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quarta-feira, 31 de julho de 2013
Um passo para a cura do câncer
Um dos grandes obstáculos no tratamento do câncer, principalmente em seus estágios terminais, quando as metástases já se espalharam pelo corpo, é matar os tumores sem, no entanto, matar o doente antes. As altas doses de radiação ou quimioterapia necessárias para eliminar as células tumorais também atacam as saudáveis, debilitando os pacientes a um ponto em que seu organismo não consegue mais funcionar. É algo como tentar regar um vaso com uma mangueira de incêndio: a água em excesso acaba por matar a planta. Agora, porém, cientistas da Universidade de Michigan descobriram um mecanismo biológico capaz de proteger o trato gastrointestinal dos danos das terapias e mantê-lo em funcionamento, aumentando exponencialmente as chances dos pacientes sobreviverem a quantidades normalmente letais de remédios ou radiação.
- Acreditamos que isso eventualmente vai permitir a cura do câncer mesmo em estágio terminal. Se nossas previsões estiverem corretas, as pessoas não vão mais morrer de câncer – afirma Jian-Guo Geng, professor da Universidade de Michigan cujo laboratório foi responsável pela descoberta, publicada em artigo na edição desta semana da revista “Nature”. - Todos os tumores em diferentes tecidos e órgãos podem ser eliminados por altas doses de quimioterapia ou radiação, mas o desafio atual no tratamento do câncer em estágio terminal é que na verdade matamos os pacientes antes de matarmos os tumores. Mas agora temos uma maneira de fazer com que os pacientes tolerem doses letais de quimioterapia ou radioterapia. Dessa forma, o câncer pode ser erradicado com crescentes doses de ambas.
Geng e sua equipe descobriram que certas proteínas se ligam a moléculas específicas nas células-tronco intestinais, responsáveis por naturalmente reparar danos nos órgãos e tecidos locais, fazendo com que elas se multipliquem rapidamente. Quantidades normais destas células não conseguem fazer frente ao estrago causado pelas doses maciças de remédios ou radiação capazes de eliminar o câncer metastático, mas com seu exército reforçado o trato gastrointestinal pode continuar em operação. Isso permite que o corpo dos pacientes continue a absorver nutrientes e a realizar outras funções ao mesmo tempo em que impede que as bactérias presentes no intestino invadam a corrente sanguínea, o que, diz Cheng, dá a eles maiores chances de sobreviverem a doses cada vez maiores dos tratamentos até que os tumores sejam erradicados.
No estudo, feito em camundongos, 50% a 75% dos animais que receberam as proteínas toleraram quantidades de quimioterápicos que de outra forma seriam letais, enquanto nenhum dos camundongos do grupo de controle, que ficaram sem as proteínas, morreram. Cheng destaca, porém, que o método ainda não foi testado em humanos, então não há como saber se o trato gastrointestinal das pessoas seria preservado como o dos animais. Além disso, diz, mesmo que no futuro o tratamento se prove eficiente em humanos, ainda seriam necessários pelo menos dez anos para ele ficar disponível para uso nos hospitais.
- Por enquanto, encontramos apenas uma maneira de proteger os intestinos de camundongos – reconhece. - Nosso próximo passo é atingir uma taxa de sobrevivência de 100% dos animais que tiveram as proteínas injetadas e receberam doses letais de quimioterapia e radioterapia.
O Globo
Um dos maiores problemas das neoplasias é que elas se tornam resistentes aos tratamentos muitas vezes, ao longo destes. Burlar a capacidade da doença "evoluir" também é uma das formas de tornar os medicamentos quimioterápicos mais eficazes.
Facebook quer ampliar publicidade em vídeo
Para romper o longo domínio da televisão no mercado publicitário, o Facebook planeja vender comerciais em vídeo, no estilo da TV, em seu site. Os anúncios serão veiculados por US$ 2,5 milhões diários. A informação foi revelada ontem pela agência Bloomberg, que diz ter ouvido fontes envolvidas no assunto.
As ações da rede social fecharam o dia em alta de 6,2%, a US$ 37,63 cada, maior valor desde a abertura de capital em maio de 2012, quando valiam US$ 38. Durante o pregão, elas chegaram a ser negociadas por US$ 37,96. Desde a divulgação do balanço do Facebook na semana passada, as ações da empresa subiram 40%.
Segundo a Bloomberg, a maior rede social do mundo, com 1,15 bilhão de usuários, pretende oferecer espaços para spots de 15 segundos para anunciantes a partir do fim do ano.
A iniciativa se segue a medidas adotadas por concorrentes para atrair os dólares de propaganda que tradicionalmente vão para as redes de TV. Nos últimos anos, o Google começou a financiar produtores de conteúdo no YouTube, oferecendo parte da receita com comerciais veiculados nos vídeos
Quanto ao Facebook, a ideia é tirar o máximo proveito dos milhões de usuários que checam o site diariamente, incluindo durante o horário nobre cobiçado pelos anunciantes na TV. No último trimestre, 61% dos usuários do Facebook entraram no site diariamente - número que aumentou apesar das previsões de queda.
"Toda noite entre 88 milhões e 100 milhões de pessoas estão ligadas no Facebook durante o horário nobre da TV, só nos Estados Unidos", afirmou Sheryl Sandberg, diretora de operações da empresa durante videoconferência para anunciar os resultados do segundo trimestre.
O Facebook não quis comentar o novo projeto de publicidade em vídeo.
Oportunidade. Embora a rede social já permita que anunciantes publiquem vídeos em sua página no Facebook, o novo serviço permitirá a eles inserirem anúncios de 15 segundos diretamente na lista de atualizações (feed de notícias) de um usuário. Esta é a duração mínima normal de um comercial de TV.
O espaço para comerciais inicialmente será vendido para um dia inteiro e os anúncios só poderão ser dirigidos para os usuários com base na idade e gênero, segundo as fontes. Os usuários do Facebook não verão o spot publicitário mais de três vezes num determinado dia. Dependendo do tamanho da audiência que se pretende alcançar, os preços dos anúncios podem variar de US$ 1 milhão a US$ 2,5 milhões por dia.
