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sábado, 11 de agosto de 2012

Nem tudo que é não poluente é bom




Pelo jornalista André Barcinski, na Folha


A energia eólica é uma bênção, certo? Uma energia limpa e barata, que vai acabar com o aquecimento global e salvar o planeta. Muita gente pensa assim. E eu também. Pelo menos até ver “Windfall”, um documentário lançado nos Estados Unidos. Agora tenho minhas dúvidas. Dirigido por Laura Israel, o filme conta a história de Meredith, uma pequena comunidade rural do Estado de Nova York, que está prestes a assinar um contrato com uma grande empresa do setor eólico para a construção de dezenas de turbinas de vento. A princípio, a maioria dos moradores é a favor. Parece a coisa certa a fazer. O problema é que ninguém viu uma dessas turbinas de perto e não tem a menor idéia das conseqüências de morar próximo a uma delas. Quando os moradores vêem as turbinas em ação, a coisa muda de figura. Para começar, existe a questão do tamanho: as turbinas chegam a quase 120 metros de altura. As três hélices medem 40 metros cada e giram a uma velocidade de 240 km por hora, 24 horas por dia. A rotação acelerada do monstrengo emite um barulho de baixa freqüência, sentido a quilômetros de distância. Moradores reclamam de insônia e distúrbios nervosos. As turbinas são tão altas que, ao cair da tarde, projetam sombras imensas. E pior: devido à rotação das hélices, as casas dos moradores se transformam em verdadeiras discotecas de luzes estroboscópicas.

Morar ali deve ser enlouquecedor. O filme mostra que a colocação das turbinas destrói a qualidade de vida da comunidade e aniquila o mercado imobiliário da região. Tudo em nome de uma suposta ajuda ao meio ambiente que, no fim das contas, mostra-se irreal: no filme, especialistas dão depoimentos sobre a ineficácia das turbinas, que não produzem energia suficiente para justificar o investimento. Outro aspecto interessante do documentário é a briga das empresas energéticas, que disputam os polpudos incentivos fiscais do governo americano e entram em leilões para assinar contratos com pequenas comunidades, se aproveitando da falta de uma regulamentação para o setor. As empresas oferecem dinheiro para os moradores – ironicamente, dinheiro que as empresas receberam do governo – pelo direito de colocar as turbinas em suas propriedades. E muitos moradores, especialmente em áreas mais afetadas pela crise econômica norte-americana, se vêem obrigados a aceitar.

“Windfall” não é contra a energia eólica ou a busca de soluções alternativas. Também não faz apologia de nenhuma outra fonte de energia. Mas levanta uma questão importante: nem tudo que parece “verde” é, necessariamente, bom.

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