água potável a preços reduzidos seria um bom negócio nessas comunidades", anima-se Hangartner.
Alexander Thoele, swissinfo.ch
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