O presidente executivo e fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, tem trabalhado com a chefe de marketing global, Carolyn Everson, no serviço de anúncios em vídeo. Ele adiou a data de lançamento do serviço pelo menos duas vezes, para se certificar de que a experiência do usuário não será afetada pelos anúncios. Zuckerberg quer que os vídeos sejam em alta definição e que os recursos sejam fáceis de usar.
A iniciativa do Facebook deve intensificar a competição com o Twitter, rede social que também tem cortejado anunciantes de TV, numa aposta para chegar a US$ 1 bilhão de vendas de anúncios em 2014.
Estadão
Este tipo de publicidade invasiva irrita os usuários. Provavelmente vão surgir plugins para bloquear estas propagandas na linha do tempo dos usuários ou os mesmos irão migrar para outras redes sociais.
Coração artificial usa tecido bovino
Há tempos, os cientistas procuram desenvolver um coração artificial durável, que possa funcionar de maneira tão eficaz quanto o oferecido pela natureza. Tentando cumprir esse objetivo, uma empresa francesa produziu um coração artificial que utiliza tecidos bovinos e que, em breve, será testado em pacientes humanos.
As superfícies que entram em contato com o sangue humano nesse coração são feitas de tecido bovino, em vez de materiais artificiais como o plástico, que pode causar problemas como coágulos.
"O modo como eles incorporaram superfícies biológicas nos pontos que entram em contato com o sangue é realmente uma grande vantagem", disse o doutor Joseph Rogers, professor-associado na Universidade Duke em Durham, na Carolina do Norte, e diretor-médico de seu programa de transplante cardíaco e apoio circulatório mecânico. "Se eles acertarem esse desenho, poderão mudar o jogo, reduzindo a necessidade de remédios anticoagulantes."
Em desenvolvimento há 15 anos pela empresa Carmat, sediada em Paris, o coração foi aprovado para testes clínicos em centros de cirurgia cardíaca na Bélgica, na Polônia, na Arábia Saudita e na Eslovênia.
Na França, onde o dispositivo ainda não foi liberado para implantação em humanos, os reguladores exigiram mais testes com animais, que estão sendo feitos.
Esse é o primeiro coração artificial a usar derivados bovinos -especificamente, o tecido do saco pericárdico que envolve o coração dos animais. No passado, tecidos biológicos foram usados somente em válvulas de bombas de sangue mecânicas, disse o doutor Rogers.
O coração artificial pode ajudar pacientes que esperam na (vagarosa) fila por um transplante de coração definitivo, que deve vir de outro ser humano.
Por isso, um coração totalmente artificial para uso prolongado seria de grande valia, mas ainda é muito cedo para saber se o coração da Carmat, ainda não testado em humanos, será esse equipamento.
O custo do dispositivo da Carmat seria de aproximadamente US$ 200 mil, disse o doutor Piet Jansen, diretor-médico da empresa. Ele não espera que o produto seja posto no mercado europeu antes do final de 2014.
O coração da Carmat tem duas câmaras, cada qual dividida por uma membrana. Essa membrana tem tecido bovino de um lado, o que fica em contato com o sangue, e poliuretano do outro, que toca o sistema miniaturizado de bomba com motores e fluidos hidráulicos que modificam a forma da membrana. (O movimento da membrana empurra o sangue para o corpo.) A eletrônica e o software embutidos ajustam o ritmo do fluxo sanguíneo. Os pacientes podem portar as baterias em um coldre embaixo do braço ou em um cinto, entre outras opções.
O tecido bovino também é usado em válvulas cardíacas artificiais que foram criadas pelo doutor Alain Carpentier, cirurgião cardíaco e pioneiro em reparo de válvula cardíaca, que também é fundador da Carmat e seu diretor-científico. O tecido bovino é tratado quimicamente para que seja estéril e biologicamente inerte.
O equipamento é regulado por sensores, software e microeletrônica. Sua energia vem de duas baterias de íons de lítio externas.
O projeto e o desenvolvimento do coração também contaram com estratégias de testes aeroespaciais da Companhia Europeia de Defesa Aeronáutica e Espacial (EADS, na sigla em inglês), uma das apoiadoras da Carmat, disse o doutor Jansen.
Segundo o médico, uma das exigências do projeto do coração era que ele durasse cinco anos. A empresa vem fazendo testes de bancada para ver ele se consegue durar tanto.
A doutora Lynne Warner Stevenson, diretora do programa de cardiomiopatia e falência cardíaca no Hospital Brigham e Feminino em Boston, está otimista como o novo equipamento. "Eu aplaudo os pioneiros que o desenvolveram", disse.
Folha
Cientistas chineses usam urina para recuperação de dentes
Pesquisadores da China encontraram na urina humana a matéria-prima para a recuperação de dentes. Esta foi a origem de células-tronco usadas para a regeneração de pequenas estruturas dentárias, de acordo com trabalho recém-publicado na revista "Cell Regeneration Journal".
Os especialistas esperam poder desenvolver melhor esta técnica, criando uma maneira de substituir dentes perdidos. Outros pesquisadores, no entanto, alertam que ainda será necessário percorrer um longo caminho e superar desafios até chegar a este objetivo.
Em experiência feita com ratos, pesquisadores do Instituto Guangzhou de Biomedicina e Saúde alteraram células expelidas pelo sistema urinário para que se tornassem células-tronco. Depois de misturada a outros materiais orgânicos, as células foram implantadas de volta nos roedores. Em três semanas, elas apresentaram aparência e estrutura similares a de um dente. A consistência, porém, não era tão rígida quanto a de um dente natural.
Mesmo assim, os resultados foram comemorados pelos especialistas chineses, que acreditam ter descoberto uma opção viável de recuperação dentária. Entretanto, eles reafirmaram que é necessário realizar mais pesquisas até a possível regeneração de um dente humano.
Este método, porém, não é uma unanimidade. Outros especialistas ponderam que há pouca eficiência e elevado risco de contaminação por bactérias. Entre eles, está Chris Mason, da University College London. Em entrevista à BBC, ele também ressaltou que ainda é preciso ter certeza de que a técnica de regeneração realmente crie um dente permanente.
Jornal da Ciência
Este robô da Veebot consegue extrair seu sangue
Algumas pessoas são campeãs em ter o sangue drenado de seus corpos, tanto que voltam aos centros de doações sempre que podem — parabéns a você, de verdade! Se for o seu caso, temos boas notícias. Se não, deve estar receoso com a ideia de estar próximo a um robô munido de uma agulha. Mas, acredite: é bem capaz que o robô seja uma saída menos… dolorosa.
