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sábado, 26 de junho de 2010

Resposta a um saudosista irracional





Pela internet, li as reclamações de um garoto, que se acha uma espécie de Arnaldo Jabor. Quer dar uma de niilista e reclamão, mas fracassou fragorosamente em sua tentativa. Vejam o que ele falou em seu blog:




"Quero o velho mundo, a volta ao mundo em 80 anos ou mais, muito mais. Chamem como quiser: careta, quadrado, ultrapassado. O fato é que sinto saudade de um tempo que não mais existe. Sinto saudade de um tempo que não vivi.

Quero um mundo espontâneo, original, real. Nada de virtualidades, que tornam tudo mais fácil. Até parece masoquismo, mas eu gosto mesmo é do desafio, das cartas que demoram a chegar, das viagens longas e fatigantes, dos chiados nos velhos discos. Não quero tecnologia, fast food, MP não sei das quantas... nem sei o que é um conversor digital! 

"Mas, Bruno, você está na Internet". Sim, eu sei, da Internet eu não abro mão. É uma coisa que pode ser útil, e já que existe eu me utilizo dela para tais utilidades, inclusive compartilhar minhas idéias com o mundo. Mas, sinceramente, eu preferia que não houvesse também este veículo.

Quero o mundo de outrora, de dantes, quando se escrevia "pharmacia", "Parahyba" e "phtysica". Quero o mundo das rodas de amigos, seja fazendo mesa redonda em bares, seja discutindo política nos porões clandestinos. O mundo da gratidão, do afeto, do respeito ao próximo e da boa convivência. Quero o mundo sem drogas, mas com o ar puro, o cheiro da relva. 

Nos dias de hoje, bonito é ser "far-down", que para quem não sabe é algo como "cabisbaixo". Pode uma coisa dessas? Por que tanta obsessão por línguas alienígenas? E quem é o mentecapto que quer "estar para baixo"??? Antigamente, um bolachão de vinil girava 78 vezes por minuto e só trazia duas músicas, uma de cada lado. Hoje, um aparelhinho microscópico agrega dentro de si cerca de 1000 arquivos! Isso é bom? Vai da visão de cada um, mas com certeza não é o que eu acho.

Quero o mundo antigo, o mundo que acabou, morreu, desmundou. O mundo que deixou de ser mundo para virar um globo na imensidão do espaço. Nada mais. Nem necessita definição, é esta a realidade: o mundo é só uma esfera girando no infinito. E nós, que o povoamos, somos robôs, máquinas, celulares, i-pods. Não vivemos, funcionamos."

Somos programados para obedecer, comprar, beber, fumar, roubar, matar, ter olho gordo.

Será que eu estou atrasado? Ou conservadores são aqueles apegados demais a noitadas, salas de bate-papo, academias, piercings e tatuagens? Isso é você, caro leitor, que deve refletir e responder. Quanto a isso, me abstenho e deixo livre a discussão. Mas o mundo que eu visualizo está longe de ser o mundo que eu vejo. "


Resposta:


"Bruno, como você quer o retorno aos anos 80 se nem nos 90 nasceu, guri de
12 anos? Você sonha um sonho que, se colocado em prática, levaria ao desastre cabal das sociedades humanas. À primeira vista, seu projeto é semelhante ao de Rousseau: a negação das sociedades industriais, o retorno ao campesinato, a idéia de que a sociedade ocidental moderna é “corrupta”, e para retornar à “Era de Ouro” da civilização, à era do “bom selvagem”, devemos destruir os fundamentos dessa civilização. Você aspira a uma época de destruição, portanto. Agostinho dizia que o homem nasce corrupto pelo Pecado Original. Rousseau atribuiu a corruptibilidade à sociedade moderna, isentando o homem da mesma. É nobre, portanto, seu sonho? Sua idéia não é nova: data do século XVIII da era moderna. Tampouco pode-se supor que alguém que compreenda prima facie como isso levaria à dizimação de bilhões de pessoas, então que é alguém em plena sanidade, exceto pela ignorância.


