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domingo, 13 de junho de 2010

Cruzada do politicamente correto


Family Guy:Isso sim é "politicamente incorreto".


No orkut, um cidadão falou que eu era preconceituoso contra portadores de síndrome de down apenas porque chamei o autor de um tópico de retardado.

Ele falou:



09:39 (2½ horas atrás)

Carlao

na minha modesta opinião..voce foi um tanto infeliz ao fazer esta "piada politicamente incorreta"..
pois assim vc vai levando o portador de deficiência a uma situação de segregação..fortalecendo o preconceito e a marginalização de pessoas com deficiências no contexto social..
é uma manifestação explícita das muitas barreiras atitudinais que de tão danosas são abomináveis..
esse tipo de "justificativa"..portanto nutre a inércia social..o conformismo..o comodismo..os estereótipos..sustentando comparações que geralmente focalizam a deficiência em detrimento da essência humana..logo...não há justificativa racional,ética,moral ou científica para tais comparações...

e vc não deve desculpas a mim.. e sim a sociedade............e a vc mesmo....



A resposta que eu dei serve para qualquer um que não gosta do politicamente incorreto:



"Partirei de um fato óbvio e evidente para todos: existem diferentes níveis de inteligência entre as pessoas. Algumas têm mais facilidade com abstrações e ciências formais, como as matemáticas. Outras se destacam com sistemas, seja computacional ou biológico. Alguns têm mais perspicácia ao compreender piadas, outros não. Sinceramente desconheço os mecanismos epigenéticos da inteligência, mas concluo: trata-se de déficit da mesma.



A princípio, rejeito sua proposta de “politicamente correto”. O julgamento do que se considera “correto” ou “incorreto” deve ser realizado no âmbito da consciência individual, e não no viés coletivista. Ao aceitar o que outrem (um grupo político, ou universidades, ou abstrações como “sociedade”) diz ser aceitável sobrepujando o julgamento individual e esmagando o escrutínio de valores imbutidos nessa proposta, você demonstrou estar à mercê de uma imposição coletiva moderna, inserido em um ambiente cultural que segue normas valorativas tributadas: o “você” e seu julgamento moral é não é resultado do que você, como sujeito individual e independente conclui ser correto ou incorreto, mas sim o que abstrações coletivas como “sociedade” ou o que qualquer grupo define ser. Simplesmente: você extirpou sua consciência moral, está submetido a valores que não provêm de você, por conseguinte você não tem autoridade para falar em “moral”. Moral é um julgamento, por definição, individual, inerente à consciência do sujeito que o realiza. Como poderia discutir com um sujeito que, ao invés de seguir o que deveria ser resultado de sua obra intelectual particular, transporta um pacote de lugares comuns definidos pelo “politicamente correto” e uma gama de termos “clichês” tais como “segregação”, “marginalização”, “inércia social”, etc., e ainda quer falar de “racional”, “moral” e “ciência”? Contradição: moral é um julgamento particular, e não coletivo. Seus valores são coletivos, nunca confrontados com o crivo do julgamento individual. Você repete, tal como um papagaio, termos compartilhados com qualquer pseudointelectual de ensino médio: isso todo mundo faz. Não há respeito para com um sujeito que não pensa, mas é pensado por outrem. Falarei mais sobre a piada que realizei.


Você diz que uma piada que envolva a enfermidade de Down é “politicamente incorreta”. Já critiquei essa posição: malgrado seguir imposições sem respaldo na consciência de julgamento, seu argumento é falso. Primeiro: não aceito imposições de quem quer que seja. O que considero correto é o que EU avalio, mas nunca o que querem me forçar a seguir: isso é ser crítico, o que você não foi. Ademais, você não embasou sua argumentação (na verdade acusação) ao dizer que piadas com os portadores da doença os levariam a uma maior ‘segregação’ e ‘marginalização’: trata-se de uma frase feita, sem análise prévia, sem demonstração, puro senso comum. Nada tenho contra os afetados por essa anomalia genética: merecem respeito como todo o mundo, são humanos e merecem amor, carinho e afeto. Quando usei da piada, quis enfatizar o elemento retardatório, ou seja, retardamento mental, que os portadores da doença factualmente têm. Tanto é que, embora sofram de retardo, é mais que evidente que alguns “normais” não estão longe disso: a dificuldade para apreensão de humor, a falta de senso crítico, a repetição compulsória de lugares comuns já prontos bem como a ausência de bom senso, me fazem concluir: quão distante estaria uma pessoa desse calibre de alguém com síndrome de Down? Ademais, eu diria que, à parte a questão da inteligência, prezo mais pelos nossos amigos com Down do que pelos papagaios.

Para concluir: eu uso os termos que quiser. Não vejo qualquer evidência de que isso agravaria “preconceito” ou “marginalização”, mesmo porque você não argumentou, apenas proferiu afirmações. A arte de argumentar é embasar proposições com fatos, análises ou outros indícios aceitáveis. Não somos todos iguais, caro amigo: a “igualdade” humana é uma falsa abstração. Há deficientes, e devem ser respeitados. Mas não vejo razão para respeitar alguém que despreza o senso crítico humano inerente a todos nós. Essa é a minha posição. Passar bem."

Um comentário:

Hotel Crônica disse...

Este foi o melhor post que li nos últimos tempos...
Realmente me faz refletir bastante, concordo com grande parte do que você diz, me faz lembrar um pouco o utilitarismo de Bentham e Mill, que, embora controverso em certos pontos, merece destaque por centrar no indivíduo o entendimento da moralidade, assim como você fez.

Abaixo ao "politicamente correto" !!
Por um país mais consciente e sem frases prontas !

Abraço de quebrar a costela,
Te seguindo !

Hotel Crônica