Uma startup chamada Veebot está testando um protótipo de robô que, eles esperam, fará a coleta de sangue ser mais rápida e precisa que a feita por humanos. A meta é automatizar tanto a coleta, quanto as inserções intravenosas para tornar o processo ainda mais padronizado e, com isso, reduzir as complicações. O robô tem um torniquete similar àquela bolsa que prende o braço nos equipamentos que medem a pressão arterial, a fim de deixar as veias do paciente proeminentes. Ele usa luz infravermelha, uma câmera especial e ultrassom combinados com um software de análise de imagens para escolher uma veia e confirmar se há sangue o bastante fluindo por ela. Depois disso, o robô prepara a agulha e a espeta no braço até uma profundidade pré-calculada. O processo todo leva cerca de um minuto, mais o tempo para coletar o sangue — que varia dependendo da sua destinação.
No momento o Veebot consegue escolher a melhor veia em 83% dos casos, o que bate com a média de um enfermeiro médio. A empresa diz que trabalhará para chegar a taxas de 90% antes de entrar em testes clínicos. Ainda que trocar um humano por um robô não diminua o medo de agulha que muitos de nós temos, quanto menos espaço para erros, melhor.
Este invento pode ser útil em zonas de calamidade em geral e de guerra, para otimizar o tempo de atendimento dos pacientes. Também seria interessante se o processo fosse melhorado a ponto de permitir uma análise do sangue através de um sistema computadorizado, enviando rapidamente o resultado para o médico.
terça-feira, 30 de julho de 2013
Resenha do filme "Uma noite de Crime" (The Purge)
Em um mundo onde banaliza-se cada vez mais o uso de armas de fogo e a indústria armamentista tenta cada vez mais fazer proselitismo para que qualquer um tenha seu revólver, o filme "Uma noite de crime" chega em boa hora.
Na trama, os EUA foram tomados por uma grande onda de criminalidade e as prisões do país estão com lotação esgotada. Para tentar conter ocorrências, anualmente o governo estabelece um único dia em que todo e qualquer crime é permitido.
O personagem principal, James Sandin (Ethan Hawke ), é habitante de uma comunidade murada que tenta se proteger da onda de violência. O mais irônico é que ele, o protagonista, vende equipamentos de segurança. Quando um invasor entra no isolamento, porém, Sandin tem que proteger sua família durante o período da permissão, sem cair na tentação da violência legalizada. Este estranho entrou em sua casa porque seu filho viu o mesmo sendo perseguido na rua e, com boas intenções mas imprudentemente, desabilitou o sistema de segurança da casa para ele entrar, o que não foi uma boa escolha.
Vários debates filosóficos são travados durante a história: Os personagens vivem se questionando se deve-se ou não matar para sobreviver, sobretudo a esposa do protagonista, Lena (Mary Sandin). A película prende a atenção do espectador durante sua hora e meia (aproximada) de duração, fazendo quem assiste torcer para algumas situações tensas se resolverem logo.
Trailer:
segunda-feira, 29 de julho de 2013
Quebrar imagens religiosas não auxilia em nada a luta por direitos iguais
Durante a Jornada Mundial da Juventude, houve no Sábado simultaneamente em Copacabana uma "Marcha das Vadias", que luta pelos direitos das mulheres à terem acesso ao aborto, à contraceptivos e mais respeito em geral na sociedade. A marcha em si é bastante válida e não discordo do direito das mulheres.
Porém, durante o evento, um grupo de manifestantes quebrou algumas imagens religiosas, talvez para chocar os peregrinos católicos (veja aqui a matéria).
Há uma diferença entre se manifestar e fazer isso. Qual a intenção de quebrar imagens religiosas? O que vão conseguir? Mudar a opinião da Igreja ou dos católicos conservadores? Ou apenas angariar antipatia?
Qual a diferença entre isto e agir como um fanático religioso?
Como querem conquistar respeito dos católicos moderados (que eu acredito que hoje sejam a maioria) e da sociedade em geral, passando esta mensagem de intolerância? Sei que foi uma minoria que realizou este ato e muitas mulheres até tentaram apartar a situação, mas o grupo que agiu acabou atrapalhando a manifestação e infelizmente dando mais corda para o discurso "puritano".
Algumas pessoas usaram a seguinte comparação: "A Igreja Católica reprime as mulheres em uma série de coisas, logo é justificável que quebrem imagens religiosas". Não, uma coisa não justifica a outra. Erros não justificam outros erros. Esta é o velho erro de lógica (falácia) tu quoque. Ex.: Fulano foi abusivo, logo eu também posso ser.
Com certeza o grupo "Católicas pelo direito de decidir", que apoia o feminismo, não gostou deste ato. Para os católicos, imagens da Virgem Maria e tantas outras possuem um grande valor sentimental. Qualquer pessoa, mesmo que descrente no catolicismo, sabe disto.
Tenho certeza que se algum movimento destruísse imagens de religiões africanas, como já ocorreu com evangélicos quebrando imagens assim em terreiros de macumba, mais pessoas criticariam.
Não se conquista o respeito de um nicho da sociedade com baixaria e vandalismo. Também não se responde agressão com agressão. No mesmo dia, um peregrino cuspiu no rosto de uma manifestante da marcha das vadias. Para quê isto? O que se consegue com este tipo de agressão? Nada.
Podemos viver em uma sociedade onde haja sim bastante espaço para feministas se manifestarem, por motivos mais do que justos, e religiosos realizarem seus rituais e terem suas crenças, sem serem ofendidos. Respeito de todas as partes é sempre o melhor.
Leia:
A destruição de imagens sacras na Marcha das Vadias fez mais mal do que bem
Leia:
A destruição de imagens sacras na Marcha das Vadias fez mais mal do que bem
sexta-feira, 26 de julho de 2013
quinta-feira, 25 de julho de 2013
"Bomba-relógio", derretimento no Ártico pode custar US$ 60 tri à economia global
A liberação de metano no Ártico pode acelerar o derretimento das calotas polares, causando mudanças climáticas que custariam à economia global cerca US$ 60 trilhões nas próximos décadas. A informação foi revelada nesta quarta-feira (24/07) pela revista Nature.
