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quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Brasil é um dos países mais desiguais da América Latina

A foto retrata bem a questão: No meio de vários edifícios de classe média e alta, um homem vive em seu barraco, com poucos recursos. Ainda assim, consegue ser o melhor dono do mundo para o seu cãozinho. O Brasil não é desigual há pouco tempo, sempre foi. Mesmo com todos os avanços, ainda vemos a injustiça social, tão triste e tão próxima.



Apesar de avanços no combate às desigualdades sociais, mais de um quarto da população pobre da América Latina vive no Brasil, segundo dados divulgados nesta terça-feira pela ONU. Em relatório feito pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU-Habitat), dados mostram que há 124 milhões de pessoas vivendo na linha da pobreza na região, 37 milhões delas só no território brasileiro. A segunda maior parcela está no México, que tem 25 milhões de habitantes na faixa da pobreza.



Segundo o documento, o Brasil ainda é o quarto país mais desigual da América Latina, atrás apenas de Guatemala, Honduras e Colômbia, de acordo com o estudo “Estado das cidades da América Latina e do Caribe 2012”. Mesmo assim, o país registrou avanço considerável em relação a 1990, quando era o campeão no ranking de desigualdade.

- Ser o quarto pior da América Latina é como estar na zona de rebaixamento da terceira divisão porque é a região mais desigual do mundo. Mas o Brasil tem tido queda consistente na desigualdade nos últimos 12 anos - afirma o economista Marcelo Neri, especialista da FGV.

Pobreza atinge 1 em cada 4 nas cidades

Os dados da ONU mostram que os 20% mais ricos na América Latina têm renda quase 20 vezes superior à dos 20% mais pobres. Mesmo o país com distribuição mais equânime na região, a Venezuela, ainda não chegou ao patamar de Portugal, o mais desigual da zona do euro. As melhoras registradas em parte da região nas últimas duas décadas foram atribuídas pela ONU ao aumento da renda do trabalho, à queda da diferença salarial e à expansão de programas de transferência de renda.

Por outro lado, o estudo revela que para alguns países a distância entre ricos e pobres aumentou ainda mais desde 1990, como em Colômbia, Paraguai, Costa Rica, Equador, Bolívia, República Dominicana, Argentina e Guatemala. De modo geral, 124 milhões de pessoas vivem na pobreza nas cidades latino-americanas, o equivalente a uma em cada quatro pessoas em áreas urbanas. Mais da metade delas estão no Brasil (37 milhões) e no México (25 milhões). Ainda assim, vale a ressalva de que entre 1990 e 2009, período de abrangência do estudo, a proporção de pessoas vivendo na pobreza na região passou de 48% para 33%.

- Essas estatísticas de distribuição de renda são como a imagem no espelho de toda a má distribuição que temos em setores como educação, saneamento, saúde e transporte, em todos os aspectos que afetam a geração de renda - explica Rubens Cysne, diretor da EPGE/FGV.

O retrato das diferenças regionais está presente também no ranking de PIB per capita. O Brasil ocupa o 13º lugar, com um valor pouco superior a US$ 4 mil, atrás de países como Argentina, Uruguai, Chile, Venezuela, entre outros. Em 2009, Antígua e Barbados, um país de população pequena e economia baseada no setor de serviços, era o líder no PIB per capita, com valor superior aos US$ 10 mil. O montante é 27 vezes superior ao do Haiti, o país com menor PIB per capita da região.

Em outra estatística que embute as grandes diferenças regionais, a renda média per capita da região era de US$ 4.823 em 2009, abaixo da média mundial de US$ 5.868.

- A desigualdade é uma marca registrada da região. E no Brasil é notável a diferença entre as diversas partes do país, entre os salários de homens e mulheres, e também na questão racial. A mudança é um processo lento nos valores que já estão introjetados na sociedade brasileira - avalia o economista João Saboya, da UFRJ.

Apesar de contar com programas de transferência de renda que se tornaram modelo e fonte de inspiração em campanhas políticas na região, Neri explica que o Bolsa Família e os projetos voltados para Previdência, aposentadoria e pensões responderam por cerca de um terço da queda da desigualdade. A maior parte foi resultado de avanços na renda do trabalho.

- Isso é na verdade uma virtude, e reflete parte da História do continente. O primeiro fator determinante para a redução na desigualdade é a educação, embora ela tenha passado de muito ruim para menos ruim no período - disse Neri.

A desigualdade não é tema de análise apenas na comparação entre países. Segundo o estudo da ONU, ela se mostra presente também na avaliação entre cidades divididas social e espacialmente. Para superar a fragmentação, a ONU recomenda a combinação de estratégias de crescimento econômico com políticas voltadas para a correção da desigualdade de renda e da qualidade de vida, assim como iniciativas de integração territorial e social.

- O maior problema é que as cidades não estão combatendo as desigualdades. Algumas cidades latino-americanas têm os maiores índices de desigualdade do planeta - afirma Erik Vittrup, especialista da ONU-Habitat.

O Globo

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