É possível analisar o filme “Nosso Lar” sob duas óticas. A película tem uma estética fraca, com cenas idílicas complmetamente inúteis. O filme, que vem fazendo grande sucesso entre os espíritas, católicos-espíritas e brasileiros em geral que gostam das histórias de Chico Xavier, conta a história do médico André Luiz, que ao morrer se depara com a “vida após a vida”.
Assim que ele morre, vai parar no que os espíritas chamam de “umbral”, cujo cenário é uma cópia mal-feita dos lugares tenebrosos da Terra Média do" Senhor dos anéis". Lá ele encontra os espíritos obsessores, maus como pica-paus e que parecem ter saído do clipe "Thriller", de Michael Jackson, no melhor estilo "zumbi porcamente maquiado". Após sofrer muito, ele é socorrido por espíritos de luz, com suas roupas brancas e cafonas, que com certeza não custaram muito caro para a produção do filme. Então ele é levado a um hospital futurista, no “Nosso Lar”, a colônia espiritual que paria sobre a Terra, conforme conta seu novo camarada, o espírito Lisias lhe conta mais adiante.
Aos poucos, André vai percebendo que não se livrou do capitalismo: precisa trabalhar para poder ver sua família, para poder usar uma espécie de lan house espiritual, com direito a computadores. Em um momento, André é levado para a casa de amigos, onde toma novamente uma bendita sopa servida pelos espíritos. Ou seja, se você morrer e sentir saudade do churrasquinho camarada, esqueça.
O mundo espiritual é mostrado no filme como uma mistura de Brasília com cidade do futuro, com direito a ônibus voadores e uma estrutura burocrática, com ministros, governadores e hospitais públicos. Gostaria que fosse explicado se esta inchada e grande máquina pública surgiu democraticamente ou se é uma espécie de ditadura, mas isto ninguém conta na história.
Aliás, o enredo, inspirado no livro de Chico Xavier, é recheado de críticas e indiretas aos céticos. André Luiz, que era cético durante a vida, ouve frases do tipo “ ceticismo só dura até a morte” e ao ver um grande prédio pomposo e branco na colônia espiritual, ele fala “Meu Deus”. Seu amigo Lísias então responde, com sarcasmo: “Ah, então você acredita nele..pensei que fosse um ateu graças à Deus”.
Para mim, parece que esta grande obra espírita tem uma espécie de implicância com quem não crê, no estilo “quando vocês morrerem, vão ver só, seus bobos”.
O filme é recheado de passagens clichês e piegas de bom-mocismo, bem características dos livros de Chico Xavier. Ou como diria o grande Machado de Assis, que criticou o espiritismo, “filosofia de armarinho”.
A história têm alguns momentos que parecem puro plágio de “Ghost”, como quando André ensina sua filha à tocar piano. Apesar de uma boa parte da mídia ter elogiado os efeitos especiais, achei-os todos muito fracos. O filme é tratado surpreendentemente como um relato verídico, como quando nos créditos finais é dito que nosso espírito boa-praça André ainda trabalha em Nosso Lar.
Comecei o artigo falando sobre como é possível analisar o filme. Se você acredita em toda esta história de reencarnação, vai sair do cinema chorando, emocionado e acreditando que ao morrer vai viver em um mundo colorido, florido e com concertos de música clássica em uma colina verdejante sob o sol. Porém se o espectador for cético, não ver nenhuma evidência para acreditar nesta história clichê e completamente irreal, vai lembrar que já fizeram filmes bem melhores do que este, onde se incluem quase todos da história do cinema nacional.
“Mas você não viu nada de positivo na história?”, me perguntarão alguns. Ao chegar em “Nosso Lar”, André é tratado como suicida, por ter tido uma vida desregrada e nababesca. Será que alguém deixa de ser sedentário por causa das obras espíritas? Talvez, mas não é preciso ler ou assistir toda esta história floreada para perceber isto, cujas consequências são sentidas em vida e não após a morte, obviamente. O filme também têm algumas pinceladas sobre caridade e ajuda ao próximo, a qual é totalmente independente da crença floreada espírita.
Trailer:
Leia também:
Considerações sobre o espiritismo
Machado de Assis sobre o espiritismo
9 comentários:
Não é só você que critica essa porcaria: http://mauriciostycer.blog.uol.com.br/arch2010-09-05_2010-09-11.html
Fala, Aurélio!
Hehehe...foi com certa surpresa que vi sua participação por aqui.
Primeiro quero te dizer que achei interessante suas observações sobre o filme. E também te achei CORAJOSO, uma vez que a maioria das pessoas dessa comunidade são extremamente tendenciosas. Elas não conseguem ver o filme além de suas emoções. Para elas o que vale é frases do tipo: "Gente, eu chorei muitooooo", "O filme é fantásticoooo", "Nossa, a cena em que ele encontra a mãe dele me fez cair em prantos" ou ainda "O filme é o melhor já feito nesse país" e por aí vai...
Confesso que esse filme causou em mim um sentimento DÚBIO. Vc. sabe, eu também sou jornalista e o vi de duas formas: com espírito (sic) crítico e como uma pessoa simpatizante do kardecismo.
ESPÍRITO CRÍTICO
1 - Não sei onde foram investidos os tais "20 milhões". Aliás, essa grana mais parece o que foi pago para os técnicos estrangeiros do que para recursos de som e imagem. Aliás, achei o som RUIM! a música era alta demais e os diálogos mais baixos.