Pesquisadores da Universidade de Cambridge e da Universidade Erasmus, na Holanda, calcularam o impacto social e econômico da liberação de um milhão de toneladas de metano no Mar da Sibéria Oriental. O resultado é assustador já que esse gás é responsável pelo efeito estufa e por drásticos impactos no meio ambiente.
Nos últimos meses, cientistas encontraram mais de 150 mil pontos do Ártico onde há vazamento de metano na atmosfera. Pesquisas aéreas e terrestres no Alasca e na Groenlândia revelaram que muitos dos vazamentos estão localizados em áreas onde as geleiras estão recuando ou o permafrost está derretendo à medida que o clima esquenta, eliminando o gelo que aprisionou -- por séculos -- o gás estufa no solo.
“O efeito do aquecimento no Ártico é uma bomba-relógio no ponto de vista econômico”, resume o autor da pesquisa, Gail Whiteman, professor de sustentabilidade na Universidade de Erasmus. “Se não houver uma mudança e ninguém operar medidas de mitigação da mudança climática, o modelo que fizemos calcula que os impactos ambientais e econômicos podem chegar a US$ 60 trilhões", afirma Chris Hope, da Universidade de Cambrigde.
Mais de 80% dos 60% trilhões estariam relacionado ao aumento de temperatura extrema em diversos país, inundações, secas e diminuição da qualidade de vida graças à poluição. Todos seriam efeitos do derretimento do Ártico e vazamento de metano.
O estudo divulgado pela revista Nature afirma que pode haver um aumento na temperatura em dois graus Celsius de 15 a 35 anos caso nenhuma medida efetiva seja tomada nos próximos anos. Os cientistas afirmam que a média do aumento da temperatura no mundo para este século precisa ficar abaixo de dois graus celsius. Mais do que isso, “os efeitos podem ser devastadores”, dizem. Atualmente, a média de aumento da temperatura está entre 3,6 e 5,3 graus celsius.
Opera Mundi
quarta-feira, 24 de julho de 2013
Papa critica projetos de liberalização de drogas na América Latina
Na visita ao Hospital São Francisco de Assis, na zona norte do Rio, o papa Francisco atacou nesta quarta-feira, 24, os projetos de liberalização das drogas na América Latina e acusou traficantes de serem os "mercadores da morte". Na primeira vez que fala publicamente sobre o problema das drogas desde o início de seu pontificado, o argentino deu as primeiras indicações de que, se seus gestos são novos e sua simpatia o transformou em um ícone global, ele não está disposto a mudar posições tradicionais da Igreja.
A crítica à liberalização das drogas ocorreu enquanto visitava o hospital, que atende dependentes de drogas, e depois de se reunir com cinco pacientes.
"Não é deixando livre o uso de drogas, como se discute em várias partes da América Latina, que se conseguirá reduzir a difusão e a influência da dependência química", declarou. Países como o Uruguai já liberalizaram o consumo de maconha, enquanto outros na região avaliam propostas similares.
Para ele, a solução não vem da liberalização, mas de uma estratégia para "enfrentar os problemas que estão na raiz do uso das drogas, promovendo uma maior justiça, educando os jovens para os valores que constroem a vida comum, acompanhando quem está em dificuldade e dando esperança ao futuro".
Na avaliação de vaticanistas, Francisco começa a revelar com esse discurso que, apesar de ser tido como reformador, adotará posturas tidas como conservadoras em diversos setores sociais e desafios.
Mas o papa não deixou também de atacar o narcotráfico. "São tantos os 'mercadores da morte' que seguem a lógica do poder e do dinheiro a todo custo", disse. "A chaga do tráfico de drogas, que favorece a violência e que semeia a dor e a morte, exige da inteira sociedade um ato de coragem", insistiu.
Não é a primeira vez que um papa ataca de forma frontal os narcotraficantes. Em 2007, quando Bento XVI esteve no Brasil, ele alertou que essas pessoas teriam de enfrentar a Deus no juízo final.
Parábola. O papa Francisco ainda atacou o egoísmo da sociedade por não dar atenção suficiente aos dependentes de drogas. "Precisamos abraçar quem tem necessidade", disse. "Há tantas situações no Brasil e no mundo que reclamam a nossa atenção, cuidado, amor, como a luta contra a dependência química", declarou. "Frequentemente, porém, nas nossas sociedades, o que prevalece é o egoísmo", afirmou.
Francisco cita a parábola do Bom Samaritano, que fala de um homem atacado por assaltantes e deixado quase morto ao lado da estrada. "As pessoas passam, olham, mas não param. Indiferentes, seguem o seu caminho. Não é o problema deles".
O papa aponta para o centro de tratamento como exemplo do Bom Samaritano e lembra que São Francisco de Assis abriu mão de sua riqueza justamente depois que, quando jovem, abraçou um leproso.
"O jovem Francisco abandonou riquezas e comodidades do mundo para fazer-se pobre no meio dos pobres, entende que não são as coisas, o ter, os ídolos do mundo a verdadeira riqueza e que estes não dão a verdadeira alegria, mas sim seguir a Cristo e servir aos demais", disse. "Em cada irmão e irmã em dificuldades, abraçamos a carne sofredora de Cristo. Hoje, neste lugar de luta contra a dependência química, quero abraçar cada um de vocês".
Francisco garante que a Igreja está ao lado deles. Mas, na avaliação do papa, parte da responsabilidade em se recuperar é do próprio dependente. "Você é o protagonista da subida. Esta é a condição imprescindível. Você encontrará a mão estendida de quem quer lhe ajudar. Mas ninguém pode fazer a subida no seu lugar", declarou. "A travessia é longa e cansativa, mas olhem para frente. Não deixem que lhes roubem a esperança. Mas também digo: não roubemos a esperança, pelo contrário, tornemo-nos todos portadores de esperança."
Estadão.
Como eu sempre disso, critico as pessoas quando ela merecem e elogio quando merecem. Neste caso, concordo com o Papa.
Leia meus artigos:
Descriminalizar as drogas é a solução?
Falar em legalização da maconha é estupidez
Se puder, doe agasalhos. Você tem sua casa quentinha. Eles não.
