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quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Teólogo derruba o criacionismo

Alister McGrath:professor de teologia histórica da Universidade de Oxford e forte opositor do criacionismo.


O que um dos maiores intelectuais cristãos tem a dizer sobre o criacionismo?



O Deus das Lacunas.



Trata-se de uma referência à apologética cristã, a uma abordagem que se tornou proeminente nos séculos XVIII e XIX: o chamado enfoque do "Deus das Lacunas". [...] Foi um movimento tolo, paulatinamente abandonado no século XX. Charles A. Coulson, primeiro professor titular de química teórica em Oxford e notável pregador leigo metodista, execrou a idéia com a sonora expressão "Deus das Lacunas". Apesar dos exageros, a crítica de Dawkins aos que "adoram as lacunas" é inteiramente adequada e válida. Por isso somos gratos por sua ajuda em exterminar esse postulado obsoleto e falso da história da apologética cristã. [...] Aqui, porém, o verdadeiro problema está no deslocamento forçado de Deus — feito pelos apologistas cristãos, sem dúvida bem intencionados — para os recessos ocultos do universo, além da verificação ou pesquisa. Ora, trata-se de uma preocupação verdadeira, pois a estratégia ainda é usada pelo movimento do "design inteligente" — corrente estabelecida principalmente na América do Norte. Ela postula um "designer inteligente" com base nas lacunas da explicação científica, como, por exemplo, a "complexidade irredutível" do mundo. Não é uma concepção que eu aceite, seja em bases científicas seja teológicas.
O enfoque do "Deus das Lacunas" [..] foi mal dirigido, uma estratégia apologética fracassada de um período anterior da história, e que hoje se tornou obsoleta.

Alister Mcgrath em "The Dawkins Delusion", p. 42, Editora Mundo Cristão.


O fundamentalismo surgiu como reação ao avanço da cultura secular no interior de algumas Igrejas norte-americanas.Sempre foi um movimento de contracultura e de afirmações de certos limites doutrinários. [...] No final de 1940 e início da década seguinte surgiram algumas inquietações entre os fundamentalistas norte-americanos. O fundamentalismo mostra-se totalmente hostil a qualquer noção de crítica bíblica, compromentendo-se, portanto, a interpretação literal das Escrituras. Sociologicamente falando, o fundamentalismo pode ser descrito como um movimento reacionário contracultural, que exige de seus seguidores, em geral pertences a classes sociais menos favorecidas, o cumprimento de severas regras.
A atitude desse movimento em relação às ciências naturais é muito complexa. Muitos delesa creditam que a compreensão bíblica da criação depende da interpretação literal dos dois prfimeiros capítulos do livro do Gênesis. Por isso, argumentam que não se pode falar de "evolução". Para eles a narrativa bíblica da criação parece envolver todas as formas de vida biológica, incluindo a humanidade, criadas no período de sete dias. Tal posição opõe-se, naturalmente, ao ponto de vista evolucionário sobre as origens da natureza humana. O movimento conhecido como "criacionismo científico" se originou no contexto evangélico. O fundamentalismo surgiu no interior da cultura protestante americana da década de 1920 em face da expansão da cultura secular. O nome do movimento vem uma série de doze livros intitulados The Fundamentals (Os fundamentos), empenhados em divulgar a perspectiva conservadora protestante sobre a cultura e a teologia de então.
Apesar do amplo uso do termo para movimentos religiosos no âmbito do islamismo e do judaísmo, o "fundamentalismo" designa original e propriamente o movimento nascido no cristianismo protestante americano entre 1920 e 1940.


Em maio de 1925, John T. Scopes, jovem professor de ciência na escola secundária, tornou-se vítima do estatuto recentemente adotado que proibia o ensino da evolução nas escolas públicas do estado do Tennessee. The American Civil Liberties Union veio em apoio de Scapes, enquanto William Jennings Bryan atuava como testemunha de acusação. Esse fato transformou-se no maior desastre de todos os tempos no campo das relações públicas para o fundamentalismo. Bryan foi chamado como testemunha e interrogado acerca de seus pontos de vista sobre a evolução. Foi forçado a admitir que não conhecia geologia nem religiões comparadas, nem emsmo as civilizações antigas. Acabou por demonstrar também que suas opiniões sobre religião eram ingênuas. O "julgamento dos macacos" (como ficou conhecido) transformou-se num símbolo do pensamento religioso reacionário em face do progresso científico.

Alister Mcgrath em"Fundamentos do diálogo entre ciência e religião", Editora Loyola. p.62-65.


Essa foi a primeira derrota do criacionismo, e as razões são evidentes:

1) O criacionismo não é científico pois parte de pressupostos não científicos (teológicos), fundamentalistas e retrógrados, tais como uma interpretação literal da Bíblia em confronto com a evidência científica. Digno de uma aberração científica, integra conhecimentos supersticiosos travestidos como centíficos.
2) Inverte a lógica da atitude genuína da ciência: a ciência inquire-se por evidências e depois conclui; o criacionismo conclui (supersticiosamente) e tenta, com base nessa fé, propor evidências.
3) O motivo da abolição da evolução é religioso, e não científico. São fundamentalistas que estão por atrás de tal ato desonesto. Ao investir mentiras como "a teoria da evolução não foi provada" e outras, espalham o terror anti-histórico pseudocientífico, reacionário e contracultural pela sociedade americana.


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