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terça-feira, 15 de novembro de 2011

Historiador fala sobre a Proclamação da República



Neste dia 15 de Novembro, a nossa República faz 122 anos, mas qual o seu legado histórico? Quais mudanças ela representou para a sociedade da época e a de hoje? Traçando em linhas gerais, podemos dizer que o movimento de 15 de Novembro não alterou as estruturas básicas da sociedade brasileira. Ou seja, a miséria, a concentração de terras e de riquezas, a organização da economia, ou seja, os principais pilares do país continuavam inalterados. Então onde houve mudanças? Antes de entendermos isso, é necessário nos situarmos no contexto da época.
O Brasil em fins do século XIX já era um dos maiores exportadores de café do mundo, fazendo com que uma grande quantidade de recursos invadisse o país, fazendo crescer uma elite, principalmente no eixo RJ-SP, modernista, sonhadora, que queria copiar o modelo de desenvolvimento urbano-industrial da Europa para o Brasil. Mas, ao mesmo tempo, viam a Monarquia como algo anacrônico, ultrapassado e que não tinha condições de responder aos anseios da nova sociedade que estava emergindo. Desta forma, a oposição ao Império e a D. Pedro II passa a crescer com o surgimento dos Partidos Republicanos, com destaque ao Paulista (PRP), formado basicamente por cafeicultores, que dariam o golpe de misericórdia na Monarquia ao retirarem totalmente seu apoio a D. Pedro II após a abolição, pois estes ainda acreditavam firmemente que a mão-de-obra escrava deveria continuar sendo utilizada nos cafezais e não concordavam com a libertação dos escravos.


É importante também frisar que o movimento foi pensado na esfera civil-militar, mas conduzido pelos militares, que desde a Guerra do Paraguai, haviam se estruturado e ganhado influência na sociedade, o que os fez almejar uma participação na política, fato que irá ecoar ainda durante todo o século XX. Interessante também dizer que o suposto líder do movimento, Deodoro da Fonseca, era um monarquista e aderiu à contragosto à revolta. Só aceitou nos últimos instantes, e estava em condições precárias de saúde, tendo que ser auxiliado em vários momentos, o que contradiz as imagens e quadros da época.
Desta forma, o cerco ao Império ia se fechando, perdendo apoio de todos os lados. Quando D. Pedro II viu que havia sido vítima de um movimento conspiratório, tentou agir, mas já era tarde. Resolveu não oferecer resistência e partir com a família real para o exílio na Europa.

Como sabemos então, a República foi um movimento de elites, sem a participação popular. Após a proclamação do movimento, os revoltosos fizeram um desfile no Rio de Janeiro, onde segundo uma famosa frase de Aristides Lobo, Ministro do Interior do primeiro governo republicano, disse que o povo assistiu a tudo bestializado, já que não sabia do que aquilo se tratava.Essa simples frase marca a forma como os acontecimentos políticos se deram no país. A população pobre nunca foi chamada para os movimentos de mudança e de construção de algo novo. Quando quis participar, foi reprimida com violência. Isso acontece até hoje e é uma característica da nossa República, fundada por poucos, governada por e para poucos.
Onde então houve mudanças com o novo regime? Podemos citar algumas:
- Adoção do regime federalista, com a transformação das antigas províncias em estados, em clara alusão ao modelo estadunidense.
- Separação oficial entre Igreja e Estado e instituição do casamento civil.
- Convocação para a Assembleia Constituinte.
- Reforma do código penal


Como já afirmado no início, a República então começava com o pé esquerdo, pois tinha nos discursos a novidade e a palavra “povo” sendo usada a todo instante, mas somente nos discursos, pois o povo foi mantido, muitas vezes à força, longe da construção do novo país, o que fez muito autores especialistas nesta época, como Raymundo Faoro, a chamarem a República do Brasil de “República Inacabada”, pois a falta de participação popular acabou por deixar essa população fora do que chamamos de “civilização” e do acesso ao estado de direito, causando um aprofundamento da marginalização dos setores populares já histórica no Brasil e que ainda persiste até hoje. Infelizmente a nossa República permanece inacabada e já passou da hora de a concluirmos.

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