Com frio em SP, 11 mil moradores de rua procuram abrigos
Uma ação da Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social da Prefeitura de São Paulo recolheu 11 mil moradores de rua na madrugada desta quarta-feira (24) por conta do frio. No total há 63 abrigos públicos que comportam nove mil pessoas na cidade.
Para atender a demanda a prefeitura também criou outros quatro espaços com capacidade para outras duas mil pessoas, além de improvisar mais mil vagas nos abrigos já existentes.
De acordo com a secretaria essa prática é comum para suprir a demanda e evitar que os moradores de rua fiquem expostos ao tempo frio. A maioria das pessoas recolhidas pelo programa de assistência foi encaminhada para o principal abrigo da cidade, que fica na região da Mooca, na zona leste.
Para levar os moradores de rua foram utilizados três ônibus que circularam principalmente pelo centro, onde vivem grande parte dos andarilhos. Como já havia a expectativa para que fizesse muito frio nesta madrugada, as pessoas começaram a ser recolhidas no começo da tarde de ontem.
A iniciativa durou até o fim da madrugada desta quarta-feira e ainda contou com a participação da pastoral de rua da Paróquia São Miguel Arcanjo. Durante as rondas, os assistentes sociais ofereciam abrigo e uma refeição, mas nem todos queriam deixar as ruas para ir para o abrigo.
O padre Júlio Lancelloti participou da iniciativa nesta madrugada e explicou que alguns moradores evitam aderir a iniciativa. "Muitos não querem abandonar seus pertences ou já tem um lugar para ficar. Sempre fazemos a abordagem de forma tranquila explicando a urgência, mas nem sempre os moradores de rua aceitam", disse.
Como ainda há a previsão de frio para esta madrugada, a Secretaria e Assistência e Desenvolvimento Social disse que manterá os ônibus de prontidão e realizará uma nova ação, durante a madrugada, para abrigar os moradores de rua nos abrigos da cidade.
Folha de São Paulo
domingo, 21 de julho de 2013
Cozinho, logo existo - Suzana Herculano-Houzel
Folha de São Paulo
CIÊNCIA
Ou como as Ofélias e os Atalas da pré-história aprimoraram nosso cérebroRESUMO O domínio da técnica de cozer alimentos representou vantagem competitiva para o homem em relação a outros animais. O aprendizado lhe permitiu obter rápida e facilmente combustível energético para alimentar 86 bilhões de neurônios e deu impulso a funções cerebrais cognitivas, não ligadas à sobrevivência.
SUZANA HERCULANO-HOUZEL
O QUE TEM o cérebro humano de tão especial? Por que nós estudamos o cérebro de outros animais, e não vice-versa? O que o nosso tem ou faz que nenhum outro alcança?
Quando me interessei por essas questões, cerca de dez anos atrás, era consenso na área que todos os cérebros de mamíferos --incluindo o humano-- eram construídos da mesma maneira, como versões maiores ou menores de um mesmo plano-padrão e, portanto, com um número de neurônios sempre proporcional ao tamanho daqueles, ainda que não linearmente.
Uma das implicações básicas desse raciocínio é que dois cérebros de um mesmo tamanho deveriam possuir número semelhante de neurônios. Considerando que neurônios são as unidades funcionais de processamento de informação do cérebro, era de esperar que os donos de cérebros de dimensões idênticas exibissem habilidades cognitivas semelhantes.
Mas não é o que se vê. Vacas e chimpanzés têm cérebros de cerca de 400 gramas; capivaras e macacos, de 70-80 gramas; mas chimpanzés e macacos são capazes de comportamentos muito mais variados, complexos e flexíveis do que seus parentes não primatas de tamanho cerebral equivalente.
(Para ser absolutamente correto, é preciso reconhecer a possibilidade de vacas e capivaras terem uma vida mental interior tão rica que até escolham não deixar suas habilidades mentais transparecerem. Mas é bem pouco provável: as diferentes habilidades de cérebros de porte igual como esses são uma primeira evidência de que órgãos diferentes não devem ser apenas versões maiores ou menores de um mesmo plano básico.)
Mais problemática ainda é a outra inferência da suposta universalidade das regras de construção dos cérebros: a de que os maiores deveriam sempre possuir mais neurônios do que os menores. Ou seja, quanto maior o órgão, mais cognitivamente capaz seu dono deveria ser. Desse modo, o maior cérebro na face da Terra também deveria ser o mais capaz.
Naturalmente, nós nos consideramos a espécie mais capaz de todas. E aqui está o paradoxo: não possuímos nem de longe o maior cérebro de todos. O de elefantes, que oscila entre quatro e cinco quilos, é cerca de três vezes maior do que o nosso, que pesa em geral de 1,2 kg a 1,5 kg. Os de baleias chegam a pesar nove quilos. Se fôssemos nos fiar pela lógica, então, elas é que deveriam estar nos estudando. (O escritor e comediante britânico Douglas Adams, morto em 2001, era quem sabia o que andava pelos pensamentos de um cachalote, conforme segredou n' "O Guia do Mochileiro das Galáxias".)
É por causa dessa discrepância que, para explicar nossa superioridade cognitiva, por muito tempo a ciência recorreu ao argumento de que o cérebro humano era especial, literalmente extraordinário: uma exceção às regras. Outros podiam até ser maiores; mas o nosso devia ser"¦ melhor.
Ele parece mais avantajado do que o "necessário" para dar conta das funções do corpo. O que significa que sobra córtex cerebral para funções cognitivas, e não meramente vegetativas.
A lógica por trás desse argumento da encefalização máxima no ser humano é a de que o tamanho do cérebro geralmente acompanha o do corpo. Por isso, uma baleia que pesa várias dezenas de toneladas supostamente precisaria ter um cérebro maior do que o humano --mas que serviria apenas para dar conta do corpo, sem "restar" córtex cerebral para tarefas mais complexas.
A maior prova da suposta enorme encefalização do homem, no entanto, viria da comparação da nossa espécie com grandes primatas. Gorilas, por exemplo, chegam a ser duas a três vezes maiores do que humanos, do que se tira que o cérebro deles deveria ser maior do que o nosso --mas, ao contrário, o humano é que é três vezes maior do que o do grande macaco.
