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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Empregadores adotam política de não contratar fumantes

Os fumantes agora enfrentam outro risco por causa de seu hábito: ele pode lhes custar uma vaga de emprego.

Cada vez mais hospitais e empresas médicas de muitos Estados estão adotando uma política mais rígida em relação ao tabagismo, transformando-o em motivo para descartar candidatos a empregos, alegando que querem aumentar a produtividade dos funcionários, reduzir os gastos com saúde e encorajar um estilo de vida mais saudável.

As políticas refletem uma frustração com as iniciativas mais brandas – como proibir o fumo dentro das empresas, oferecer programas antitabagismo e aumentar as mensalidades dos planos de saúde para fumantes – que não foram incentivos fortes o suficiente para deixar o hábito.

As novas regras essencialmente tratam os cigarros como uma droga ilegal. As fichas de emprego alertam explicitamente sobre as “contratações anti-fumo”, os candidatos precisam fazer testes de urina para detectar nicotina, e os novos funcionários que são pegos fumando são demitidos.

Essa mudança – de empresas livres de fumaça para empresas livres de fumantes – desencadeou um debate acirrado, mesmo entre os grupos antitabagistas, sobre se a política estabelece um precedente complicado para que os empregadores se intrometam na vida privada para banir um hábito legal. “Se companhias suficientes adotarem essas políticas e ficar de fato difícil para os fumantes encontrarem empregos, haverá consequências”, disse Michael Siegel, professor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, que escreveu sobre a tendência. “O desemprego também faz mal para a saúde.”

Os fumantes já foram dispensados de empregos no passado – fazendo com que mais da metade dos Estados aprovassem leis rejeitando a proibição aos fumantes – mas o recente aumento do número de empresas que estão adotando regras contra os fumantes foi incentivado por uma onda de interesse dos fornecedores de serviços de saúde, de acordo com acadêmicos, especialistas em recursos humanos e defensores do antitabagismo.

Não há dados confiáveis sobre quantas empresas adotaram esse tipo de política. Mas as pessoas que acompanham o assunto dizem que há exemplos suficientes para sugerir que essas políticas estejam se tornando mais comuns.

Por exemplo, hospitais na Flórida, Geórgia, Massachusetts, Missouri, Ohio, Pensilvânia, Tennessee e Texas, entre outros, pararam de contratar fumantes no ano passado, e muitos outros estão considerando abertamente a opção. “Tivemos vários questionamentos durante os últimos seis a 12 meses sobre como fazer isso”, disse Paul Terpeluk, diretor da Clínica Cleveland, que parou de contratar fumantes em 2007 e defende vigorosamente a política. “A tendência está se tornando bastante forte, e acho que nos próximos anos você verá que muitos dos grandes hospitais foram por esse caminho.”

Algumas dessas organizações justificam que a nova política faz parte de suas missões institucionais para promover o bem estar pessoal e encontrar formas de reduzir o crescimento dos gastos com saúde.
Cerca de um em cada cinco norte-americanos ainda fuma, o que continua sendo a principal causa de morte que pode ser prevenida. E funcionários que fumam custam, em média, US$ 3.391 (R$ 5.652) a mais por ano cada em gastos médicos e perda de produtividade, de acordo com estimativas federais. “Sentimos que era injusto para os funcionários que tinham estilos de vida saudáveis terem que subsidiar aqueles que não tinham”, disse Steven Bjelich, diretor-executivo do St. Francis Medical Center em Cape Girardeau, Missouri, que parou de contratar fumantes no mê passado. “Essencialmente é isso que acontece.”

Há duas décadas – depois que grandes companhias como a Alaska Airlines, Union Pacific e Turner Broadcasting adotaram essas políticas – 29 Estados e o Distrito de Columbia aprovaram leis, com o forte apoio do lobby do tabaco e da União Norte-Americana pelas Liberdades Civis, para proibir a discriminação contra os fumantes ou contra aqueles que usavam “produtos legalizados”. Alguns desses Estados, como o Missouri, abrem uma exceção para as organizações de saúde. Mas em outros Estados, os tribunais confirmaram a legalidade de recusar-se a empregar fumantes.

Um porta-voz da fabricante de tabaco Philip Morris disse que a companhia não estava mais atuando ativamente na questão, embora continue firmemente contra a política.

Meghan Finegan, porta-voz do Sindicato Internacional de Funcionários de Serviços, que representa 1,2 milhão de funcionários da saúde, disse que o tema não “estava ainda em sua pauta”.

