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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Uma Testemunha de Jeová me visitou

Fazia tempo que eu reclamava que nenhum Testemunha de Jeová batia em minha porta para conversar. Mas, hoje, isso mudou. Eu estava começando a trabalhar quando tocaram a campainha. Como eu ainda estava de pijama, pedi que me dessem um minutinho para trocar de roupa. Subi correndo para o quarto, coloquei camiseta e bermuda, peguei meu cigarro e voltei para a frente de casa.

Eram duas mulheres, uma mais velha e outra menina de uns 19 anos. Então, a mulher mais velha começou a perguntar o que eu achava que seria o mundo daqui uns 10 anos. Disse a ela que eu vejo a sociedade de 10 anos depois praticamente da mesma maneira que a de hoje, pelo fato de os problemas sociais não serem resolvidos como tem que ser. A base para uma boa sociedade é educação e oportunidades, e, se isso não acontece porque os governantes são os mesmos e porque haverá pessoas de bem e mal na mesma proporção de hoje. Mas, para apimentar um pouco a conversa, disse “espero que daqui a 10 anos haja menos religião no mundo”.

Nesta hora, a mulher começou a divagar sobre algumas coisas, como por que as rosas são como são, por que o céu é azul, por que os bebês nascem. Então eu comecei a explicar algumas coisas sobre religião e ciência. Falei para ela que religião, aqui no Brasil, é um traço cultural, pois não somos uma teocracia. Então falei brevemente sobre a criação das religiões, por que as pessoas inventam deuses e pulei bastante no tempo até chegar na parte do conhecimento científico. Para que ficasse mais fácil para ela entender, tracei um paralelo na sociedade à época da Inquisição. Como a igreja católica era uma instituição dominante, ela detinha o conhecimento – que, àquela época, julgava-se que conhecimento religioso era conhecimento produtivo, hoje é apenas conhecimento cultural. Até o final da Inquisição, a ciência não progrediu em quase nada, já que tudo que se opunha à igreja era apagado, até as pessoas. Bem, com o final da Inquisição e o movimento Iluminista, a ciência deu largos passos, proporcionando o conhecimento que temos até hoje.

Então, ela argumentou que muitas pessoas morrem na internet hoje em dia, e que isso é por causa da evolução tecnológica. Apenas expliquei para ela que a internet no Brasil tem por volta de 15 anos dentro das casas. Portanto, tornou-se uma ferramenta para emboscadas que culminam em assassinatos. Só que a proporção em que isso acontece é ínfima e que a mídia propaga de uma maneira descontrolada porque, na sociedade brasileira, isso ainda é novidade. Falei: “hoje, por volta de 10% da população tem curso superior. A população em universidades é pequena ainda. Por isso, quando acontece um assassinato em uma universidade é algo estrondoso, exatamente porque julgamos improvável que tal coisa aconteça dentro de uma instituição de ensino”.

Com o paralelo da Inquisição, expliquei para ela por que o céu é azul. Disse: “o céu não é azul porque deus quis. Deus não existe. O céu é azul por causa da refração da luz sobre as gotículas de água presentes no ar. Não tem deus nisso”. Foi aí que a mulher começou a ficar confusa. Disse: “hoje as pessoas têm o direito de escolher como pensam. É por isso que você veio bater em minha porta fazendo proselitismo religioso e eu estou devolvendo em ateísmo. Estamos tendo uma conversa saudável aqui. Só estou mostrando para você como eu vejo o mundo. Você perguntou para mim o que eu acho errado nas sociedades hoje, e eu te digo. Eu acho muito errado as pessoas usarem a religião como um meio de vida bloqueando o avanço intelectual dentro de um país em que religião é só cultura. Por que a sua amiga aqui, que é bem mais jovem que nós dois, poderia estar numa escola ou numa faculdade a essa hora da manhã”.

A mulher disse que eu sou uma pessoa muito inteligente e respeitosa. Eu disse a ela que não sei se ela teve sorte ou azar de ter topado comigo nesta manhã. Ela me ofereceu uma revistinha cuja matéria de capa é sobre o avanço do ateísmo no mundo. Eu disse: “o ateísmo avança no mundo porque o conhecimento se expande muito agora. Quem abandona uma religião o faz por decepção ou porque ela não provém tudo que esta pessoa exige para suprir suas necessidades intelectuais”.

Ela me agradeceu pela atenção e foi embora com uma interrogação de 30 metros de altura enfeitada como uma pichorra. E minha mãe não se conforma de eu ter trocado de roupa para conversar com as duas. Mas eu achei ótimo.

Por Luiz Guilherme Amaral.

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