A necessidade energética também faz o cérebro humano parecer especial. Embora represente apenas 2% do peso do corpo do homem, o órgão consome sozinho 25% de toda a energia usada por ele num dia: são cerca de 500 kcal de um total de 2.000 calorias diárias, simplesmente para manter o aparato mental funcionando. Em outros animais, em comparação, o custo relativo do cérebro chega a no máximo 8% do gasto energético total do organismo.
EXCEÇÃO
Esse era o consenso quando comecei a estudar cérebros de humanos e outros bichos: o nosso é especial, por ser maior do que "deveria ser" e custar muito mais energia do que aquilo que se esperaria para o seu tamanho. Mas essa unanimidade entrava em choque com minha formação em biologia, ciência que busca entender as regras que se aplicam à vida em geral. Por que as regras da evolução deveriam se aplicar a todos os outros animais, mas nós seríamos uma exceção?
Pensei que o problema talvez estivesse na premissa básica de que todos os cérebros de mamíferos seriam construídos da mesma maneira. Talvez dois cérebros de tamanhos semelhantes pudessem na verdade conter números de neurônios bastante diferentes; talvez um órgão enorme, como o do elefante, pudesse até ter menos neurônios do que um mais modesto. Talvez o cérebro humano tivesse mais neurônios do que qualquer outro, independentemente de sua dimensão --especialmente no córtex, sede de funções como o raciocínio abstrato.
Para mim, então, a questão mais importante passou a ser quantos neurônios tem o cérebro humano, e como isso se compara com outros animais. Dizia a lenda que temos 100 bilhões de neurônios --mas nenhum de meus colegas conhecia o estudo original que teria chegado a esse número e, em todas minhas buscas, nunca o localizei. Até onde sei, ninguém havia contado o contingente de neurônios humanos ou de outros animais.
A técnica disponível até então era impossível de se aplicar à totalidade do órgão --e, de toda forma, boa parte dos cientistas parecia acreditar que a questão já estava resolvida.
Inventei uma maneira de contar células no cérebro e tive a sorte de contar com o apoio do professor Roberto Lent, da UFRJ, que me cedeu seu laboratório quando eu não tinha nenhum. Eu ia contar células"¦ em sopas de cérebro.
Soa repulsivo pensar em transformar em sopa o que um dia foi o âmago biológico de uma pessoa, eu reconheço. Mas, veja bem, não é muito diferente do que já se faz em tantos laboratórios, que é contar cérebros em pedacinhos mínimos para analisar sob o microscópio. A diferença é que meus pedacinhos seriam tão menores que o conjunto viraria líquido.
A base do método é dissolver o cérebro em um detergente que destrói todas as membranas das células, mas mantém intactos os núcleos delas, que passam assim a flutuar, soltos, em suspensão. Como o conjunto agora é líquido (com a aparência de um consomê claro), basta agitar a sopa para deixar os núcleos distribuídos homogeneamente e então extrair algumas amostras de volume definido para contá-los ao microscópio. Voilà: conhecendo-se o volume total da "sopa", basta uma regra de três para chegar ao número total de células no cérebro em apenas 15 minutos ao microscópio.
Dois anos depois, sabíamos de que eram feitos os cérebros de uma dúzia de animais, entre roedores e primatas. E foi uma agradável não surpresa descobrir que, de fato, eles são construídos de modo distinto.
Entre espécies de roedores, conforme se multiplica no cérebro a quantidade de neurônios, essas células também aumentam de tamanho, o que faz com o que o órgão infle muito mais rapidamente do que ganha neurônios. Mas entre primatas, cérebros maiores possuem mais neurônios cujo tamanho médio praticamente não aumenta --o que é uma maneira muito econômica, em termos de espaço, de ganhar neurônios. A consequência é que primatas sempre têm mais neurônios concentrados em um mesmo volume de cérebro do que roedores.
No cérebro humano, encontramos uma média de 86 bilhões de neurônios (a quem me diz que soa parecido com 100 bilhões, lembro que a diferença corresponde a um cérebro inteiro de babuíno). Desses, 16 bilhões compõem o córtex cerebral --provavelmente o maior número de neurônios em qualquer cérebro no planeta, mesmo nos maiores do que o nosso, o que acredito ser a explicação mais simples para nossa capacidade cognitiva notável.
Mas os "86 bilhões" deixam mesmo de ser apenas um número e ganham significado quando os cotejamos com o quinhão celular de outros animais.
Como descobrimos que a relação entre o tamanho do cérebro e seu número de neurônios pode ser descrita matematicamente, pudemos calcular como seria o cérebro humano se fosse construído como um cérebro de roedor: com 86 bilhões de neurônios, um roedor genérico pesaria 89 toneladas e teria um cérebro de impossíveis 36 quilos (tamanho de uma criança de dez anos). Um órgão assim não seria viável, pois colapsaria esmagado pelo próprio peso.
O fato de não termos 89 toneladas nem um cérebro descomunal ilustra, então, o que deveria ser óbvio: não somos roedores nem possuímos um cérebro grande de rato. Comparar humanos a roedores e concluir que somos especiais em comparação a eles é, portanto, enredar-se num paralelo vazio, do tipo laranjas com maçãs.
Primatas que somos, é em relação a eles que devemos nos medir. E aqui a matemática mostra que um primata genérico com 86 bilhões de neurônios teria um cérebro de 1,2 kg (o que é bem próximo da nossa média) e um corpo de 66 quilos (dentro dos padrões).
A conclusão nada surpreendente, mas ainda assim extremamente importante, porque contraria nossa suposta excepcionalidade, é uma só: temos um cérebro de primata. Nem mais, nem menos. (Divirto-me pensando que Darwin teria gostado de ler esta manchete: "Cérebro humano feito à imagem de outros cérebros de primata!".)
O cérebro humano, portanto, é notável, sim --mas não especial ou extraordinário, no sentido estrito da palavra. Fico satisfeita de ter contribuído à ciência uma descoberta que nos lembra de nosso lugar na natureza --o que deveria inspirar um pouco de humildade.
Se não é especial, por que sorve tanta energia? Como já havia dados na literatura sobre o custo energético do cérebro de humanos e outros animais, agora que conhecíamos os montantes de neurônios ficara fácil fazer as contas.