Uma preocupação levantada por grupos como o Instituto Nacional de Direitos Trabalhistas é que essas políticas são um terreno perigoso – que, se provarem seu sucesso em diminuir os gastos de saúde, os empregadores podem ser encorajados a tomar medidas sérias contra outros tipos de comportamento de seus funcionários, como consumir álcool, comer fast food e participar de atividades arriscadas como andar de motocicleta. De fato, o diretor da Clínica Cleveland foi tanto elogiado quanto criticado quando brincou numa entrevista há dois anos que, se não fosse ilegal, ele expandiria a política do hospital para evitar empregar pessoas obesas. “Não há nada especial em relação ao fumo”, disse Lewis Maltby, presidente do Instituto pelos Direitos Trabalhistas, que fez um lobby vigoroso contra a prática. “O número de coisas que todos nós fazemos em nossas vidas particulares que têm efeito negativo em nossa saúde é infinito. Se não é o cigarro, é a cerveja. Se não é a cerveja, são os cheeseburgers. E o que dizer da vida sexual?”

Muitas companhias acrescentaram inovações à proibição do fumo. Algumas proíbem o uso de todo tipo de tabaco – não só cigarros –, incluindo charutos, cachimbos, tabaco de mascar e até adesivos de nicotina. Algumas companhias testam a urina para encontrar traços de nicotina, enquanto outras operam num sistema de confiança.

Enquanto a maioria das companhias aplica suas próprias regras apenas para novos funcionários, algumas determinaram que os funcionários antigos precisam largar o cigarro para não perderem o emprego. Também há desacordo em relação a demitir funcionários que sejam pegos fumando depois que foram contratados. Os Centros Médicos Truman na cidade de Kansas, por exemplo, investigarão as acusações de uso de tabaco pelos funcionários. Num caso recente, um funcionário novo voltou do almoço cheirando a cigarro e, quando confrontado por seu supervisor, admitiu que tinha fumado, disse Marcos DeLeon, chefe de recursos humanos do hospital. O funcionário foi demitido.

Mesmo os defensores do antitabagismo acharam a questão complicada. A Associação de Pulmão Norte-Americana, a Sociedade Norte-Americana de Câncer e a Organização Mundial de Saúde não contratam fumantes, justificando com seus próprios esforços para reduzir o tabagismo.

Mas a Fundação American Legacy, um grupo antitabagista sem fins lucrativos, alertou que a recusa em contratar fumantes que de outra forma são pessoas qualificadas acaba sendo uma punição para um vício que costuma afetar mais um zelador do que um cirurgião. (De fato, entre os primeiros 14 candidatos rejeitados desde que a política entrou em vigor em outubro no Centro Médico da Universidade em El Paso, Texas, apenas um concorria a uma vaga de enfermeiro e o restante concorria a posições de apoio; nenhum deles era médico.) “Queremos apoiar os fumantes, e a melhor coisa que podemos fazer é ajudá-los a largar o vício, e não condicionar o emprego ao fato de eles largarem o cigarro”, disse Ellen Vargyas, conselheira-chefe da Fundação American Legacy. “Os fumantes não são o inimigo.”

Dando uma tragada em seu cigarro do lado de fora da Escola de Enfermagem da Universidade de Kansas, perto da placa que alerta que é proibido fumar no campus, Mandy Carroll explicou que ela estava ciente das consequências potenciais de seu hábito de um maço por dia: seus pais morreram de doenças relacionadas ao cigarro.

Mas Carroll, estudante de enfermagem de 26 anos, disse que se opõe fortemente a qualquer tentativa de os hospitais “discriminarem” fumantes, incluindo ela própria. “É claro que nós sabemos dos efeitos do cigarro; vemos isso todos os dias no hospital”, disse Carroll. “É uma escolha estúpida, mas é uma escolha pessoal.”

Outros não se importam com a política rígida. John Stinson, 68, disse que fumava há mais de três décadas quando decidiu se candidatar a um emprego na Clínica Cleveland, encaminhando pacientes novos, há quase três anos.

Aquilo acabou sendo a motivação de que ele precisava: ele passou no teste de urina e não fumou nenhum cigarro desde então.

“É uma boa ideia”, disse Stinson.


Um comentário:

Luís disse...

Esse é o único efeito colateral do sistema de saúde americano que acabou sendo positivo. Aqui ninguém tem acesso à saúde sem que se pague. É tudo privado, fica difícil pra alguém aí no Brasil imaginar isso, mas se vc não correr risco de morte e não tiver seguro saúde vc tem que pagar antes de receber atendimento. No caso das empresas isso é um caso de economia. A maioria das empresas paga um seguro saúde para o funcionário. Muitas vezes ela paga parte do seguro, mas uma parte considerável. E como isso é seguro saúde e não plano de saúde as seguradoras querem saber de seus hábitos e como anda a sua saúde para calcularem o risco. Se o funcionário for fumante eles aumentam o valor a ser pago para ambas as partes. Isso vale para qualquer tipo de droga exceto álcool e café.

No caso de se tentar adquirir um seguro saúde pessoal, sem relação com o empregador as seguradoras podem rejeitar o segurado (e freqüentemente o fazem). No caso do seguro de funcionários eles não rejeitam pois está no contrato firmado entre as empresas, mas o preço sobe.