2 - Aquele aspecto futurista do filme me lembrou MUITO alguns filmes de ficção científica que assistia quando garoto. Algumas vezes, eu tinha impressão de que o André Luiz chegou em um outro planeta habitado por seres energéticos. Jornada nas Estrelas tinha um episódio meio assim...rs
3 - A julgar pela INQUIETUDE do André Luiz, até que ele se acostumou rápido aos padrões estabelecidos pelo "Nosso Lar" que, pelo que consta, fica bem acima do Rio de Janeiro (??!!!). E aí fica aquela sensação do tipo: "PÔ! eu morri e CONTINUO tendo que obedecer o sistema para "evoluir"". Claro que, existe o Livre Arbítrio e aí vc. COM CERTEZA, se dará mal, como foi o caso daquela personagem revoltada que tentou sair de lá.
4 - O filme também passa uma idéia de que vc. sofre uma lavagem cerebral, afinal, vc. só vai ouvir música clássica, meditar, andar de aerobus, meditar, ajudar espíritos enfermos e etc. E aí eu pergunto: isso tudo não pode ser meio CHATO? Não existem outras formas de prazer nesse Nosso Lar?
Muito bom texto.
Sintetiza com clareza o que é o filme.
O que me surpreende é que há tanta coisa mais interessante para ser filmada e nego insiste em filma o vida e obra do Chiquinho de Uberaba.
Meu caro, eu não persigo o espiritismo.
Eu refuto e discordo deste. Mas não vou xingar quem acredita nele.
Abraços
Jornalisticamente, não sei se já viste mas, em caso positivo, o que achastes de outro filme também de forte cunho religioso, The book of Eli (O livro de Eli)?
UM abraço!
Marcelo
É necessário misturar o espiritismo com cristianismo ou inventar coisas como o umbral, por que o espiritismo levanta as inquietações associadas a qualquer tipo de explicação:
- No caso de se acreditar em espírito: se o espírito é imortal e vai viver depois da morte, o que se fizer com o próprio corpo ou com o corpo dos outros não teria muito problema: somos por natureza indestrutíveis, continuaremos vivos, no fim vamos rir de tudo isso. Então, se espíritos existem tudo é permitido. Estamos livres para fazer o que bem entendermos. Mas, é claro que as coisas não podem ser assim: tem que existir alguma base para a moral, alguma punição para o mal, algum plano, algum reflexo do comportamento no espírito...
- No caso de deus: se deus existe tudo é permitido, pois tudo que eu fizer foi previamente planejado por ele.
- Se formos apenas produto de reações químicas e evolução, resultados de um processo, de uma natureza amoral, brutal e indiferente – por que deveríamos nos preocupar com moral. Se evolução é verdade, tudo é permitido.
A idéia de que seremos punidos por beber, comer ou farrear demais, me lembra de uma discussão recorrente, num ambiente onde o álcool e a fé em deus são presenças constantes. Geralmente tentam colocar este vício como prova de que os comportamentos indevidos são as causas das doenças mais terríveis (Deus não faz mal a ninguém que não mereça). Mas levanto sempre a questão:
É verdade que o abuso de álcool, cigarro ou uma vida desregrada aumentam o risco de doenças, mas os vícios, em muitos casos, podem ter predisposição genética. Então, se existem comportamentos inatos, não seríamos responsáveis por nossos atos em última análise. Por que no fim das contas algum deus nos puniria por algo que não temos a menor culpa? Alguns dirão que estaríamos pagando por erros na vida passada? Mas não é sem sentido ficar pagando por um erro sem ao menos conseguir lembrar qual erro terrível cometemos no passado? Alguns até dizem que no fundo estas pessoas descarriladas têm é a alma fraca (eufemismo para espírito de porco).
É necessário misturar o espiritismo com cristianismo ou inventar coisas como o umbral, por que o espiritismo levanta as inquietações associadas a qualquer tipo de explicação:
- No caso de se acreditar em espírito: se o espírito é imortal e vai viver depois da morte, o que se fizer com o próprio corpo ou com o corpo dos outros não teria muito problema: somos por natureza indestrutíveis, continuaremos vivos, no fim vamos rir de tudo isso. Então, se espíritos existem tudo é permitido. Estamos livres para fazer o que bem entendermos. Mas, é claro que as coisas não podem ser assim: tem que existir alguma base para a moral, alguma punição para o mal, algum plano, algum reflexo do comportamento no espírito...
- No caso de deus: se deus existe tudo é permitido, pois tudo que eu fizer foi previamente planejado por ele.
- Se formos apenas produto de reações químicas e evolução, resultados de um processo, de uma natureza amoral, brutal e indiferente – por que deveríamos nos preocupar com moral. Se evolução é verdade, tudo é permitido.
A idéia de que seremos punidos por beber, comer ou farrear demais, me lembra de uma discussão recorrente, num ambiente onde o álcool e a fé em deus são presenças constantes. Geralmente tentam colocar este vício como prova de que os comportamentos indevidos são as causas das doenças mais terríveis (Deus não faz mal a ninguém que não mereça). Mas levanto sempre a questão:
É verdade que o abuso de álcool, cigarro ou uma vida desregrada aumentam o risco de doenças, mas os vícios, em muitos casos, podem ter predisposição genética. Então, se existem comportamentos inatos, não seríamos responsáveis por nossos atos em última análise. Por que no fim das contas algum deus nos puniria por algo que não temos a menor culpa? Alguns dirão que estaríamos pagando por erros na vida passada? Mas não é sem sentido ficar pagando por um erro sem ao menos conseguir lembrar qual erro terrível cometemos no passado? Alguns até dizem que no fundo estas pessoas descarriladas têm é a alma fraca (eufemismo para espírito de porco).
Perfeito.Alguém tem de enchergar a falta de coerência e lógica nessa palhaçada.
Postar um comentário