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domingo, 12 de dezembro de 2010

Eu sou ateu, e a ATEA não fala por mim.

Com uma certa preocupação que eu vi hoje a notícia de que uma associação brasileira de ateus, a ATEA, pretende vincular em algumas cidades do país uma campanha publicitária sobre ateismo. A campanha mostra um cartaz com Hitler e Chaplin lado ao lado e Hitler identificado como crente e Chaplin como ateu, e um cartaz com uma imagem do ataque de 11 de setembro nos EUA com a mensagem “Se Deus existe, tudo é permitido.”

Essa campanha é ruim em diversos níveis.

Primeiro, ela não serve de momento de reflexão para ninguém. Ora, se uma pessoa estiver caminhando na rua e vê um outdoor como estes ou o cartaz no fundo de um ônibus, sendo um cristão — como quase 80% dos brasileiros devem ser —, a última coisa que vai passar na cabeça dessa pessoa é “Nossa, realmente, eu acho que posso me permitir pensar pelos próximos dias que Deus não existe para ver onde isso me leva.” Muito mais provável essa pessoa vai ser inundada de uma cólera contra a insinuação de que sua fé é a mesma de Hitler ou dos terroristas, ou que ela seria capaz de atos similares por crer em Deus. Se há algo que se aprende em Debate I na escola é o seguinte: no momento que você compara seu opositor a Hitler, você perdeu automaticamente. Mensagens como estas são exageradas, e foram assim deliberadamente com o intuito de ser inflamatórias.

Além de não fazer a população religiosa refletir sobre religião, a campanha é negativa para ateus como eu. Ela associa a ateismo agressividade — porque a campanha é claramente agressiva contra a religião. Vocês já viram algum anúncio da Coca-Cola que associa a empresa ou a seus concorrentes uma enorme agressividade? A Coca-Cola é uma empresa de sucesso com uma marca muito bem vista no mundo inteiro e deveria ser usada como exemplo de publicidade. Ao invés de mostrar Hitler tomando Pepsi, a Coca-Cola prefere anúncios onde ela mostra um modo de vida desejável a população associado a bebida. Na América do Sul, a empresa mantém uma campanha publicitária recorrente mostrando crianças jogando futebol na rua, alegres, felizes. No Nordeste do Brasil, a empresa tem uma campanha recorrente mostrando jovens diferentes sorridentes na praia dançando. Ao invés de mostrar um cartaz negativo sobre religião, que tal mostrar exemplos positivos do ateísmo? Em primeiro lugar, assim você não assusta de imediato o seu consumidor para ele ter repulsa por você — e com razão, se você chamar ele de Hitler e terrorista. Se alguma coisa essa campanha pode fazer pelos ateus, é criar ainda mais preconceito, desconfiança e raiva contra a falta de crença em Deus.

Eis aqui um exemplo muito melhor de campanha publicitária. Mostrem Humberto Teixeira, o compositor de Asa Branca, e uma roda de forró tradicional do Ceará para ser vinculada no nordeste, como em Salvador. Teixeira era ateu. E a frase, ao invés de dizer “Quem acredita em Deus mata a mãe”, pode ser algo como: “Ateus também fazem arte. Diga não ao preconceito religioso” (algo do tipo, não fiz um brainstorm pô). Mostrem John Lennon em São Paulo com os dizeres “Mesmo sem crer em Deus, ele falava de paz aos homens.” Mostrem Angelina Jolie e Brad Pitt com crianças africanas e falem sobre os milhões que o casal doa para ações sociais e de saúde pública em países pobres pelo bem dos outros, e cite de passagem que eles não acreditam em Deus. Mostrem Chico Buarque compondo uma poesia. Mostrem grandes médicos e biólogos como Crick e Watson e as maravilhas da medicina que salvam vidas e surgiram de suas pesquisas, e associem esse modo de vida de busca pela melhoria de vida humana com pessoas que não tem religião.

Mas por favor, não chamem os religiosos de Hitler.

Fonte

Um comentário:

Melin disse...

A ATEA, ao executar essa campanha, vai dar o famoso tiro no pé ....