por Luis Ruiz Noguez
“Contatos de Quarto Grau” (The Fourth Kind, 2009) é um thriller provocativo que ocorre no povoado de Nome, Alaska, onde — “misteriosamente” desde a década de 1960 – a todo ano resulta um número desproporcional de pessoas desparecidas.
O diretor e escritor do filme, Olatunde Osunsanmi, diz que esta foi baseada em fatos reais. Supõe-se que desde a década de 1960 ocorreu uma série de desaparecimentos e mortes misteriosas.
Nesta remota região, a psicóloga Dra. Abigail Tyler (interpretada por Milla Jovovich) começa a filmar suas sessões de hipnoterapia clínica com pacientes traumatizados e, sem saber, descobre algumas das evidências mais inquietantes de abduções alienígenas que já foram documentadas.
Usando “imagens de arquivo nunca antes vistas”, integradas ao filme, “Contatos de Quarto Grau” expõe as terríveis revelações de múltiplas testemunhas. Todos os pacientes relatam ter sido visitados por figuras extraterrestre e compartilham detalhes inquietantemente idênticos.
Para mim o mais assombroso é que nunca havia ouvido falar destes casos de abdução em Nome, nem da doutora Tyler. Bem, dirão os ufólogos, não há porque você deveria conhecê-la mesmo. Verdade! Mas mesmo a comunidade ufológica crente em abduções desconhece o caso (e se supõe que deveriam estar cientes), o que é muito pouco comum…
O que há de verdade em todo este assunto? Quem é a doutora Abigail Tyler? Existe o Alaska Psychiatry Journal (onde, supostamente, a doutora publicou suas investigações)? São reais os “vídeos das sessões de hipnose”? Foram abduzidos os habitantes de Nome?
Comecemos por esta parte. Em 2005 o FBI enviou detetives de homicídios para investigar uma série de desaparecimentos e mortes sem solução em Nome, Alaska. A maioria das vítimas eram campesino indígenas. Entre os anos 1960 e 2004, mais de 20 pessoas morreram ou despareceram misteriosamente. Originalmente pensou-se que os desaparecimentos estavam vinculados a um assassino em série. O FBI determinou que não era o caso, e a conclusão final dada a conhecer em 2006 estabelece que “o consumo excessivo de álcool e um duro clima invernal” eram os culpados pelos desaparecimentos.
O Alaska Psychiatry Journal não existe. Caso se leia o chamado “estudo de caso” e pergunte a alguém que tenha tido aulas de psicologia na universidade, alguns dirão que esta não é a forma como se escreve um artigo acadêmico, não há nenhuma citação nem fontes. Também, caso se leia, é como se um estudante de primeiro ano de psicologia houvesse escrito o artigo de investigação, não um “estudo de caso” redigido por doutores. Todavia o pior é o artigo dos “doutores” Burden e Tyler.
Fazendo uma busca rápida no Whois do endereço URL, resulta que está registrado através de uma companhia de fachada, preservando assim a identidade dos responsáveis, o que torna o site anônimo. E que nem sequer existia até 13 de agosto de 2009. Assim há dúvidas muito sérias de que seja legítimo e, o mais provável é que seja marketing viral do filme. [O site já se encontra fora do ar, poucos meses depois].
Tudo isto nos leva à conclusão de que os websites que mencionam a doutora Tyler são um estratagema de marketing viral, como a promoção para o filme 2012 e o Institute for Human Continuity.
Buscando no diretório do Estado, as organizações psiquiátricas, as universidades que proporcionam licenças, de nenhum deles consta a doutora ou sua prática. Na web há uma falta geral de informação, escolástica e pessoal de Abigail.
Outro problema são as cenas de Nome que aparecem nos “clipes reais”. A cidade que se mostra não é Nome, Alaska. Nome está em Sonda, não encravada em um vale de montanha. “O diretor da Câmara de Comércio de Nome, Mitch Erickson, viu trechos do filme. ‘Essa Nome fictícia é um lindo lugar’, disse. ‘Gostaria que tivéssemos essas árvores’. A Câmara Oficial de Comércio refuta a informação e publicação do estúdio de filmagem.
Acima, comparação da Nome fictícia (esquerda) com a cidade real.
Com relação aos mesmos “clipes reais” ou “imagens de arquivo”. Toda menção a eles está em sites suspeitos que não têm informação de contato, que surgiram coincidindo com o lançamento do filme.
Finalmente, o próprio site do filme nos proporciona vários links, mas nenhum deles relacionado às supostas abduções de Nome. Há um blog em particular que descreve toda a atividade ufológica no Alaska. Para Nome só há 8 casos que vão de janeiro de 1908 a setembro de 1967. Nenhum deles é de abdução e não há nada nos anos 2000.
[Após o lançamento do filme, em novembro de 2009, jornais do Alaska também protestaram porque o marketing do filme chegou ao ponto de não apenas inventar periódicos fictícios como o Alaska Psychiatry Journal, como criar artigos falsos para publicações reais como o Daily News-Miner, que o negou veementemente.]
Fonte:Ceticismo Aberto
Um comentário:
AURELIO PARABENS PELO ARTIGO ,EXCELENTE VC DESMASCAROU O MARKETING DO FILME , HA TEMPOS QUE ESTAVA EU INTRIGADO COM ESTA PELICULA E DESEJOSO DE SABER A VERDADE
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