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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

População mundial: já somos 7 bilhões

Um mundo cada vez mais chinês


Certo dia no outono de 1677 na cidade holandesa de Delft, Antoni van Leeuwenhoek, um mercador de tecidos que se supõe ter servido de modelo para dois quadros de Johannes Vermeer - O Astrônomo e O Geógrafo -, saiu da cama, interrompendo de repente o que estava fazendo com sua mulher, e correu para a mesa de trabalho. Os tecidos permitiam a Leeuwenhoek ganhar a vida, mas o que o fascinava mesmo era a microscopia.

Leeuwenhoek possuía uma lupa minúscula e poderosa, feita por ele mesmo. Na Real Sociedade de Londres, sábios ainda estavam tentando comprovar a alegação anterior de Leeuwenhoek, segundo o qual havia milhões de "animálculos" invisíveis em uma única gota d’água de um lago e até mesmo no vinho francês. Agora ele tinha algo mais constrangedor a relatar: o sêmen humano também estava repleto daqueles animálculos. "Às vezes mais de um milhar", escreveu, "em uma quantidade pequena de material como um grão de areia." O holandês observou seus próprios animálculos nadando de um lado para outro, impulsionados por sua longa cauda.

Depois disso, Leeuwenhoek ficou obcecado. Embora a lupa lhe proporcionasse acesso privilegiado a um universo infinitesimal jamais visto, ele dedicou um tempo descomunal a examinar os animálculos hoje conhecidos como espermatozoides. E, curiosamente, foi o líquido seminal que extraiu de um bacalhau que o inspirou, quase por acaso, a tentar calcular a quantidade máxima de pessoas que poderiam viver na Terra.

Ninguém na época tinha a menor ideia, pois os censos eram raros. Leeuwenhoek, então, partiu da estimativa de que cerca de 1 milhão de pessoas viviam na Holanda. Recorrendo a mapas e noções de geometria esférica, ele calculou que a área terrestre habitada do planeta era 13 385 vezes maior que a da Holanda. Era difícil imaginar o planeta todo mais densamente povoado que o próprio país, que na época já parecia bastante apinhado. Portanto, sua conclusão triunfante foi a de que a Terra não poderia abrigar mais que 13 385 bilhões de pessoas - número até que pequeno se comparado às 150 bilhões de células espermáticas presentes em um único bacalhau! Esses cálculos singelos e otimistas, segundo o biólogo Joel Cohen, no livro How Many People Can the Earth Support? ("Quantas pessoas a Terra pode sustentar?", não lançado no Brasil), foram a primeira tentativa de se dar uma resposta quantitativa a uma questão que se tornou hoje bem mais urgente do que era no século 17. No entanto, a maioria das respostas atuais está longe de ser otimista.

De acordo com as estimativas mais recentes dos historiadores, na época de Leeuwenhoek havia apenas cerca de meio bilhão de seres humanos no mundo. Após crescer bem devagar durante milênios, esse número estava começando a ganhar impulso. Um século e meio depois, quando outro cientista comunicou a descoberta dos óvulos humanos, a população mundial tinha dobrado e ultrapassado a marca de 1 bilhão. Um século depois disso, por volta de 1930, ela havia dobrado mais uma vez, agora para 2 bilhões. Desde então a aceleração do crescimento demográfico foi assombrosa. Antes do século 20, nenhum ser humano tinha vivido o suficiente para testemunhar uma duplicação da população mundial, mas hoje há pessoas que a viram triplicar. Em algum momento no fim de 2011, segundo a Divisão de População das Nações Unidas, seremos 7 bilhões de pessoas.

Embora seu ritmo esteja diminuindo, essa explosão demográfica está longe de terminar. As pessoas passaram a viver mais tempo e há tantas mulheres ao redor do mundo em idade de procriar - 1,8 bilhão - que a população global ainda vai continuar crescendo pelo menos durante algumas décadas, mesmo que cada mulher tenha menos filhos que na geração anterior. Até 2050, o total de seres humanos no planeta pode chegar a 10,5 bilhões ou então se estabilizar por volta dos 8 bilhões - a diferença é de cerca de um filho para cada mulher. Os demógrafos da ONU consideram mais provável a estimativa média: eles estão projetando uma população mundial de 9 bilhões antes de 2050 - em 2045. O resultado final dependerá das escolhas feitas pelo casal quando realizar o mais íntimo dos atos humanos - aquele que, em prol da ciência, Leeuwenhoek interrompeu com tanto descaso.

