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sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Lula, um filho da história do Brasil



Lula é filho do Brasil, bem como filho de um contexto bipolar, donde um lado tinhamos duas visões antagônicas da realidade política brasileira: um Estado opressor, centralizado política e economicamente com seus sequazes, e do outro a luta incisiva contra tal Leviatã mediante a resistência pela democratização e por melhores condições de vida. Ele é representado por esta última: sua batalha é política, ideológico-cultural e social. O primeiro desses embates representa  a história que Lula traçou até chegar à presidência; o segundo representa sua visão da realidade, coerentemente adaptada às situações da época em que lutou e da época em que governa, mas que muito de sua luta passada conserva validade;a terceira, enquanto social, é a hegemônica popularidade de Lula no país, que, gradualmente, conquistara adeptos das mais diversas classes sociais e das complexas cadeias de idéias no âmbito intelectual brasileiro. Lula é, portanto, filho e pai: seu legado transmitir-se-á de presidente para nação como se transmite de pai para filho aquilo que se é.

 Sua luta é uma viagem pelo Brasil, guiado pelos objetivos e pela interpretação do que vivenciara. Apreendemos, desde sua viagem a Santos, a precariedade sócio-econômica não só dos mais pobres em um governo militar incompetente, centralizador e opressor; mas até mesmo a baixeza física dos patrimônios públicos às mãos de um governo inimigo do bem-estar comum, individual ou coletivo. Se somarmos os óbices que Lula teve de enfrentar, desde a conviver com um pai agressivo, uma situação familiar não estável, mediante a situação em que o país vivia, temos de concluir, inevitavelmente, que Lula, como outros filhos do Brasil, é um herói. Abandonou sua terra, perdera a esposa, mas não a vontade de viver. Ademais, ao invés de desistir, lutou por melhores condições de sua vida e da dos trabalhadores. Mas como filho renegado que foi, tornou-se pai de uma geração sindicalista cônscia dos problemas econômicos do país. Malgrado o sucesso, o insucesso não demorou a atormentá-lo: o regime militar. Adiantando um pouco a história, Lula também superou as desumanidades das milícias sádicas que o capturaram: hoje é presidente de uma das nações mais importantes do mundo, com mais de 80% de popularidade.


O filme merece elogios não só pela exímia atuação dos atores, mas pelo realismo intenso. Quem não se indigna ao ver os espancamentos e torturas do regime militar, as prisões aleatórias, as condições inumanas em que os prisioneiros eram submetidos, somado ao fato de que muitos destes eram trabalhadores honestos que lutavam por melhores condições de vida? Em memória às vítimas e aos sobreviventes, o filme merece apoio por coragem de representar fielmente, sem jugo ideológico, o que de fato ocorrera. E também é corajoso, pois retrata aquele que de coragem nada faltou. Ainda assim, há na juventude de hoje pessoas que admiram a criminosa ditadura militar, mas isto é tema para outro artigo.

Rui Ricardo Dias traçou com minúcia todos os trejeitos de Lula e até mesmo os atores que representam Lula quando criança e adolescente o interpretam de modo admirável. Toda e qualquer alegação de que o filme representa alguma espécie propaganda para Dilma é pura conspiração infundada: O PT nem é citado e a eleição do nosso presidente só é mencionada brevemente no final. As fotografias do filme também merecem elogio, sempre com realismo admirável, a enfocar muitos detalhes imperceptíveis até mesmo aos mais observadores, como nas cenas das fábricas e das aulas de torno mecânico de Lula.

Juliana Barone no papel de Marisa Letícia também está perfeita, tendo ela captado bem até o jeito de olhar da esposa do presidente. Vemos no filme um Luis Inácio às vezes um pouco tímido, um pouco galanteador, mas sempre ressaltando a importância da negociação. Uma das frases marcantes é quando ele diz: "não podemos ser contra os patrões, porque são eles que pagam nossos salários". Mais verdade, impossível. Como, senão através da negociação, este filho de Caetés (PE) chegaria à presidência? Também notamos no filme um Lula orgulhoso de sua profissão de torneiro mecânico, sujando o macacão de graxa quando ainda fazia estágio.
          Por fim, impossível não mencionar a aula de atuação de Glória Pires, no papel de Dona Lindu, mãe de Lula. Desde o sotaque nordestino na dose certa ao caráter de mãe serena e cuidadosa, tudo está impecável.

Aos que alegam que o filme é “propaganda política financiada com dinheiro público”, deve-se ressaltar que o filme não recebeu um centavo de qualquer iniciativa pública, sendo tão somente financiado com patrocínio de empresas privadas. O filme não é cansativo e engloba boa dose de humor, como quando Lula chama Marisa para um baile pela primeira vez. Também é difícil não se emocionar com a liderança nata de Lula, esperançoso e sempre engajado em seus objetivos: um objetivo nobre, e que no fim, demonstrou indubitavelmente que Lula lutou do lado certo. Não só os trabalhadores o apoiaram e o apóiam, como a quase totalidade do país. Por conseguinte, Lula não é só o filho de uma nação, mas também um dos pais desta. Quem poderá imaginar outro presidente com tamanha popularidade e com uma história de vida tão completa em que, mesmo não tendo ensino superior, há mais sabedoria do qualquer tratado de ciência política?

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