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terça-feira, 14 de junho de 2011

O fim do spam é possível



Apenas três bancos são responsáveis pelas transações financeiras de todos os spams. Um no Azerbaijão, outro da Dinamarca e o terceiro de Neves, uma ilhota caribenha. A conclusão é de um estudo conjunto de professores dos campi de Berkeley e San Diego da Universidade da Califórnia. Passaram o segundo semestre de 2010 debruçados no tipo de e-mail que a maioria dispensa. De lá, saíram entendendo um bocado do negócio (não dá lá muito dinheiro para a maioria) e com uma ou outra sugestão de como resolver (envolve política, mas não é tão difícil).
Para a maioria, spam é a mensagem inconveniente que entulha a caixa de entrada. Os principais softwares de e-mail já têm filtros que eliminam um tanto. Facilita a vida em parte, mas não resolve de todo. O objetivo dos professores era entender como o spam funciona para encontrar soluções mais eficazes. Descobriram um negócio complexo.
No momento em que o freguês clica o link de uma mensagem spam, o trabalho do spammer apenas começou. Aquele não pode ser um link comum, com endereço direto. Se fosse, seria fácil identificar e bloquear os sites das lojas. Assim, o link passa por uma série de redirecionamentos. Spammers usam para isso encurtadores de URL públicos, colocam páginas em sites que hospedam sites gratuitamente ou, na maioria das vezes, redirecionam usando códigos que hackers colocaram dentro de servidores de gente honesta. Na maioria das vezes, estes demoram a desconfiar que operam como intermediários de comércio cinza.
Porque cinza é a melhor definição para o negócio do spam. Em geral ilegal, nem sempre. Três comércios dominam o meio: relógios falsificados, quase sempre com origem chinesa; remédios, às vezes genéricos, outras contrabandeados e muitas vezes falsificados, com origem indiana; e software pirata para download.
No fim da estrada de muitos redirecionamentos, o freguês chega à loja eletrônica. Para que ela seja carregada no browser, dois sistemas precisam funcionar. O primeiro é o DNS. É o que reconhece o endereço de web. Para sites normais, isso é trivial. Para os clandestinos, nem tanto. O segundo é o servidor, onde a loja eletrônica é hospedada. Em ambos os casos, os spammers precisam contar com a vista grossa de algum provedor de acesso. Entre a Ásia e uma penca de ex-repúblicas soviéticas há vários dispostos à causa.
Em todo o mundo, apenas 900 organizações registram domínios, os endereços da internet. A maioria destas entidades são intolerantes com abusos. Se o site hospedado em um endereço sai da linha, o domínio é cassado. Pelo menos 40% dos domínios usados por spammers foram registrados pela NauNet, da Rússia. Historicamente, pressão sobre quem faz o registro do endereço ou sobre os provedores de acesso não tem sido eficaz. Os spammers sempre encontram uma alternativa rápida e barata.
Spam é um negócio de franquias. Os donos do negócio têm pacotes prontos. O kit tem o sistema para montar a loja eletrônica, e os contatos no submundo para hospedar servidores, comprar endereços e organizar redirecionamentos. Franqueadores processam o pagamento com cartão de crédito e enviam o produto pelo correio. Franqueados fazem a distribuição de mensagens, montam a infra-estrutura e terminam com algo entre 30% e 50% do lucro. Não é muito dinheiro. Distribuir as mensagens, por exemplo, custa um tanto. E, depois que os filtros começaram a expurgar spamsvvv, é preciso enviar ainda mais mensagens para uma taxa mínima de sucesso. Quem faz dinheiro são os franqueadores.
E seu ponto fraco são os bancos. Porque, mesmo no Azerbaijão, se credenciar como comerciante apto a receber pagamentos por cartão de crédito é um processo lento e custoso. Todo pagamento por cartão recebe um código. Alguns são específicos - equipamento de informática. Outros, genéricos: marketing eletrônico. Se os maiores bancos do Ocidente começarem a bloquear o pagamento com cartão internacional de alguns destes códigos por lojas em uns poucos países, o impacto nas transações financeiras seria pequeno. Mas o spam iria à terra.

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