"Ao menos para quem vive o inferno in loco, é flagrante a desordem em São Paulo, mais notadamente no que tange à segurança pública, onde reina o mau gerenciamento e a corrupção. Quais os sintomas? Quais os efeitos? Ora, quem não se lembra da TV exibindo a tropa de choque barbarizando “marginais” em protesto dentro da USP no exato instante em que um exército de bandidos de verdade, em atuação cinematográfica, invadia um banco para levar caixas automáticos? Quem não se lembra do festival de erros no caso do seqüestro da adolescente Eloá que terminou em tragédia? Quem não sabe que a violência (assaltos, seqüestros etc) já virou rotina em São Paulo?
(…)
Bom, catástrofe administrativa à parte, todo mundo sabe que a “nata da mídia” (leia-se Grupo Abril, Folha, Estadão e, claro, a Globo) mergulhou de cabeça na campanha eleitoral (antecipada) em favor do governador de São Paulo na medida em ataca sistematicamente seus potenciais opositores. Enfim, esta é uma opção econômico-ideológica da oligarquia que não vem ao caso discutir. Mas o intrigante é a forma como a Globo tem arquitetado o seu jornalismo (?) para perverter a realidade e favorecer seu candidato.
(…)
ao fim da reportagem televisiva devidamente editada, o telespectador fica com a impressão de que os problemas em São Paulo não são de responsabilidade do poder estadual, pois lá o enfoque é dado no ângulo do governo do Estado – como se repórteres e locutores fossem, enfim, porta-vozes do governador. Por outro lado, as notícias ruins (em outros Estados) que sucedem cada problema em SP, são dadas – aí sim – do enfoque da (revolta) população. Exemplo: um protesto em São Paulo acabou em morte e violência porque o povo provocou e agrediu a polícia; um protesto no Rio acabou em violência e morte porque a polícia foi truculenta e incompetente. Assim, a Globo une o útil ao agradável: protege o seu político preferencial; denigre a imagem das administrações adversárias e, ao final, com aquele enfoque “do lado do povo”, a emissora tira a sua tradicional pecha de ‘chapa branca’.
No fim de tudo, o telespectador fica com a impressão de que São Paulo só está um caos porque está cercado de um Brasil ruim (de governantes ruins) por todos os lados.”
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