Células da pele
BALTIMORE, EUA - Um receptor sensorial de luz localizado dentro das células fotorreceptoras dos olhos tem um papel na percepção térmica, apontam estudos realizados por cientistas da Universidade John Hopkins, em Maryland, Estados Unidos. Esta função da proteína, chamada de rodopsina, surpreendeu os pesquisadores e é ativada em células de outras partes do corpo. A experiência foi feita em moscas-das-frutas, mostra estudo publicado na edição desta semana da revista "Science".
- Por décadas acreditou-se que esta molécula bem conhecida, um dos receptores sensoriais mais estudados, funcionava exclusivamente nos olhos como um receptor de luz, mas agora descobrimos que larvas de moscas e possivelmente outros organismos usam-na para distinguir pequenas mudanças de temperatura - diz Craig Montell, professor de química biológica e integrante do Centro de Biologia Sensorial do Instituto para Ciências Biomédicas Básicas.
O resultado fez os cientistas tentarem descobrir qual o uso mais antigo da rodopsina: se ela era usada originalmente para detectar luz ou temperatura. A equipe identificou a rodopsina enquanto investigava o processo que resulta na ativação de uma proteína conhecida como TRPA1, que, localizada nas células, funciona como um sensor de estímulos do mundo exterior. Cientistas já haviam descoberto que a TRPA1 capacita larvas para detectar mudanças mínimas na gama de temperaturas ideais para sua sobrevivência.
No entanto, ao contrário dos canais TRP que funcionam evitando temperaturas quentes e frias, o TRPA1 não foi diretamente acionado por mudanças na sua faixa confortável de temperatura, que vai de 18º C a 24º C.
Os pesquisadores começaram a investigar qual receptor reponde à temperatura em vez de desencadear a sinalização em cascata que resulta na ativação da TRPA1. Um dos prováveis seria a vasta família dos receptores acoplados à proteína G.
Usando larvas sem o gene com codificação para rodopsina, os pesquisadores conduziram uma série de testes para comparar seis comportamentos delas com animais normais. Eles liberaram cerca de 75 larvas em um prato com duas zonas de temperatura: metade foi mantida sob a temperatura ideal de 18º C e a outra parte foi submetida a uma temperatura alternativa que variou de 14ºC a 32º C. Depois de dez minutos, os pesquisadores contaram o número de larvas que passaram para o lado com 18º C e o número das que preferiram o lado com a temperatura alternativa.
Eles descobriram que, ao contrário das larvas dos animais selvagens, que preferiram os 18º C, as larvas com falta de rodopsina não puderam discriminar as temperaturas de seu intervalo de conforto, assim como as larvas sem o TRPA1. No entanto, as larvas sem rodopsina foram capazes de escolher os 18º C em detrimento das temperaturas quentes ou frias demais.
- A genética e o comportamento mostram que a rodopsina é requerida como sensor térmico - disse Montell. - A rodopsina é ativada pela temperatura e esta, por sua vez, ativa a TRPA1. No entanto, não podemos ignorar que há uma proteína adicional requerida pela rodopsina para atuar como sensor térmico.
Para "sentir" a temperatura, a rodopsina precisou da ação de um novo tipo de neurônio termossensor na parede do corpo de larvas da mosca-de-fruta, bem como de neurônios na região da cabeça dos animais. O cientista lembra ainda que esta capacidade termossensora da rodopsina não tem absolutamente nada a ver com a luz.
O Globo
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