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sábado, 9 de julho de 2011

Historiador dá entrevista exclusiva sobre a Revolução de 1932




Cartaz convoca a população paulista para a batalha
Dia 9 de julho de 1932. Nesta data, começava a Revolução Constitucionalista, movimento armado ocorrido no Estado de São Paulo. O objetivo era derrubar o Governo Provisório de Getúlio Vargas e criar uma nova constituição para o Brasil.
Foi o último grande conflito armado do país. Em 87 dias de combates, morreram quase mil pessoas e numerosas cidades do interior sofreram danos devido aos combates.
São Paulo, depois da revolução de 32, voltou a ser governado por paulistas e, dois anos depois, uma nova constituição foi promulgada, em 1934.
Apesar de um grande número de voluntários no exército paulista, as forças de Getúlio Vargas possuíam armamentos superiores, mais tropas e esmagaram as tropas revoltosas.
Na versão do governo da época, a  Revolução de 1932 não era necessária pois as eleições já tinham data marcada para ocorrer. Segundo os paulistas, não teria havido redemocratização no Brasil se não fosse o movimento.
Para os paulistas, a Revolução é um símbolo máximo do Estado, como a Guerra dos Farrapos para os gaúchos. Já para o resto do país, a data é lembrada com a vitória das forças federais contra uma rebelião “conservadora”, que alegadamente visava reconduzir as oligarquias paulistas ao poder.

Nossa Jacareí conversou com o historiador Fábio Candioto, que falou sobre a Revolução de 1932:

Para o historiador Fábio Candioto, é preciso cautela na análise histórica da data

NJ: Há motivos para a data ser comemorada pelo estado de SP, nos dias de hoje?
Fábio: A data deve ser lembrada como uma guerra civil, que é o nome usado pela historiografia hoje ao contrário de “Revolução”, e deve ser analisada como um grande acontecimento na história recente do nosso país. Porém, há muita confusão e paixão a respeito do tema e algumas pessoas usam a História deste movimento para favorecer suas opiniões, o que não é o cientificamente correto. A palavra “comemorada” é mais usada para os paulistas que perderam a batalha, não pelos historiadores. É preciso muita cautela na análise histórica.

Quais os maiores legados dos confrontos, tanto para os paulistas quanto para o governo Vargas?

Para os paulistas o maior legado foi a constituição promulgada em 1934, apesar de os cafeicultores paulistas continuarem afastados do poder. Para Vargas foi a consolidação de sua presidência, que passou a ser a partir dali cada vez mais centralizada.

Há muito desconhecimento da população em geral, sobre o tema?

Sim, o movimento de 1932, como todos os grandes acontecimentos da história do Brasil, não comoveu a população em geral, mas sim as elites. Estas sim fizeram campanhas em São Paulo para se doassem ouro e jóias para as tropas paulistas e pediram o alistamento, entre outras coisas. O restante da população não foi convocado para a luta porque foi um movimento da elite e que representava somente seus interesses.


Houve combates em Jacareí e São José?

Não. Os combates no Vale foram mais centralizados nas fronteiras com os estados de RJ e MG. O Vale era uma região de importância estratégica por ter ligação entre SP, MG e RJ e era vital tanto para as pretensões dos paulistas quanto federalistas. Um dos principais focos foi a cidade de Cruzeiro, onde até hoje conseguimos ler notícias de alguma pessoa encontrando armamentos daquela época enterrados. Lorena e Cunha também foram palcos de grandes batalhas.  Porém, várias outras cidades paulistas foram também importantes neste contexto, como Atibaia, Bragança Paulista, Botucatu, etc.

Existem alguns grupos na internet que pregam o "separatismo paulista", utilizando a data para pregar um discurso de ódio contra os migrantes. Quais as origens históricas e como você vê isto?

A origem histórica deste sentimento remete justamente ao sentimento do movimento de 1932, onde a elite paulista se viu em 2º plano no comando do país após a Revolução de 1930, onde Getúlio Vargas, um gaúcho, assume o poder e acaba com a República Velha, que permaneceu sob o comando de paulistas e mineiros durante aproximadamente 40 anos.
Os paulistas possuem muito forte este sentimento de “locomotiva do Brasil” desde a época do café, que permitia a entrada de uma quantidade muito grande de dinheiro no estado, diferenciando-o do resto do país. Nesta época inclusive que se resgatou a imagem do Bandeirante como herói nacional, fato que a historiografia critica seriamente.
No mesmo período, crescia também a influência da cultura européia no Brasil e os paulistas começaram a achar que eram diferentes do restante do país e se assemelhavam mais à Europa, então nada mais justo que separar o estado de São Paulo do Brasil, pois assim ficariam com os lucros do café sem precisar “dividir” com os outros estados e assim, ter seu desenvolvimento espelhado nas potências do velho continente sem as agruras de um país pobre, sentimento este encontrado vivo na mentalidade coletiva dos grupos separatistas paulistas de hoje, somente trocando a principal atividade, do café para a indústria. Porém, este pensamento é raso pois não considera os vários outros fatores no desenvolvimento industrial do estado como a mão-de-obra de todo o país que veio para SP no século XX realizar trabalhos braçais a um custo baixíssimo (a mesma população que sofre um preconceito enorme da população paulista, semelhante à relação mexicanos X EUA) e a matéria-prima para a indústria de SP, que vem da região norte. Sem o restante do Brasil, SP não teria se constituído no estado rico que é hoje, nem continuaria sendo caso se separasse.

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