Tanques de guerra da ignorância censuram o conhecimento
Nós, jornalistas, temos que estudar, a bem do esforço profissional, disciplinas históricas. Por quê? Nós somos os historiadores do presente; para compreender este, faz-se mais que necessário abarcar o passado no pensamento, de modo que um não é dissociado do outro. Pois bem, sabemos da pérfida situação intelectual de nosso país: os últimos lugares de matemática, a falta de reconhecimento de boas posições de nossas universidades no ranking internacional, a não referência de intelectuais brasileiros – com raras exceções, por exemplo, no campo das lógicas com Newton da Costa, etc. – em variadas disciplinas acadêmicas, etc. À parte o malogro do estado intelectual universitário, é tanto mais desesperador quando pensamos na populaça em geral. Se os nossos intelectuais não têm grande desenvoltura – repito, à parte das exceções –, o que dizer dos não intelectuais?
Pois bem, em minhas leituras sobre história antiga, baseadas em referências como a Cambridge Ancient History, sempre costumo selecionar excertos que considero importantes. Decidi compartilhá-los aqui no blog, e criei um tópico na maior comunidade de jornalismo do Orkut. Em meu afã cândido, acreditei que, como um pedaço de alta cultura, meu nobre ato seria valorizado: doce ilusão. Excluíram o tópico com a justificativa de que “não havia muitas respostas nele”. Malgrado encontremos tópicos com muito menos respostas, e com assuntos que causam tanto deleite nos homens de letras, tais como BBB, Pânico na TV, relatos pessoais de conquista de empregos de locutores metidos a sabichões, o meu tópico sobre o Antigo Egito foi para o paredão. E por falar neste, tenho uma coisa muito irônica que devo-lhes relatar. Conta-se que (vide que tenho ojeriza a esse tipo de porcaria) na primeira semana do BBB, a única intelectual do programa – doutora em lingüística – foi mandada direta e deliberadamente para o paredão! O que dizer disso? Não seria tanta coincidência? Embora parecesse que tal participante – acredito que o nome dela é Helena – tenha sido uma das únicas a se indignar com a tatuagem de uma suástica no braço de um suposto fascistão (símbolo ícone da morte de 6 milhões de judeus), mesmo assim fora condenada. Mesmo que seja cômico, é evidente que esse é o clima no Brasil: são os ventos de uma tempestade anti-intelectual de tempos imemoriais, que não valoriza e despreza os estudiosos que têm.
Se é que é assim, que seja. Se se preza tudo em detrimento do que sempre fora considerado alta cultura, sabemos qual é o caminho que o Brasil tomará: a estrada de uma geração de analfabetos, sem conhecimento elementar do que se estuda em outros países sérios ao redor do planeta que valorizam a educação. Talvez não se tenha mais volta: é pensarmos em aprimorar o que sabemos e adquirir o que não temos. É tarefa de se preocupar com nossa categoria intelectual, ao invés de procurar lutar em prol da cultura que deveria ter espaço para viver. Se a populaça não quer saber de história antiga, de conhecimentos gerais sólidos e que custaram tão caro o esforço mental da humanidade, que continuem com suas novelas de fundo de quintal, com suas revistas de fofocas, com uma mentalidade positivista peça de museu e com palpites infundados. Se o quer, respeito. Mas não respeitarei boicotes ou mentiras. Se um país inteiro escolhe o caminho da ignorância, que se afogue sozinho, pois eu já comprei meu salva-vidas. Não seremos nós os escritores do epitáfio de uma grande nação que escolheu o caminho da burrice?
Nenhum comentário:
Postar um comentário