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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Medalha Milagrosa

Excelente postagem do "Bule voador":



Autor: Hudson Lacerda
Introdução: Marcelo Druyan


O Hudson Lacerda é um leitor e comentarista assíduo do Bule Voador. Dia destes, recebeu um presente pelo correio e decidiu reclamar. Mandou-nos uma cópia do e-mail e após ser consultado, autorizou a publicação. Eu também já recebi este presente e confesso que não tive o mesmo expediente. Mas daqui em diante, também vou reclamar!



—– Original Message —–

From: Hudson Lacerda
To: faleconosco@senhoradasgracas.org.br ; arnsg@arnsg.com.br
Cc: bulevoador@gmail.com
Sent: Friday, July 09, 2010 6:23 PM
Subject: “Medalha Milagrosa”




Olá.

Acabo de ser receber em casa uma surpresa: uma correspondência contendo panfletos e um amuleto chamado “Medalha Milagrosa”. A remessa contém ainda um boleto bancário pagável à “Associação Nossa Senhora das Graças”, uma instituição religiosa localizada em São Paulo, solicitando contribuição de R$ 15,00, R$ 20,00 ou R$ 50,00 (valores sugeridos).

Numa busca pela internet, localizei o sítio da referida Associação, e encontrei o endereço eletrônico do “Fale Conosco” a quem envio esta mensagem.

Tenho algumas questões sobre o caso.

Primeiro, gostaria de ser informado sobre qual foi o procedimento de obtenção de meus dados pessoais (nome e endereço) e como fui selecionado para receber o “presente vindo do céu” (sic).

Segundo, sobre o objeto enviado, a dita “Medalha Milagrosa”, um dos folhetos alega ser mediador de inúmeros “verdadeiros milagres” de “Maria”. O folheto também diz que a medalha “já está benta” e aconselha que eu a coloque no pescoço para receber “grandes graças”. Não tenho nenhum motivo para crer nessas alegações estapafúrdias, especialmente porque os relatos contados nos panfletos não trazem nada que indique ocorrência de milagres:

1) um menino portador do amuleto teria escapado da morte em um acidente, porém vive sofrendo pelos que morreram; pelo visto, “Maria” é protecionista apenas de seus portadores de amuletos, permitindo a ocorrência de acidentes com numerosas vítimas fatais em torno de seu fiel, e mesmo assim não se importando com o seu bem-estar emocional, ao colocá-lo nessa situação traumática.

2) um rapaz sofre um acidente grave, e resiste a uma cirurgia delicada, realizada com sucesso pela equipe médica; porém, ao invés de agradecer a competência e dedicação da equipe médica, a mãe do rapaz atribui a cura do rapaz ao amuleto (do qual é portadora) e à “fé”. Mas ela não tinha fé antes do acidente? Por que Maria permitiu que um acidente causasse sofrimento a uma de suas fiéis? Que provas há de que a cura se deu pelo amuleto e “Maria”, e não pela medicina, ou pelos duendes, ou pelo Coelhinho da Páscoa e seus ovos?

Tenho ainda questões sobre o processo de fabricação e “benção” dos amuletos.

O folheto se refere a uma certa Catarina Labouré, a quem “Maria” supostamente teria “aparecido”, e “prometido” a ela que

“Todos aqueles que usarem ESTA medalha ao pescoço receberão grandes graças. Estas serão abundantes para aqueles que A usarem com confiança. [grifos meus]“

A que medalha Catarina e Maria estariam se referindo? Como pode-se comprovar de que medalha se trata? Maria forneceu um modelo físico, um desenho? Era mesmo Maria (a quem alguns chamam de mãe do deus cristão)? Há alguma evidência disso? Tudo indica que não, seria um delírio de Catarina, citação errônea, ou historieta inventada por espertalhões que ganham dinheiro dos crentes incautos com amuletos.

“ESTA” medalha é única, como indica o pronome, ou pode ser fabricada em série? Se a medalha é “benta”, outras podem não ser, e portanto as outras não funcionam? A medalha benta “funciona”? Qual é o órgão regulador que autentica e licencia a produção e distribuição das medalhas marianas autênticas?

A Associação Religiosa Nossa Senhora das Graças pede colaborações em dinheiro (depósito bancário) para continuar e ampliar sua distribuição de amuletos. Não há evidências de que amuletos de quaisquer tipos realizem “graças” ou “milagres”, portanto é uma atividade certamente reprovável essa campanha da Associação, que engana pessoas ao pedir dinheiro em nome da propagação de superstições, da promoção da credulidade cega, através da exploração deplorável de pessoas ingênuas, em troca de pequenos pedaços de metal que prometem “milagres”.

Para concluir, reitero o pedido de que me informem como obtiveram meu nome e endereço, e como me selecionaram para receber o tal “presente”.

É vergonhoso como se permite impunemente que se abuse da fé alheia para propagar mentiras e obter dinheiro. Deixo aqui meu protesto contra essa perniciosa campanha da Associação Religiosa Nossa Senhora das Graças.

Hudson Lacerda

P.S.: Que sejam tocados em seu coração pela Unicórnio Cor-de-Rosa Invisível, quando de suas aparições milagrosas. E que o Monstro de Espaguete Voador os perdoe. Lámen.

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