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sábado, 6 de agosto de 2011

Costumes engraçados da época da Inquisição


Transcrevo alguns trechos do livro altamente recomendado "Inquisição, o reinado do medo", que acabo de terminar de ler:


Embora psicologicamente a sociedade ibérica sentisse orgulho de se considerar cada vez mais limpa, na prática a realidade era um pouco diferente. De Madri a Lisboa e de Múcia a Coimbra, para se reconhecer como bom católico era importante feder.
Uma testemunha descreveu minuciosamente a conduta muçulmana da moura Maria de Mendoza, da região de Cuenca:


“Em um dia de semana, depois da hora da ceia, esta testemunha viu a dita Maria de Mendoza pegar um cântaro de água da fonte do pomar e levá-lo para os cômodos no alto da casa, perto das chaminés, pois naquele dia tinham preparado geléias lá em cima e haviam deixado por lá uma lamparina. E depois de vê-la carregar esse cântaro com água, uma hora depois a testemunha subiu ao local junto às chaminés e encontrou a porta do quarto fechada; então a testemunha a abriu e viu a dita Maria completamente nua como estava sua mãe no dia em que nasceu, e que estava descalça, apesar de ser verão, em junho ou julho, e que estava ajoelhada e lavava os cabelos”.

Pode-se ler esse trecho diversas vezes sem encontrar a heresia, a menos que se saiba que se lavar era considerado herético, ainda que hoje isso pareça inacreditável. Em uma sociedade governada por doutrinada por pureza, os mouros eram frequentemente denunciados por se lavarem, o que era considerado suspeito por causa das abluções rituais prescritas pela fé islâmica. Ao serem questionados, eles se defendiam alegando que estavam “simplesmente” se lavando.
As abluções e a simples limpeza corporal rapidamente se confundiram:a final, não era possível sentir a diferença com o nariz. Um mouro de Granada, Bermúdez de Pedraza, foi denunciado por se lavar “mesmo sendo dezembro. Em 1603, em Valência, o mouro Francisco Mançania confessou que havia umedecido um pedaço de pano para lavar o rosto, o pescoço e os genitais, mas negou que se tratasse de uma cerimônia.

Capítulo 8-"Pureza a qualquer custo"-Páginas 227 e 228

Sem dúvida, nesta sociedade quase todas as ações eram determinadas pela religião. O mesmo ocorria na Espanha, onde no século XVIII se tomava extremo cuidado para que nenhuma migalha da hóstia ficasse presa nos dentes do comungante; os doentes recebiam água depois da comunhão e depois lhes era perguntado: “A majestade desceu?” Como ocorria em Portugal, quando os sinos repicavam à noite, os autores e o público dos espetáculos teatrais jogavam-se no chão gritando “Deus!Deus”, e nas casas as festas eram abruptamente interrompidas. Quando passava um padre segurando a eucaristia em uma liteira levada por carregadores, todos tinham que parar e se ajoelhar, batendo no peito até ele ter passado; quem não o fizesse corria o risco de ser chamado de herege pelo padre.

Capítulo 12- "A sociedade neurótica"-Página 336

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