Como vocês devem imaginar, não foi fácil para o Estadão publicar um petardo contra sua compadre da Barão de Limeira. O jornal quis cortar o trecho em que Assange referia-se à Falha, mas o pessoal do WikiLeaks que acompanhava o Assange não deixou. Tinha uma exigência clara de não se vetar nenhuma das partes da entrevista, segundo confirmação de fontes do próprio Estadão. Uma vez impedido de censurar a censura, a direção do jornal dos Mesquita teve que travar um saboroso e constrangedor diálogo com a direção da Folha, diálogo esse que eu pagaria mil reais para ouvir uma gravação.
O resultado foi a publicação do trecho da Falha mais o box-outro lado da Folha, aquele texto risível em que o jornal do Otavinho nega a censura (disponível apenas para assinantes). Não sei porque, mas ver a Folha repetindo freneticamente “Eu não censurei!”, lembra aquele personagem do Casseta & Planeta que, dentro de uma sauna gay, rodeado de marmanjos e só de toalha, bradava “Eu não sou gay!”.
Curiosidade besta antes do filé: no Jornal da Tarde a notícia saiu sem box do outro lado surrealista. Pô Folha, assim não dá, processa o Grupo Estado!
Agora o melhor: vazou para nós, a la WikiLeaks, a crítica interna da ombudsman da Folha, Suzana Singer, que circulou entre os jornalistas da Folha agora à tarde, com um aviso bem grande pedindo para “NÃO DIVULGAR”:
Documento secreto da Folha vazou! |
A incrível capacidade de mobilização dos irmãos responsáveis pelo site Falha de S.Paulo, processado pela Folha, obteve uma vitória impressionante hoje, quando Julian Assange, o símbolo do momento da luta pela liberdade de imprensa, defendeu o site. Está na entrevista exclusiva publicada no Estadão. “Entendo que há um grande escândalo em relação ao ao blog Falha de S.Paulo, que é uma sátira ao nome do jornal com o qual temos uma parceria no Brasil. Entendo a importância de proteger a marca e temos sites similares que se passam pelo WikiLeaks. Mas o blog não pretende ser o jornal e acho que deve ser liberado. A censura é um problema especial quando ocorre de forma camuflada. Sempre que há censura, ela deve ser denunciada”. Tem um box de outro lado, com a Folha negando que seja censura.
Os dois blogueiros já tinham conseguido que os Repórteres sem Fronteiras condenassem o processo, por considerarem difícil que um jornal do porte da Folha tenha sofrido danos á imagem por causa do site. Também dizem que os irmãos Bocchini não terão dinheiro para pagar a indenização. A Global Voices, comunidade internacional de blogueiros, também apoiou os irmãos. O site da Wired contou a história, sem emitir opinião. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo condenou a atitude da Folha.
O jornal precisa noticiar o processo, fazer reportagem ouvindo os dois lados, explicar melhor sua posição. Não dá mais pra fingir que nada está acontecendo.
Suzana, apesar do apoio de muita gente incrível que recebemos aqui no Brasil (a quem somos imensamente gratos), tivemos que ir buscar o aval dos gringos para a Folha acordar. Longe de mim querer dar pitaco no seu trabalho, mas para quem quer ser o “Jornal do Futuro”, todos os detalhes desse caso mostram que ainda há um longuíssimo caminho a percorrer.
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