Já trabalhando em meu próprio microlaboratório, cheguei à conclusão de que cérebros humanos, de macacos, babuínos e roedores têm gasto energético semelhante: uma média de seis quilocalorias diárias por bilhão de neurônios. O custo total de energia de um cérebro é, portanto, uma simples função linear do número de neurônios que ele possui. Posto dessa maneira, o órgão humano mais uma vez apenas se encaixa no esperado: com seus 86 bilhões de neurônios, consome tanto quanto deveria --cerca de 500 kcal por dia.
ENERGIA
Como conseguimos esse número notável de neurônios? E, em particular, se grandes primatas são ainda maiores do que nós, por que eles não têm mais neurônios do que nós? Quando me dei conta de quão caro é ter uma enormidade de neurônios, passei a suspeitar que talvez grandes primatas simplesmente não conseguissem energia suficiente para sustentar concomitantemente um corpanzil e um cérebro grande.
Com Karina Fonseca-Azevedo, aluna de iniciação científica, fiz as contas. Calculei, de um lado, quanta energia um primata consegue obter por dia com sua dieta típica de alimentos crus e, de outro, quanto "custa" um corpo de um certo tamanho e um cérebro dotado de um certo contingente de neurônios. Depois, busquei as combinações de tamanho corporal e número de neurônios que um primata conseguiria sustentar comendo um certo número de horas por dia.
Devido ao alto custo dos neurônios, descobri que existe um "toma lá, dá cá" entre neurônios e massa corporal. Um primata que come oito horas por dia conseguiria bancar um máximo de 53 bilhões de neurônios --mas, neste caso, não teria como pesar mais do que 25 quilos.
Para ficar maior do que isso e continuar energeticamente viável (ou seja, para não morrer de fome), seria preciso abrir mão de neurônios. Quando se come como um primata, ou se é corpulento, ou se tem um cérebro equipado com neurônios a não mais poder; não se deve aspirar a ambos.
Uma alternativa, é claro, seria passar ainda mais horas por dia comendo. Mas isso é brincadeira perigosa que logo se torna irrealizável. Gorilas e orangotangos custeiam seus cerca de 30 bilhões de neurônios comendo oito horas e meia por dia --e, convenhamos, não conseguem fazer muito mais do que isso. Nove horas diárias de alimentação parecem ser o limite prático para um primata.
E nós, humanos? Com 86 bilhões de neurônios e 60-70 quilos de massa corporal, pela lógica, deveríamos passar mais de nove horas por dia comendo --o que naturalmente não é o caso, e nem seria possível. Se comêssemos como fazem os demais primatas, não deveríamos estar aqui.
Como chegamos então aos 86 bilhões de neurônios, se nosso cérebro não custa nada a menos do que deveria e se não podemos passar o dia todo à mesa? A alternativa que resta é, de alguma maneira, extrair mais calorias das mesmas porções de alimento. Essa, sim, é uma alternativa extremamente interessante --e que casa com uma invenção creditada a nossos antepassados na época certa, cerca de 1,5 milhão de anos atrás: a cozinha.
Cozinhar é essencialmente usar fogo para pré-digerir alimentos fora do corpo. Dito assim, não soa nada apetitoso. Mas produtos cozidos, muito mais macios, podem ser facilmente mastigados e triturados na boca, o que faz com que sejam totalmente digeridos por enzimas no estômago e absorvidos no intestino.
O domínio dessa técnica permite ao homem extrair de alimentos até três vezes mais energia do que se eles fossem ingeridos crus --e o ganho é também de tempo, vale destacar. Cozinhar, pois, nos rende não só mais calorias como também tempo livre.
VANTAGEM
Graças à cozinha, o que até então era um risco cada vez maior --um cérebro fervilhando com neurônios-- se tornou uma grande vantagem, principalmente agora que nossos antepassados tinham tempo disponível para direcionar seus neurônios a atividades mais interessantes do que pensar obsessivamente em comida, procurá-la e consumi-la. Essa me parece a explicação mais simples para a evolução tão rápida de um cérebro tão grande quanto o nosso --e somente do nosso.
Com um órgão cheio de neurônios mantidos por alimentos cozidos, nossa espécie passou rapidamente da comida crua à ciranda de cultura, agricultura, civilização, mercados, eletricidade, geladeiras --todo esse aparato que hoje nos permite obter todas as calorias de que precisamos em uma sentada só na lanchonete da esquina. O que um dia foi a solução hoje passou a ser o problema: fomos da incerteza de calorias diárias ao excesso em cada refeição. E, numa reviravolta irônica da evolução, agora tentamos resolver o problema"¦ voltando à comida crua das saladinhas.
(Ao pessoal do crudivorismo que perdeu sua "explicação" favorita de que "a comida crua era a alimentação dos nossos ancestrais" e me ataca dizendo que "você está errada, pois obviamente é possível comer só comidas cruas", eu respondo completando a frase deles com um ""¦hoje em dia, quando temos na esquina de casa mercados de frutas e hortaliças já plantadas, colhidas e servidas --e geladeiras para preservar tudo". Mesmo assim, o preço do crudivorismo é alto: fome permanente, perda da saúde e de peso. Bom, esta eu concedo: comer exclusivamente alimentos crus é a única dieta verdadeiramente infalível que conheço.)
Qual é, então, a vantagem de ser humano? O que nós temos que nenhum outro animal tem --e que é a explicação mais simples para nossas vultosas habilidades cognitivas? "O maior número de neurônios no córtex cerebral", eu diria. E o que nós fazemos que nenhum outro animal faz, e que, de quebra, acredito ter sido fundamental para nos permitir chegar ao número enorme de neurônios corticais? Cozinhamos o que comemos. Nenhum outro animal cozinha --e, para mim, foi o que nos tornou humanos.
Estudar o cérebro humano mudou minha maneira de pensar a comida. Hoje, toda vez que olho minha cozinha, faço reverências mentais a ela -- e agradeço a nossos ancestrais por uma invenção que nos legou a humanidade.
