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sábado, 14 de setembro de 2013

Menino-homem com H



Xico Sá, Folha de São Paulo de hoje:



Homem que é homem curte uma rede branca, estilo véu de noiva, que só aumenta a angústia do goleiro no gol


Amigo torcedor, amigo secador, como na canção "Força Estranha", fui ao Maraca e vi um menino correndo, o tempo brincando ao redor do caminho daquele menino. Era o menino Hyuri balançando o véu da noiva, melhor, o toque foi tão sutil que a bola se aninhou carinhosamente na barra do vestido de noiva, até então virgem naquela noite caliente de Botafogo x Corinhtians.


Um gol na rede estilo véu de noiva, tradição retomada no Rio, vale mais e rebobina nas nossas cabeças as obras de arte do "Canal 100", fundamentais na educação sentimental do macho brasileiro. A rede quadrada e esticada --padrão Fifa-- tem repulsa ao gol, repulsa ao sexo, é como uma mulher reprimida, como diria Polanski, curtido em vodka polonesa e perversões no juízo.


Homem que é homem curte é uma rede branca, estilo véu de noiva, que só aumenta a angústia do goleiro na hora do gol, meu caríssimo Belchior. Rede que captura e enrosca dentro do espaço sagrado o artilheiro em busca da pelota. Homem que é homem aprecia um véu de noiva e chuteira preta. Não é, caro flamenguista David Butter? Pena que a moda é chuteira de Fashion Week.


Eu vi o menino correndo para a galera, "me belisca, me belisca", dizia Hyuri para os também incrédulos seguidores. O poder da força estranha parece estar ao lado do Botafogo este ano. Algum misterioso panteão no infinito tem compensado o alvinegro nos minutos finais. O mesmo time que tanto foi vítima do tic-tac do acréscimo do sr. juiz.


É, menino Hyuri, a vida é amiga da arte, e como bem disse ontem no "Lance!" Mauro Beting, você mantém viva a mística do 7 da camisa do glorioso. É a sagrada cabala botafoguense: Garrincha, Maurício, Túlio Maravilha 999, Vitinho no tempo da base e agora o seu 17. A dança do 17 na corrente, como canta o gênio, 100% Paraíba, Jackson do Pandeiro.


Siga a estrela solitária, que faz uma briga bonita com uma constelação inteira, o Cruzeiro do Sul. Repare no menino correndo, no tempo, de vida e de jogo, repare que o véu da noiva ainda balança o seu último gol --agora, na trilha sonora desta crônica, já toca a "Balada número 7" do Moacyr Franco, uma das melhores músicas sobre futebol.


Hoje outros craques repetem as suas jogadas, sagaz Mané, hoje o time do tempo virou. Eu vi o menino correndo como um bandeirinha na linha do impedimento. Um menino-homem com H. Um menino que tem a maior das artes não apenas para o futebol, mas para a existência, um menino que doma a afobação e não cai no caô da linha burra de viver.

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