Com a população mundial a aumentar ao ritmo de cerca de 80 milhões de pessoas por ano, é difícil não ficar alarmado. Em toda a Terra, os lençóis freáticos estão cedendo, os solos ficando cada vez mais erodidos, as geleiras derretendo e os estoques de pescado prestes a ser esgotados. Quase 1 bilhão de pessoas passam fome todo o dia. Daqui a algumas décadas, haverá mais 2 bilhões de bocas a ser alimentadas, a maioria em países pobres. E bilhões de outras pessoas lutarão para sair da miséria. Se seguirem pelo caminho percorrido pelas nações desenvolvidas - desmatando florestas, queimando carvão e petróleo, usando fertilizantes e pesticidas com abundância -, vai ser enorme o impacto sobre os recursos naturais do planeta. Como podemos conciliar tudo isso?

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Trecho interessante:


Claro que a quantidade de pessoas faz diferença. Mais relevante ainda é o modo como as pessoas consomem os recursos. O principal desafio para o futuro das pessoas e do planeta é tirar da pobreza o máximo de gente e ao mesmo tempo reduzir o impacto de todos nós sobre o planeta.

De acordo com previsões do Banco Mundial, até 2030 mais de 1 bilhão de pessoas nos países em desenvolvimento vão passar a fazer parte da "classe média global" - em 2005 eram apenas 400 milhões. Embora isso pareça muito bom, não será nada fácil para o planeta se essas pessoas passarem a comer carne e a circular em carros movidos a gasolina no mesmo ritmo atual dos americanos. É tarde demais para evitar que nasça a classe média de 2030, mas não para mudar a maneira como ela e todos nós produzimos e consumimos alimentos e energia.

Durante séculos, os pessimistas bombardearam com alertas apocalípticos os otimistas congênitos que têm uma crença inabalável de que a humanidade vai encontrar maneiras de lidar com o problema e até de melhorar seu destino. A história, de maneira geral, até agora favoreceu os otimistas, mas ela não é nenhum guia confiável do futuro. Tampouco a ciência é esse guia. Ela não pode prever o resultado do confronto População versus Planeta, pois todos os fatos relevantes - quantos seremos e como iremos viver - dependem das escolhas que faremos e das ideias que ainda vamos ter. Podemos, por exemplo, diz Joel Cohen, "cuidar para que todas as crianças sejam alimentadas o suficiente para que aprendam na escola e sejam bem formadas o suficiente para que resolvam os problemas que irão enfrentar quando chegarem à idade adulta". Isso iria alterar de modo significativo o futuro.

A controvérsia já existia no surgimento do alarmismo populacional, na pessoa do reverendo Thomas Malthus. No fim do livro no qual formulou a lei de ferro, segundo a qual o crescimento da população levaria à escassez de alimentos, ele afirma que essa lei não deixa de ser benéfica, pois nos impele a buscar soluções. O homem, escreve, é "preguiçoso e avesso ao esforço, a menos que seja obrigado pela necessidade". A necessidade, acrescenta ele, é a mãe da esperança. "Os esforços que os homens se veem obrigados a fazer, a fim de se sustentar ou a suas famílias, despertam faculdades que de outro modo teriam ficado para sempre dormentes, e é uma observação corriqueira que situações novas em geral dão origem a mentes adequadas para enfrentar as dificuldades nas quais estão envolvidas."

Sete bilhões de pessoas logo mais, 9 bilhões em 2045. Esperemos que Malthus esteja certo a respeito de nossa engenhosidade.


Leia na National Geographic a matéria completa, que está excelente.

Cada vez mais tecnologias agrícolas serão necessárias, para alimentar todas estas bocas. Países em desenvolviemento também precisam com urgência implantar novas técnicas de reciclagem, assim como os países ricos precisam investir mais recursos em tecnologias limpas. De certo farão isto não só por causa do meio-ambiente, mas sim por uma questão de economia. Se os países emergentes começarem à consumir como os Estados Unidos, não é improvável que haja uma grande escassez de alimentos e recursos naturais, o que é temeroso quando lembramos que temos simplesmente um só planeta para explorarmos.


Recomendo o documentário "A Terra em 2100".

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