A rede de ensino pública do Estado de São Paulo tem mais 5 mil escolas, 240 mil professores e 5 milhões de alunos.
Veja este comercial. É de 2009, quando José Serra (PSDB) era governador. O tema dois professores na sala de aula é um dos principais “pontos de venda”.
O assunto é abordado rapidamente também neste recente anúncio do governo paulista.
Gostaria que o esquema dos dois professores fosse implantado na escola de seus filhos, sobrinhos ou netos? E que fosse disseminado por todo o Brasil?
“Pois a história dos dois professores na sala de aula é mentira ”, denuncia o professor Fábio Moraes. “É para iludir a população dos outros estados, pois os pais, os alunos e os professores de São Paulo já sabem que é um engodo. Eu desafio o ex-governador José Serra a mostrar uma única sala de aula na rede pública estadual onde existam dois professores. Nunca houve isso.”
Fábio Moraes é secretário do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp). Nessa condição, percorre continuamente toda a rede pública. O esquema propagandeado dos dois professores seria para crianças aprendendo a ler e a escrever, ou seja, nas classes do atual segundo ano do primeiro grau (antigo primeiro ano primário).
Fábio explica por que considera a propaganda enganosa:
1º) O que existe em algumas salas é a presença de um professor e de um estagiário, que não é professor formado.
2º) Os estagiários são remanescentes do Projeto Escola da Família, do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), que José Serra reduziu drasticamente. Por esse projeto, as escolas eram abertas nos fins de semana para a comunidade, e os estagiários atuavam como monitores. Serra alocou então parte dos estagiários do Escola da Família no Projeto Dois professores na sala de aula.
3º) Desde 1998, há crescente municipalização do ensino das primeiras séries do primeiro grau, justamente quando as crianças aprendem a ler e a escrever. O governo do Estado foi transferindo pouco a pouco essa responsabilidade para as prefeituras. Assim, hoje são poucas escolas da rede pública estadual que atuam na alfabetização. A maior parte das classes dos primeiros anos está nas mãos das prefeituras e não do Estado, como a propaganda do governo estadual pode levar muitas pessoas a acreditar.
4º) Além disso, o governo estadual coloca até 40 alunos numa sala. Mesmo que fossem dois professores de verdade em classe, do ponto de vista pedagógico é inadequado. Já está comprovado que o ideal, para a aprendizagem, são salas de 20 alunos. Por que não organizar salas de 20 alunos com um professor em cada uma? Pedagogicamente traria mais ganhos aos alunos.
“Não somos contra os estagiários, que são vítimas também desse processo”, salienta Fábio . “A questão é a propaganda enganosa. É só marketing. Os maiores interessados – alunos, pais, professores e os próprios estagiários – não foram ouvidos, para mostrar aos governantes de plantão o que realmente é necessário para melhorar o sofrível padrão de ensino no Estado de São Paulo.”
O Viomundo consultou a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo sobre os dois professores na sala de aula. A assessoria de imprensa respondeu por e-mail:
O segundo professor será disponibilizado em classes do 2º ano do Ensino Fundamental (antiga 1ª série no ensino de 8 anos). Temos 97 instituições de ensino superior inscritas, porém até o momento foram firmados apenas 3 convênios, que totalizam 1.235 classes/alunos-pesquisadores. Os demais convênios estão em fase de finalização. Em todo Estado, são cerca de 6 mil classes, sendo em torno de 4 mil na capital e Grande São Paulo e 2 mil no interior.
Solicitamos mais detalhes, inclusive em quantas e quais escolas o projeto está implantado. A assessoria, também por e-mail, respondeu:
Temos cerca de 6 mil classes em todo Estado que contam com o segundo professor previsto no Programa Ler e Escrever. Porém o convênio com instituições de ensino superior dentro do Programa é firmado anualmente. Os convênios para 2010 se encontram em fase de conclusão.
O segundo professor são estudantes dos cursos de Pedagogia ou de Letras, como consta no histórico doProjeto Ler e Escrever.
Geralmente são chamados de estagiários. Mas oficialmente são denominados alunos pesquisadores.
Nada contra os estagiários, insistimos. É importante que eles tenham a oportunidade de aprender com os professores já formados. Mas por que o governo paulista não diz que são estagiários ou alunos pesquisadores em vez de apresentá-los como se fossem professores?
A assessoria de imprensa da Secretaria de Educação adota o mesmo discurso . Tal qual o anúncio, usa sistematicamente a expressão dois professores na sala de aula.
Não à toa Fábio Moraes arremata: “É só mais um dos ‘reinos’ do faz de conta do ex-governador José Serra e seus tucanos”.
por Conceição Lemes, do VioMundo
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