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sábado, 12 de março de 2011
Purity Ball, do pastor Randy Wilson, festeja a virgindade nos EUA
"Eu, pai da (nome da filha), decido diante de Deus seguir a minha filha com autoridade e proteger no campo da pureza. Serei puro na minha própria vida como homem, marido e pai, e um homem com integridade para liderar, o guia e conselheiro da minha família. Como este juramento, tal compromisso pode ajudar Deus a proteger gerações que virão."
"Eu senti o poder dessas palavras, que atingiram diretamente o meu coração. Meu pai jurou me proteger e prometeu me proporcionar uma vida de pureza e integridade. Senti a força da sua promessa, que serve de exemplo. Finalmente tenho um modelo a seguir por toda a minha vida e estou tão grata pela decisão do meu pai, que me sinto encorajada por assumir esse compromisso."
Pode uma coisa dessas?
Tais juramentos são feitos num culto em que pais e filhas - de longo e maquiagem, que vão de 4 a 12 anos de idade - trocam alianças e firmam um pacto para elas se manterem o quê? Sim, apesar dos novos tempos, da revolução digital e no mundo árabe, virgens até se casarem.
São partes da doutrina do Purity Ball, criado em 1998 pelo pastor Randy Wilson, e que já se espalhou por 48 Estados americanos e 17 países. Evento que custa US$ 89 por pessoa e dá direito a um jantar.
O ponto alto da cerimônia é quando os pais formam um círculo ao redor das filhas. Cada um pega a sua, diz o quanto ela é linda e perfeita, entrega uma flor rosa e faz o juramento. Depois, o bailinho rola até meia-noite.
Wilson explica o sucesso da sua seita, Generation on Light: "Pergunte a qualquer garota com qual homem ela gostaria de se casar, e ela dirá: "Com um que se pareça com o meu pai"."
Freud há muito dizia o mesmo, baseado numa ciência que muitos acusam de não ser empírica e no teatro grego, cujas tragédias foram escritas baseadas em mitos por autores beberrões e pederastas. Um deles fez uma peça em que o filho se apaixona pela mãe.
E os garotos? Não ficam fora dessa.
Convidados a assistir ao rasta-pé evangélico das irmãs e amiguinhas, eles ganham uma espada pesada e maior do que eles. Os líderes acreditam que eles se inspirarão e transcenderão suas vontades mais censuráveis, já que terão de crescer para usar a espada. Literalmente. "Garotos se tornam homens observando os pais", justifica o pastor.
***
Clamor do Sexo (Splendor in the Grass), filme de Elia Kazan, retrata as angústias de um casal de adolescentes, que vivia numa cidadezinha do longínquo Kansas dos anos 20 e é sufocado pela rígida moral puritana da época.
Bud, o capitão de time (Warren Beatty, estreando no cinema), e Deanie (Natalie Wood) são os garotos que, no auge da paixão, precisam, devem, são obrigados moralmente a se controlar, para manter a pureza regida pelas convenções.
Durante todo o tempo, os personagens do filme se perguntam como é possível reprimir tamanho desejo.
Nem os pais, nem os médicos, são capazes de explicar o que fazer com a libido característica da idade. As coisas são assim e pronto. O pai sugere (e leva) o filho a um bordel. Chega a pagar uma garota de programa para o rapaz.
Na cidade, as moças não querem "ficar falada" como Loden, a irmã do cara, que dava para todos, inclusive para os homens casados, e vivia de porre, pois não suportava a moral rígida daquele canto do mundo.
Bud e Deanie se pegam, se amassam, mas não podem ir além. Ele decide terminar o namoro, quando descobre que irá para Yale e ficará quatro anos longe da garota, pois sabe que não conseguirá se segurar e não quer estragar a pureza da garota amada.
Na escola, a professora de línguas dá uma dica do terror pelo qual os alunos passarão, ao ler o famoso poema de William Wordsworth, Splendor in the Grass, e pedir para as mocinhas interpretarem: "Apesar de que a luminosidade foi um dia brilhante e tenha sido para sempre tirada da minha vista, embora nada possa trazer de volta o momento, do esplendor na relva, da glória na flor, nós não lamentaremos por algo que ficou para trás".
É quando Deanie reflete sobre a idealização em que vive, se nega a encarar a verdade e pira de vez. É internada num manicômio em que fica dois anos e meio. Enquanto Bud larga os estudos depois do Crash de 1929, se casa com uma ex-garçonete e vira um rancheiro pobretão e digno.
O estrondoso sucesso do filme (Oscar de melhor roteiro) tem uma razão de ser.
Retrata a geração dos nossos avôs, é "de época", mas foi produzido e lançado no comecinho dos anos 60, quando a pauta de uma revolução sexual que estava para ser detonada era aventada em todos os lares, bancos de escola e diners, entre um milk-shake e outro.
O movimento dos direitos civis não saía das manchetes, o tabu da virgindade se desintegrara, o sutiã se tornaria peça obsoleta do vestuário, e o controle da natalidade, prioritário, inclusive com a liberação do aborto, mudando para sempre a vida sexual de todos, jovens ou não.
Clamor do Sexo é considerado um dos dramas mais marcantes do cinema americano, daqueles que provocam debates por um longo tempo. Causou escândalo por retratar a crueldade que o amor entre adolescentes pode gerar, e por mexer em vespeiros fundamentais como educação e liberdade de escolha.
Temas que, pelo visto, ainda incomodam. Afinal, o que seria de uma revolução sem uma contrarrevolução, por mais que ela soe ridícula e pretensiosa. No caso da seita Generation on Light, talvez não sejam as filhas que precisem de proteção, mas os pais, de cuidados médicos.
Estadão
É absurdo que pais queiram impor seus dogmas religiosos às crianças e adolescentes. É claro que s não se deve sair fazendo sexo por aí sem proteção, mas bem mais racional é explicar na idade adequada (a ser definida por educadores, médicos e especialistas em educação sexual) que sexo deve ser feito comproteção do que fazer algo ridículo como "festa da virgindade".
Isto mais parece um bizarro e macabro ritual incestuoso com forte fanatismo religioso do que qualquer outra coisa.
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