"Dos inumeráveis experimentos com plantas, animais e seres humanos, emergiu uma teoria. [Os cientistas] decidiram que a energia que rodeava os organismos vivos se compunha de elétrons, prótons e talvez outras partículas ionizadas e em estado de excitação. Não se tratava de um caos, mas sim de uma unidade auto-suficiente, um corpo de energia... Aquilo poderia ser a explicação científica da aura ou "corpo etéreo". Especulou-se a possível utilização do método para ampliar nosso conhecimento do universo, para o diagnóstico médico precoce, especialmente do câncer... e para muitos outros fins." (Coxhead, p. 163).
As implicações filosóficas [do efeito Kirlian] eram muito mais extraordinárias. Ao que parece, as coisas teriam dois corpos: o físico, que todos podem ver, e um segundo "corpo energético" que o efeito Kirlian exibiria em suas fotos [tomadas em campos elétricos] de alta freqüência. O corpo energético não parecia ser somente uma radiação do corpo físico. O corpo físico parecia refletir o que estava ocorrendo no corpo energético... Fadiga, enfermidade, estados mentais, emoções, tudo deixa sua marca no modelo de energia que parece circular continuamente através do corpo humano."(Landsburg, p. 121)
O fenômeno de Kirlian não é uma descoberta original. Trata-se de um caso particular de descarga elétrica em gases, cujo estudo estava avançado já em fins do século XIX. À temperatura ambiente, existe em um gás qualquer - inclusive no ar - um número ínfimo de íons ou partículas com carga elétrica (positiva ou negativa). A grande maioria das moléculas que constituem um gás têm exatamente igual número de cargas positivas e negativas, de modo que elas se equilibram; por isso, as moléculas não têm carga total. Quando este gás se expõe a um campo elétrico, os íons positivos e negativos se afastam e são atraídos pelo sinal oposto (em um dos lados do campo elétrico). [Lembre-se que cargas de sinais opostos se atraem e cargas de sinais iguais se repelem]. Estes íons acelerados se chocam com moléculas neutras, tornando-as ionizadas ou excitadas. Se a energia transferida pelo íon à molécula é suficiente, a molécula perde um elétron (que é negativo) e fica positiva. Os novos íons se aceleram pela presença do campo elétrico e começam o processo de novo em uma reação em cadeia (3).
Para o efeito Kirlian interessa mais o fenômeno da excitação. Nesse fenômeno, a energia transferida à molécula não é suficiente para ionizá-la, mas desordena seus elétrons. Quando os elétrons espontaneamente se reordenam, devolvem a energia absorvida no impacto como radiação eletromagnética, que em muitos casos pode ser percebida como luz visível, a qual pode também impressionar uma placa fotográfica.
Assim, a descarga elétrica em gases pode ser observada facilmente no laboratório com um tubo que contenha gás e uma fonte elétrica de frequência variável e alta voltagem. Os terminais da fonte se conectam a dois condutores chamados eletrodos, entre os quais se produz a descarga. O resultado é muito chamativo e até mesmo bonito de se ver. É isso que acontece com o efeito Kirlian: se a iluminação é tênue, a auréola luminosa que impressiona a placa é perceptível a olho nu, como um resplendor azulado (no ar). A única novidade consiste em produzir a descarga empregando um objeto particular como um dos eletrodos, e em fotografar esse objeto durante o processo. Na verdade nem mesmo esse procedimento é novo:
"Já em 1777, o físico Georg Christoph Lichtenberg descreveu as marcas deixadas pelas faíscas no pó de um placa transparente. A partir de 1851, essas "figuras de Lichtenberg" ficavam fixadas na daguerreotipia (a antiga fotografia). Se tratava, evidentemente, há mais de 130 anos e mais de 80 anos antes, da primeira 'fotografia Kirlian'!" (Broch, p.69)
Em outras palavras, o rebatizado efeito Kirlian era um fenômeno físico bem conhecido no século passado.
2. O efeito Kirlian não é exclusivo dos organismos vivos ou dos tecidos biológicos, já que se pode produzir também uma auréola em torno de objetos inertes como uma moeda ou um papel. No livro de Henri Broch se reproduz uma fotografia de folha de papel impregnada em ácido, que apresenta uma auréola muito mais intensa que a de uma folha de árvore. Logo, qualquer objeto empregado como eletrodo em uma descarga de gases terá um halo de Kirlian. Só isso já basta para suspeitar da natureza física do fenômeno.
Não existe evidência proveniente de estudos bem controlados que demonstre que, nas pessoas, o halo de Kirlian varie com o estado fisiológico, mental ou emocional, a menos que tal estado seja acompanhado de modificações em algumas das variáveis físicas que determinam as características da descarga. Watkins e Bikel são dois investigadores que comprovaram experimentalmente a influências de algumas das referidas variáveis (4), e concluíram que a complexa interação dos fatores físicos e químicos é suficiente para explicar as diferenças entre os halos Kirlian observados.
"Dedos úmidos, pressões variáveis, diferente sensibilidade do papel, tempo de exposição e revelação foram os responsáveis pela maior parte das variações dos halos. Concluímos que não há necessidade de invocar fenômenos psíquicos (parapsicológicos) para explicar os resultados e não há evidência de que as condições psíquicas afetem os modelos de halo." (Watkins e Bickel, 1986, p. 255).
Resta dizer que tudo o que foi afirmado não nega de modo algum a existência de fenômenos elétricos nos seres vivos, um tema de ativa investigação em biologia e medicina. Estes fenômenos têm escassa amplitude - milésimos de volt - e geram correntes da ordem de microamperes. Os mecanismos que os geram são muito bem conhecidos (6), e nada têm a ver com o conceito mágico de bioplasma ou o corpo astral. Tais fenômenos bioelétricos virtualmente são incapazes de produzir efeito algum fora do organismo, devido à sua ínfima potência. De resto, seu registro na superfície do corpo requer considerável amplificação: eletrocardiograma, eletroencefalograma, eletromiograma.
Nosso último comentário sobre o efeito Kirlian concerne a seu uso potencial na medicina como técnica diagnóstica. Depois de transcorridas cinco décadas desde a sua descrição, não se encontrou sequer uma aplicação demonstrável no diagnóstico médico. Isso é curioso, em especial se considerarmos que métodos inventados muito depois demonstraram em poucos anos seu enorme e real valor diagnóstico: ultrassonografia, tomografia computadorizada com raios X e radioisótopos, ressonância nuclear magnética, etc. Ao contrário, a fotografia Kirlian permanece sendo uma curiosidade de laboratório sem mais utilidade do que servir de combustível ao charlatanismo pseudo-científico e às especulações ocultistas.
Hoje se sabe que a foto Kirllian nada mais é do que a foto do Efeito Corona.
Normalmente a foto Kirllian é feita contra um fundo escuro o que faz a luz da descarga eletrica seja realçada e adote uma aparência fantasmagorica.
Contudo ao observamos uma foto Kirllian contra um fundo trasparente percebe-se claramente que se trata apenas do "halo" de gás ionizado ao redor do dedo da pessoa imilar aquele que se forma sob as nossas mãos quando colocamos nossa mãos sobre um daqueles Globos de Plasma:
Ou que tal ver a "aura" de uma moedinha?
Leia mais sobre o efeito corona aqui.
Um comentário:
BERlissimo o seu blog. Interessante. Parabens.Tenho um muito simplório, estou lhe convidando a visitar, se possivel agente segue juntos por eles. Abraços de verdade
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