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quarta-feira, 9 de março de 2011

Sexo com animais é tema na 1ª comunhão



Um questionário com as opções "vou à zona", "sexo com animais" e "com bonecos" foi passado a um grupo de crianças de uma pequena cidade de Santa Catarina. A enquete, que indignou pais e mobilizou o Ministério Público, foi feita durante uma aula de primeira comunhão.

O caso ocorreu em Iomerê, cidade com 2.500 habitantes. As crianças, que têm em média 11 anos, receberam, após uma aula de primeira comunhão, um "exame de consciência" -uma espécie de confissão- que pedia a elas para "marcar ou pintar os quadradinhos dos seus pecados cometidos".

As opções eram divididas por mandamentos. No sexto ("não pecar contra a castidade"), havia os quadradinhos "vou à zona", "pratico relações homossexuais", "sexo com animais".

No quinto ("não matar"), as opções eram "cometi aborto", "abuso no volante", "tentei suicídio". Os formulários foram recebidos na semana passada. Participam do curso 32 crianças.

O pároco é Clair Kozik e disse lamentar o caso, que a intenção foi a mais reta possível e que ninguém pensou em atingir o lado maléfico.
A promotora de Justiça Maria Regina Forlin Lakus afirmou que já está investigando o caso.

Uma das mães, que preferiu não se identificar, disse que foi até a paróquia pedir explicações e que "só faltou o padre me chamar de retardada". À Folha, disse que soube do formulário quando sua filha, de dez anos, lhe perguntou: "Mãe, estou com duas dúvidas: O que é uma relação de lesbianismo e o que é sexo com animais?".

"Minha reação foi de revolta. Tentei conversar com o pároco, e ele disse que aquilo era normal, que os pais não querem enxergar os filhos que têm", afirmou.

De acordo com ela, após o caso ser denunciado ao Conselho Tutelar, foi pedido [por alguém da igreja] para que as crianças queimassem as folhas, pois assim estariam queimando também os pecados.

A mãe afirmou que as crianças ficaram constrangidas, e que sua filha chorou ao falar com o padre.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, é crime "submeter criança ou adolescente a vexame ou a constrangimento". A pena pode chegar a dois anos de prisão.


Caso isolado

Para o filósofo Alípio Casali, da pós-graduação em educação da PUC-SP, o caso é isolado. "Isso nos remete a um padrão medieval da igreja (...) Quando ela se dava ao direito de controlar as consciências das pessoas", disse.

A enquete, afirma o educador, é "descabida" e "representa uma violação". Para ele, "é um absurdo. É uma violência moral, intelectual, social e cultural fazer perguntas dessa natureza".


"Lamento o fato, mas a intenção era a mais reta possível", diz padre

O padre Clair Kozik, 32, disse que os catequistas elaboraram as perguntas. "Eu lamento o fato, mas acredito que a intenção foi a mais reta possível."

Kozik disse que não consentiu com a distribuição e que concorda que a linguagem poderia ser mais infantil. "Mas ninguém pensou em atingir o lado maléfico."

Segundo ele, o caso só veio à tona devido a um problema pessoal de duas ou três pessoas. "As mães não estão de acordo com o que está ocorrendo. São 32 mães e apenas uma é que denunciou."

O bispo de Caçador (389 km de Florianópolis), Luiz Carlos Eccel, 53, afirmou ontem que o padre não será advertido nem punido. O bispo disse não entender o por que da discussão em torno do assunto. "O questionário apenas expressa a realidade." Segundo ele, foram pessoas de "má-fé" que alimentaram a polêmica. Para o bispo, as crianças já têm idade para discernir o que foi colocado no questionário. Questionado sobre a gravidade das perguntas, disse: "Você está subestimando as crianças". Ele também eximiu o padre de culpa. "Não foi nem ele que fez [o questionário]. Foi o conjunto da catequese."

Eccel disse que as perguntas eram fruto de uma aula sobre os dez mandamentos. "Não era bem para responder. Era só para terem consciência do que é pecado."

"Se as pessoas querem seus 15 minutos de fama, vamos dar, né?", disse o bispo, que questionou a reportagem. "Isso já chegou à Folha de S.Paulo? É, onde tem carniça, tem abutre."


Questionário (alguns exemplos):

1° Amar a deus sobre todas as coisas. pecados:
( ) frequentei umbanda
( ) frequentei centro espirita

5° Não matar. pecados:
( ) tentei suicídio
( ) cometi aborto
( ) abuso no volante

6° Não pecar contra a castidade. pecados:
( ) assisto ou divulgo filmes pornôs
( ) pratico relações de lesbianismo
( ) vou a zona
( ) motel com amantes
( ) sexo com animais
( ) sexo com bonecos
( ) uso materiais do shopping do sexo
( ) meu namoro é avançado




Folha

Isto é a Igreja Católica: Expor crianças à conversas bizarras. Por que os padres não param de insinuar que as crianças fazem o que eles mesmos fazem todos os dias? Por fim: existe coisa mais iútil que catequese?

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