Em primeiro lugar, ao compreender as regras de mercado conclui-se que a
especialização tecnológica nasce da 
demanda por ela pela própria sociedade dos anos 80. Como nela você não nasceu, vou lhe contar: tínhamos computadores da linha 386 Intel que demoravam horas para fazer cálculos mais complexos. Nossos celulares, para falar nossos familiares, custavam mais de 1000 dólares e pesavam um tijolo, somando- se a isso a má qualidade da ligação. Os “fast foods” tiveram sua gênese do pouco do trabalhador para gastar horas em um almoço à servir a uma sociedade em expansão demográfica. Uma coisa interessante: na época em que se escrevia “Pharmacia” você morreria de cólera, tifo, tuberculose ou de qualquer enfermidade tratada através de medicamentos cujo preço fora declinando em razão da competição de mercados e da produção em larga escala.


Uma sociedade “perfeita” (para você) é aquela em deveríamos voltar para
antes da Primeira Revolução Industrial: antes do aumento populacional intenso que a humanidade teve. O que vemos é: a população cresce, e, portanto, a demanda por meios que tornam nosso tempo de trabalho e lazer maior continuará a ser exigida. Se você
invertesse a sociedade, cairia no caos: faltará alimento, miséria inaceitável, porque não terão indústrias para alimentar bilhões de pessoas. Doenças já eliminadas retornarão à tona, a barbárie circularia e a sua sociedade que cometeu auto-suicídio começaria
tudo de novo: a sua “revolução antiga” é não só a negação daquilo que mantém vivos bilhões de pessoas, mas o desejo de extinção consciente ou não da espécie humana. Em um século XX construído por engenharias sociais, considero imoral alguém propor um projeto rousseauniano desses.
Nós não somos programados coisa alguma: temos a liberdade de viver ou não
em sociedade. Você pode muito bem ir morar na roça, no meio do mato, se quiser.
Aposto que não sobreviveria uma semana. Já fez essa experiência? Ter de caçar para viver? Ter fogo com fogueiras? Sem medicamentos, sem roupas prontas? Faça isso e você dará valor à engenhosidade humana derivada do trabalho científico que resultaram na qualidade e expectativa de vida humana em nível incomensurável. Seu sonho, na verdade, é um pesadelo real. Reflita. Abraços."

3 comentários:

jader resende disse...

Acompanho com atenção o seu blogue e é ele que me chama atenção.
Muito interessante seu ponto de vista e bastante esclarecedor, me parece que a valorização do trabalho científico deve ter como fator principal a preservação do planeta e pelo que vejo o senhor Neddo Sandro tem toda razão, numa entrevista diz " Não estou dizendo que vamos voltar à idade média. Estou dizendo que vamos ter sorte se não voltarmos à idade da pedra"
Se referindo a irresponsabilidade na destruição da terra. Complementado pelas guerras, acidentes como o petroleo no golfo e por ai vai.
Abraços

Bruno Melo disse...

Caro colega, algumas dissertações:

- Tenho, na realidade, 15 anos incompletos, os quais se completarão daqui a dois dias. Portanto, nasci em 1995.

- Não abro mão de muita coisa nova. Também não creio que podemos avaliar o passado com os olhos de hoje. Daqui há 100 anos, nosso tempo será visto como um atraso, mais por exclusão de defeitos que por inclusão de qualidades. É a nivelação por baixo.

- Gosto de várias épocas. Ficaria contente em ter vivido nos anos 70 e 80, mas também tenho simpatia pelo Estado Novo, pela Europa do século XVIII e pela Belle Époque.

Abraços.

Leonardo Ferreira disse...

Pura ilusão, o tempo sempre passará, e sempre tentaremos nos confortar no passado, quando na realidade, o presente nos oferece soluções e facilidades que nenhum humano de décadas passadas iria descartar. Tudo acaba, tudo deixa saudade, a mesma saudade que você irá sentir dos dias de hoje, daqui 10, 20 ou 30 anos.