Com a primeira fornada de carros chineses chegando ao Brasil, já está claro quais valem uma aposta do consumidor nacional e quais ainda precisam melhorar, em diferentes aspectos, a sua qualidade. No primeiro grupo temos, isolados, os veículos da JAC Motors. Menos pelo fato de a marca ser representada no país pelo experiente Sergio Habib — o mesmo que esteve por trás da vinda da Citroën ao Brasil — e ter Fausto Silva como garoto-propaganda, e mais pelos méritos da dupla J3 (hatch) e J3 Turin. Já no segundo grupo podemos colocar, em graus distintos, as demais fabricantes (como Chery e Lifan).
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Ainda assim, há uma desconfiança latente no consumidor brasileiro. Frases como “É, o carro vem equipado, mas prefiro a segurança de um nacional” ou “Eu não confio em produto chinês” são comuns ao se referirem aos modelos. Entre incerteza, resultados concretos e perspectivas, cabe a pergunta: vale a pena ter um carro chinês?
Nossa resposta não poderia ficar mais em cima do muro: talvez. E ela tem justificativas. A primeira é que, não importa de qual país venha, nunca é interessante adquirir um veículo recém-lançado. É uma fase em que surgem aqueles pequenos problemas (normalmente corrigidos pelas fabricantes após os veículos terem alguns meses de mercado) que tanto irritam os compradores e que, de uma forma ou de outra, podem arranhar gravemente a imagem dos produtos.
É cedo para dizer que os carros chineses são, literalmente, um “negócio da china”. Usando novamente o exemplo da JAC — pelo fato de ser a chinesa mais bem estruturada no mercado nacional: a marca começou bem, mas ainda tem de provar a qualidade do seu pós-venda, a facilidade com a qual os clientes encontram peças para os seus carros e, principalmente, como esses veículos reagem às condições de rodagem brasileiras por um período longo de tempo.
Dito isso, vamos à outra parte do “talvez”. É sabido que as grandes fabricantes vendem modelos no Brasil que, muitas vezes, ou são feitos especificamente para o mercado nacional, ou são versões desatualizadas em relação aos países mais desenvolvidos. Se o brasileiro não dirige mais as “carroças” descritas pelo ex-presidente Fernando Collor na época em que abriu o mercado para as importações, a qualidade dos carros fabricados no Brasil ainda passa longe do ideal. Equipamentos básicos, como direção assistida, freios com ABS e airbags são tratados no país como artigos de luxo.
Se existe a máxima de que brasileiro compra carro pela aparência, outro fator tem peso igual ou superior ao design: o preço. Sim: independentemente da razão, pagamos muito caro para termos carros pobres em conteúdo e qualidade. E a questão da segurança, ponto crítico dos chineses, também não é o forte da maioria dos carros nacionais.
E é nesse sentido que os chineses apontam suas armas: equipamentos e preço. O pacote básico de um carro daquele país inclui não apenas os aparatos citados acima, mas também mimos como sistema de som e trio elétrico. O preço, quase que por definição, é inferior ao de seus concorrentes com o mesmo nível de conteúdo. E é essa proposta, “mais equipamentos a preço menor” que tem feito o consumidor brasileiro pensar na compra de um carro chinês.
Ainda que não ganhem o mercado imediatamente, a chegada desses veículos tende a ser saudável para o brasileiro. Um sintoma imediato foi a redução nos preços de outras fabricantes. Dois exemplos: a Renault reestilizou o líder de vendas Sandero e diminuiu o valor de todas as versões, em média, em R$ 1 mil. A Ford também colocou o Fiesta Rocam 1.6, completo, com um preço para bater de frente com o J3.
O resto depende de como os chineses se sairão a longo prazo. Caso se mostrem confiáveis e, em alguns casos, tenham sua qualidade melhorada, deverão vencer o preconceito e merecer recomendações. Por ora, é bom manter a cautela. Mas, a julgar pelo estardalhaço provocado pela chegada desses carros, a provável insônia causada nos executivos das outras fabricantes e os bons números de vendas, uma coisa é certa: a revolução chinesa no mercado nacional de carros é uma mera questão de tempo. Na verdade, já começou.
Uol
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