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domingo, 15 de maio de 2011

A revolução chinesa mal começou. Vale a pena se engajar?

A polêmica sempre surge quando falamos dos carros chineses recém-chegados ao Brasil. Equipados, eles são. Bons de preço, idem. Mas muitos ainda torcem o nariz não só para os veículos em si, mas principalmente para sua procedência. Por aqui, produto chinês sempre foi tratado com desdém, como algo de segunda (ou terceira, ou quarta) linha, estigmatizado por algo diretamente associado ao país oriental: a pirataria.

Com a primeira fornada de carros chineses chegando ao Brasil, já está claro quais valem uma aposta do consumidor nacional e quais ainda precisam melhorar, em diferentes aspectos, a sua qualidade. No primeiro grupo temos, isolados, os veículos da JAC Motors. Menos pelo fato de a marca ser representada no país pelo experiente Sergio Habib — o mesmo que esteve por trás da vinda da Citroën ao Brasil — e ter Fausto Silva como garoto-propaganda, e mais pelos méritos da dupla J3 (hatch) e J3 Turin. Já no segundo grupo podemos colocar, em graus distintos, as demais fabricantes (como Chery e Lifan).

JAC J3: recomendável pelo investimento em rede e adaptações ao Brasil



Ainda assim, há uma desconfiança latente no consumidor brasileiro. Frases como “É, o carro vem equipado, mas prefiro a segurança de um nacional” ou “Eu não confio em produto chinês” são comuns ao se referirem aos modelos. Entre incerteza, resultados concretos e perspectivas, cabe a pergunta: vale a pena ter um carro chinês?

Nossa resposta não poderia ficar mais em cima do muro: talvez. E ela tem justificativas. A primeira é que, não importa de qual país venha, nunca é interessante adquirir um veículo recém-lançado. É uma fase em que surgem aqueles pequenos problemas (normalmente corrigidos pelas fabricantes após os veículos terem alguns meses de mercado) que tanto irritam os compradores e que, de uma forma ou de outra, podem arranhar gravemente a imagem dos produtos.

É cedo para dizer que os carros chineses são, literalmente, um “negócio da china”. Usando novamente o exemplo da JAC — pelo fato de ser a chinesa mais bem estruturada no mercado nacional: a marca começou bem, mas ainda tem de provar a qualidade do seu pós-venda, a facilidade com a qual os clientes encontram peças para os seus carros e, principalmente, como esses veículos reagem às condições de rodagem brasileiras por um período longo de tempo.

Dito isso, vamos à outra parte do “talvez”. É sabido que as grandes fabricantes vendem modelos no Brasil que, muitas vezes, ou são feitos especificamente para o mercado nacional, ou são versões desatualizadas em relação aos países mais desenvolvidos. Se o brasileiro não dirige mais as “carroças” descritas pelo ex-presidente Fernando Collor na época em que abriu o mercado para as importações, a qualidade dos carros fabricados no Brasil ainda passa longe do ideal. Equipamentos básicos, como direção assistida, freios com ABS e airbags são tratados no país como artigos de luxo.

Se existe a máxima de que brasileiro compra carro pela aparência, outro fator tem peso igual ou superior ao design: o preço. Sim: independentemente da razão, pagamos muito caro para termos carros pobres em conteúdo e qualidade. E a questão da segurança, ponto crítico dos chineses, também não é o forte da maioria dos carros nacionais.

E é nesse sentido que os chineses apontam suas armas: equipamentos e preço. O pacote básico de um carro daquele país inclui não apenas os aparatos citados acima, mas também mimos como sistema de som e trio elétrico. O preço, quase que por definição, é inferior ao de seus concorrentes com o mesmo nível de conteúdo. E é essa proposta, “mais equipamentos a preço menor” que tem feito o consumidor brasileiro pensar na compra de um carro chinês.

Ainda que não ganhem o mercado imediatamente, a chegada desses veículos tende a ser saudável para o brasileiro. Um sintoma imediato foi a redução nos preços de outras fabricantes. Dois exemplos: a Renault reestilizou o líder de vendas Sandero e diminuiu o valor de todas as versões, em média, em R$ 1 mil. A Ford também colocou o Fiesta Rocam 1.6, completo, com um preço para bater de frente com o J3.

O resto depende de como os chineses se sairão a longo prazo. Caso se mostrem confiáveis e, em alguns casos, tenham sua qualidade melhorada, deverão vencer o preconceito e merecer recomendações. Por ora, é bom manter a cautela. Mas, a julgar pelo estardalhaço provocado pela chegada desses carros, a provável insônia causada nos executivos das outras fabricantes e os bons números de vendas, uma coisa é certa: a revolução chinesa no mercado nacional de carros é uma mera questão de tempo. Na verdade, já começou.

Uol

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