O osso era perfeito para impulsionar um corpo ereto para a frente e para absorver os impactos de ser bípede
DE SÃO PAULO
Os seres humanos desceram das árvores antes do que se pensava.
Isso porque os cientistas encontraram fósseis de um pé de 3,2 milhões de anos que mostra que o Australopithecus afarensis, um velho ancestral do ser humano, vagou pela África caminhando, e não se perdurando.
O osso era perfeito para impulsionar um corpo ereto para a frente e para absorver os impactos de ser um bípede -muito maiores do que quando se é quadrúpede. A descoberta está na revista científica "Science", e foi liderada por Carol Ward, arqueólogo da Universidade do Missouri (EUA).
Além disso, os macacos que vivem em árvore possuiam dedos grandes e flexíveis que permitem se agarrar às árvores, atributos que não estão presentes no Australopithecus.
Até agora, havia dúvida sobre a capacidade dos Australopithecus de andar como humanos. Cravava-se isso apenas para hominídios posteriores, como o Homo erectus, que viveu há 1,5 milhão de anos atrás e não ganhou esse nome de graça.
LUCY
O exemplar mais famoso de Australopithecus é o fóssil que ficou conhecido como Lucy, descoberto em 1974 -e que ganhou esse nome por causa da música "Lucy in the Sky with Diamonds", dos Beatles, que tinha sido lançada pouco anos antes.
Lucy e seus parentes ajudam a entender as complicações da vida dos pioneiros a desbravar ambientes abertos, longe da floresta.
Passaram a ter de dormir no chão, algo complicado, porque assim se fica muito mais vulnerável a predadores do que pendurado em um galho. Isso pode ter incentivado esses humanos primitivos a lidar melhor com o fogo, reduzindo a escuridão e a fragilidade do grupo.
A longo prazo, lidar com o fogo, na tese defendida pelo pesquisador de Harvard Richard Wrangham, abriu um mundo novo para os ancestrais humanos.
Em vez de todos os membros de um grupo passarem o dia inteiro procurando folhas, frutas frescas e pequenos mamíferos para abater, os primatas cozinheiros puderam se dar o luxo de reduzir o tempo das refeições e armazenar comida.
ENERGIA
Isso possibilitou a divisão sexual do trabalho, com os homens encarregados de providenciar alimentos escassos e de alto valor nutricional (pela caça) e as mulheres responsáveis pela base do cardápio (coleta).
Sem o fogo disseminado, alimentação era muito baseada em fibras e em alimentos leves. Pode parecer bom para um ser humano do século 21 que quer emagracer, mas significava uma disponibilidade muito baixa de energia milhares de anos atrás.
Quando os nossos ancestrais começaram a comer comidas cozidas (há cerca de 1,8 milhão de ano), sua dieta se tornou mais macia, mais segura e bem mais nutritiva.
Foi isso que alimentou o desenvolvimento de um cérebro grande que associamos aos humanos modernos e que possibilitou que o Homo sapiens se tornasse o que é hoje em dia.
Representação de como seria a ‘Australopithecus’ Lucy
Folha de SP
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