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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Resenha do filme "Lincoln"



Um Lincoln simplório, que gosta de contar histórias e não se preocupa com os luxos do importante cargo que ocupa é apresentado por Steven Spielberg, na obra cinematográfica inspirada em sua biografia escrita por Doris Kearns, "Time de triviais: O Gênio Político de Abraham Lincoln". A trama descreve os meses finais do primeiro mandato do 16º presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln, que havia sido reeleito para um segundo mandato. A Guerra Civil americana, que começou em seu primeiro mandato, está chegando ao fim, com uma clara vitória da União, abolicionista, em cima dos 11 estados antiabolicionistas e, consequentemente, separatistas.

A União tinha noção que os confederados, praticamente derrotados, estavam prontos para assinar o tratado de paz. A visão é comemorada pelos republicanos, que querem o fim imediato da guerra extremamente violenta e partir para o segundo governo do reeleito, reintegrando a nação.


As coisas ficam complicadas quando o presidente tem uma visão mais ampla que a de seus aliados. Ele nota que o fim da guerra leva necessariamente ao fim do seu projeto político principal, o de acabar com a escravatura no país. Ele entende que as Proclamação da Emancipação dos escravos, assinada em 1863, só é levada a sério pelos estados confederados por causa da guerra. Ao assinar-se o tratado para a paz, os estados oposicionistas ao abolicionismo poderiam voltar a explorar a escravatura, pois ele não possui nenhum mecanismo jurídico para forçá-los a aceitar a emancipação dos negros. Sua única saída é aprovar uma emenda constitucional, antes da declaração do fim da guerra civil. São necessários os votos de dois terços dos parlamentares para aprovar o novo projeto. E apesar de Lincoln ter a maioria no congresso, faltam 20 votos. Para aprovar a emenda até o fim de janeiro de 1865, antes do final da primeira legislatura, é preciso conseguir estes votos dentro da oposição, do partido democrata.

O famoso presidente, interpretado magistralmente por Daniel Day-Lewis, gosta de conversar com seus soldados no “front” de batalha e com os funcionários da Casa Branca, sempre contando “causos” divertidos e agindo sempre depois de ouvir todos os lados, como quando começa a filosofar com seus funcionários responsáveis pelo telégrafo.



A reconstituição histórica é bastante fiel, tendo a produção se preocupado em usar o som verdadeiro do relógio de bolso de Lincoln (que se encontra em um museu norte-americano). Sally Field no papel de Mary Todd Lincoln mostra que ainda é uma grande atriz dramática, assim como Tommy Lee Jones esbanja humor sarcástico como Thaddeus Stevens,  membro influente do Partido Republicano e um dos maiores apoiadores da abolição da escravidão.

As partes mais engraçadas do filme acontecem quando os agentes contratados pelo secretário de Estado William Seward (David Strathairn) vão atrás de cada parlamentar necessário para votar a emenda, oferecendo-lhes cargos e benefícios no 2º mandato, em troca de seus votos. A trilha sonora conta com muitas música regadas à banjo e as tradicionais marchinhas da época da guerra civil norte-americana, sempre com sonoridades bem parecidas com as originais.

A história deste grande presidente americano demonstra que muitas práticas vistas na política moderna, seja no Brasil e nos próprios Estados Unidos, não começaram recentemente. Os jogos da política sempre podem acabar funcionando com mecanismos mais obscuros e a obstinação de Abraham para aprovar a emenda que alforriava os escravos prova isto.



Todos sabem como Lincoln foi assassinado por John Wilkes Booth, um defensor da escravatura que matou-o no Teatro Ford, enquanto ele assistia uma comédia, mas poucos conhecem o processo de votação da emenda no Congresso dos EUA. São esses momentos finais de tensão que são o ápice da trama e fazem valer mais ainda o ingresso.

Trailer:

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