Pesquisar este blog

sábado, 6 de agosto de 2011

Quem deve escrever uma matéria? Alguém que entende da área ou um jornalista?


"Além disso, o argumento de que seria melhor se o jornalista fosse formado no assunto que escreve desconhece como o conhecimento hoje está fragmentado e, portanto, não seria possível contemplar todas as áreas de interesse, ou mesmo as principais. Só na área de medicina, por exemplo, existem os cirurgiões, pediatras, neurologistas, cardiologistas, endocrinologistas, otorrinolaringologistas, fisioterapeutas, ginecologistas, urologistas, dermatologistas, nutrólogos, infectologistas, entre outros.

Essa visão míope também não enxerga que a atuação de especialistas em outras áreas prejudica o equilíbrio democrático das vozes no espaço público, até porque, o jornalista formado em ciências jurídicas ou em medicina, por exemplo, se tornaria a própria fonte que " sabe das coisas" e não teria o conhecimento científico específico que analisa os efeitos da comunicação sobre o público.

Some-se ainda a dificuldade que estes profissionais teriam em investigar reportagens mais intrincadas. Será que um médico denunciaria práticas de um laboratório que patrocina o seu próprio consultório, suas pesquisas, os simpósios e congressos de sua associação ou sociedade médica? Esta situação, portanto, seria a própria cooptação da informação pela fonte-mediadora. É o que aconteceria como no descrito por Eugênio Bucci.

" Ser independente da fonte é um desafio clássico e já bastante conhecido. Trata-se de não permitir que a proximidade necessária entre o repórter e sua fonte se transforme na cooptação do repórter pela fonte: sem notar, o primeiro começa a adotar os pontos de vista da segunda, começa a usar o seu linguajar e a desenvolver espontaneamente raciocínios que não são próprios nem do veículo em que ele trabalha nem do público ao qual ele se dirige, mas dela, fonte" . (9).

O jornalista Nilson Lage também descreveu bem esta situação:

" Os empecilhos de natureza ética seriam um obstáculo nos casos, por exemplo, de médicos tratando de procedimentos de outros médicos ou de advogados acompanhando processos. Cada profissão protege-se a seu jeito, seja impedindo a manifestação pública da opinião antes da comunicação aos conselhos profissionais (o caso dos médicos), seja criando rituais exóticos de referência, tais como meritíssimo (juiz), nobre (o colega), egrégio (o tribunal) e a coleção de frases feitas latinas, chamados de brocardos. Nada mais sagrado, para um especialista, do que o jargão do ofício; para ele, dependendo da área, temos refrigeradores, não geladeiras; viaturas, não carros; ventre, não barriga; bovinos, suínos e caprinos não bois; porcos e cabras; frascos ou invólucros, não garrafas. De fato, o indivíduo teria de abandonar os comportamentos e até itens da linguagem exigidos em sua profissão originária para atuar como jornalista" . (4)
"
Fonte

Nenhum comentário: