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sábado, 17 de setembro de 2011

Computador pessoal vai ficar restrito aos nichos

O computador pessoal vai ser substituído pelos tablets e pelos smartphones. O uso do PC ficará restrito a nichos profissionais, que somarão no máximo 6% do total de usuários de internet.
Essa é uma consequências da conexão móvel à internet previstas pelo pesquisador Jeffrey Cole, diretor do Centro para o Futuro Digital da University of Southern California (EUA) que estuda o impacto da tecnologia digital sobre o comportamento das pessoas.

Ele foi consultor da Casa Branca para questões de telecomunicações e mídia nos governos de Bill Clinton e de George W. Bush. Coordena um projeto de acompanhamento da internet em 34 países. O Brasil foi recentemente incorporado ao estudo.

Cole esteve em São Paulo, nesta semana, para uma palestra no Futurecom 2011.

Leia os principais trechos da entrevista dele à Folha.


Folha - Estamos nos tornando escravos da internet?
Jeffrey Cole - Os adolescentes estão viciados em conexão. Tirando o tempo de escola e de sono, eles não tiram os olhos da tela. Até pouco tempo atrás, esperávamos dois dias por uma carta. Agora queremos resposta imediata para os e-mails. Muita gente não dorme sem responder todos os emails de sua caixa; e quando acorda corre para checar novas mensagens.

Esperava-se que a internet diminuiria o tempo de trabalho das pessoas. Isso aconteceu?
A internet trouxe vários benefícios, mas aumentou o tempo de dedicação ao trabalho. Para cada hora que o empregado se dedica a assuntos pessoais no escritório, ele passa três horas em casa, fazendo coisas do trabalho.

O que o centro que o senhor dirige pesquisa?
Começamos a pesquisar o impacto da tecnologia digital sobre as pessoas em 2000. Nos anos 90, pensávamos que os usuários de internet tinham olhos vermelhos e não dormiam; que não faziam exercícios e eram mais gordos do que os outros, e que faziam amigos do outro lado do mundo, mas não conheciam seus vizinhos.
Nossa primeira pesquisa mostrou que os jovens gastavam mais tempo participando de esportes do que na frente do computador; que ficavam mais cara a cara com os amigos do que conversando com eles pela internet, e que eram menos solitários do que os nerds dos anos 90.
Agora, que a internet chega a 80% nos EUA, pesquisamos se ela está melhorando a educação; se os estudantes estão mais perspicazes; se usam a internet para pesquisar preços e comprar nas lojas físicas e seu uso como instrumento de engajamento.
Também monitoramos o impacto sobre os jornais.

Que futuro o senhor antevê para a mídia impressa?
Até dois anos atrás, eu dizia que quando os jornais perdiam um assinante ele não era substituído. Com os tablets, isso não é mais verdade. Os jornais eletrônicos têm um grande futuro.

Vocês conseguiram prever que a internet teria tal impacto?
A televisão foi a única mídia de massa que surgiu com sucesso previsto, por causa do rádio. Se as pessoas adoravam a voz, obviamente iriam querer a imagem.
Não conseguimos antecipar que as pessoas passariam a publicar suas ideias na internet, que criariam seus próprios programas de TV e que iriam gerar conteúdos.
Tampouco previmos o surgimento das redes sociais e que os negócios teriam transformações tão profundas.

Até que ponto a internet já impactou os negócios?
Não existe um tipo de negócio que não tenha sido afetado. Até os serviços funerários nos EUA e na Europa.
Eles tiram vantagem do momento difícil dos parentes e passam a ideia de que o gasto com o morto é uma demonstração do quanto era amado. Ninguém compara preços. A CostCo, segunda maior varejista dos EUA, vende caixões pela internet, com preço 80% menor do que o da casa funerária. A web ilumina os lugares escuros.
Elvira Lobato (somente para assinantes)

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