Antropólogos contestaram teorias segundo as quais o Homo sapiens e os neandertais se miscigenaram, transmitido aos humanos atuais parte do legado genético de seus primos misteriosos. Os pesquisadores vão contra vários estudos divulgados ao longo dos últimos dois anos que sugerem um cruzamento entre o Homo sapiens e o hominídeo enigmático que viveu em regiões de Europa, Ásia Central e Oriente Médio por até 300 mil anos, mas desapareceu de 30 a 40 mil anos atrás.
As evidências provêm de fósseis de DNA, que demonstram que eurasiáticos e asiáticos médios partilham entre 2% e 4% de seu DNA com os neandertais, mas os africanos, quase nenhum. Mas um novo estudo feito por cientistas da Universidade de Cambridge, na Grã-Bretanha, diz que o DNA veio de um ancestral comum e não através de "hibridização" ou reprodução entre duas espécies de hominídeos.
Em publicação, na segunda-feira, no periódico americano Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), Andrea Manica e Anders Eriksson, do Grupo de Ecologia Evolutiva da universidade britânica, desenvolveram um modelo de computador para simular a odisseia genética. Ele começa com um ancestral comum dos neandertais e doHomo sapiens que viveu cerca de meio milhão de anos atrás em regiões de África e Europa.
Por volta de 300 mil a 350 mil anos atrás, a população europeia e a população africana deste hominídeo se separaram. Vivendo em isolamento genético, o ramo europeu evoluiu pouco a pouco até dar origem aos neandertais, enquanto o ramo africano acabou dando origem ao Homo sapiens, que se disseminou em ondas migratórias que deixaram a África cerca de 60 mil a 70 mil anos atrás.
Segundo a teoria, comunidades de Homo sapiens que estavam geneticamente mais próximas da Europa, possivelmente no Norte da África, preservaram uma parte relativamente maior de genes ancestrais. Eles também se tornaram os primeiros colonizadores da Eurásia durante a progressiva migração "Fora da África".
Isto poderia explicar porque os europeus e asiáticos modernos têm uma semelhança genética com os neandertais, mas os africanos, não. "Nosso trabalho demonstra claramente que os padrões atualmente vistos no genoma do neandertal não são excepcionais e estão alinhados com nossas expectativas do que veríamos sem a hibridização", afirmou Manica em um comunicado.
"Assim, se qualquer hibridização ocorreu, é difícil provar conclusivamente que tenha ocorrido, deve ter sido mínima e muito menor do que as pessoas alegam agora", acrescentou. O que aconteceu com os neandertais é uma das grandes questões da antropologia.
A hibridização poderia responder a ela, ao menos parcialmente. Ao se miscigenarem com os humanos, os neandertais não teriam sido extintos pelo Homo sapiens ou pelas mudanças climáticas, como alguns argumentam. Ao contrário, os genes dos neandertais teriam se misturados no genoma da cepa dominante do Homo.
Em um estudo separado publicado na PNAS, cientistas chefiados por Svante Paabo do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, encontraram indícios que os neandertais e os Homo sapiens se separaram entre 400 mil e 800 mil anos atrás, mais cedo do que se imaginava.
A equipe também calculou que os humanos se separaram dos chimpanzés, nosso parente primata mais próximo, entre 7 e 8 milhões de anos, antes dos 6 a 7 milhões de anos atrás, segundo as estimativas mais comuns.
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