-Não possuímos nem de longe o maior cérebro de todos. O de elefantes, que oscila entre quatro e cinco quilos, é três vezes maior do que o nosso, que pesa em geral de 1,2 kg a 1,5 kg
Com 86 bilhões de neurônios e 60-70 quilos de massa corporal, pela lógica, deveríamos passar mais de nove horas por dia comendo --o que não é o caso
Graças à cozinha, [...] nossos antepassados tinham tempo para direcionar seus neurônios a atividades mais interessantes do que pensar em comida, procurá-la e consumi-la
Embora represente apenas 2% do peso do homem, o cérebro consome 25% de toda a energia usada por ele num dia: são cerca de 500 kcal de um total de 2.000 calorias
sábado, 20 de julho de 2013
Trocaram os telejornais por transmissão de missa
LEONARDO SAKAMOTO
Um evento de grandes proporções, como a Jornada Mundial da Juventude, merece uma cobertura à altura. Da mesma forma, a visita de Francisco ao Brasil tem relevância jornalística por ser o líder espiritual de dois terços (mesmo que não praticantes) de brasileiros e o primeiro papa nascido no continente americano.
Mas existe uma diferença entre jornalismo e aquilo que você está vendo na TV, nos últimos dias, sobre a vinda do homem. Na noite desta sexta, ao assistir ao telejornal de fim de noite da Globo, tive a impressão de que a emissora o havia substituído pelo “Santa Missa em seu Lar” - que pegava de relance quando voltava da balada no domingo de manhã para espiar meus pecados. Gente… Deu para sentir a água benta respingando da tela. Se gravar o conteúdo dos telejornais em DVD dá para o Vaticano distribuir como media kit da vinda do papa.
Não digo isso pelo tamanho da cobertura. Mas pela total falta de senso crítico da mesma. O espírito crítico está longe de ser santo, mas é um dos elementos que diferencia a atividade jornalística de outras, como da publicidade. E a emissora faz valer esse senso crítico ao cobrir política, por exemplo. Por que ignora isso ao tratar de outras relações hegemônicas?
Quem acha que isso não diz respeito aos não-católicos não tem ideia de quanto a instituição em questão continua influenciando o cotidiano das pessoas em um país como o nosso. Basta ver como as liberdades individuais são limitadas pela disputa simbólica, política e legal levadas a cabo por representantes da Igreja Católica. Situação que é reafirmada sistematicamente através de veículos de comunicação.
É sério. Se eu assistir a mais uma matéria entrevistando as cozinheiras que vão servir doce de leite para o papa argentino, as camareiras que prepararam o quarto dele, as galinhas que colocaram os ovos que ele comerá, vou ter uma síncope. Há uma preocupação máxima em preencher espaço com a presença do pontífice, mesmo que isso signifique encher caminhões de linguiça. Há muitas coisas interessantes a falar, a bem da verdade. Mas, daí, a cobertura teria que ser crítica, debruçar-se mais sobre a disputa entre o catolicismo e denominações evangélicas neopentecostais. Ou sobre os desafios de liderar uma geração que, mesmo respeitando nas palavras do papa, abre o pacote de camisinha cada vez mais cedo.
“Ah, mas é o interesse público, japonês!” Poderíamos ficar anos aqui discorrendo quem define o que é o difuso “interesse público”. A minissérie “Hoje é Dia de Maria”, com narrativa e estética diferentes do convencional, teve uma bela audiência junto ao povão, mesmo com os críticos dizendo que ela seria um fracasso – mas preferimos continuar achando que a galera gosta mesmo é de peito, bunda, sexo debaixo do cobertor com câmeras de infravermelho – consentido ou não.
Por que o povo assim o quer? Ou por que é perigoso dar elementos para estimular o povo a sair de sua zona de conforto e da letargia a que está condenado? Vai que ele acorda, né? O povo. Não o gigante.
Cada um tem seu posicionamento diante do mundo. Uns com forte relacionamento com a Igreja Católica, que representa o establishment, o status quo. Outros são propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus e tentam comer pelas beiradas. Há ainda os que se abrem em fúria para vender espaço de exibição para a denominação religiosa que pagar mais. Mesmo que tenha líderes homofóbicos e preconceituosos.
O problema é que estamos falando de concessão pública.
O Estado é laico. Isso significa que ele deve defender a livre expressão religiosa de todos, sem tomar partido de nenhum credo especificamente. Garantindo, por outro lado, que a manifestação da fé de alguém não se torne motivo para suplício e sofrimento de outros.
Quando o Estado concede por tempo determinado, sob contrato e com regras de utilização o espaço público para fins privados, a mesma regra deveria ser aplicada. Ou seja, esse espaço não poderia ser usado para promocão de determinado credo em detrimento a outros.
Concessões de rádio e TV não deveriam ser absolutas e não poderiam ignorar a laicidade do Estado. O mesmo não se aplica a jornais, revistas e outros meios que não contam com concessão para transmitir seu conteúdo. Eles podem fazer o que quiserem, professando o credo que melhor lhe aprouverem, respeitando as regras de civilidade e a dignidade alheia, é claro. Porque esta não é uma discussão para calar a voz de religiões, mas – pelo contrário – garantir que todas tenham voz. Lembrando que uma democracia não é apenas a expressão da vontade da maioria, mas o respeito à dignidade das minorias.
“Ah, não está satisfeito com que passa em uma TV, desligue o canal, japonês!”. Como eu gostaria de desligar o mundo inteiro de vez em quando! Mas não dá. O problema não é o que vou assistir, mas os monstrinhos que a TV vai formando e vão ter que conviver conosco, em sociedade. A resposta rasa é ótima como mantra, mas não para uma discussão sobre qual sociedade queremos.
Ou seja, você, que se sente oprimido pela maioria ou fica revoltado com o status quo, tem sim uma opção: mude-se ou mude o seu comportamento. Antes que a gente vá até aí e te dê um sova.
Enfim, Brasil em Cristo. Ame-o ou deixe-o.
Um evento de grandes proporções, como a Jornada Mundial da Juventude, merece uma cobertura à altura. Da mesma forma, a visita de Francisco ao Brasil tem relevância jornalística por ser o líder espiritual de dois terços (mesmo que não praticantes) de brasileiros e o primeiro papa nascido no continente americano.
Mas existe uma diferença entre jornalismo e aquilo que você está vendo na TV, nos últimos dias, sobre a vinda do homem. Na noite desta sexta, ao assistir ao telejornal de fim de noite da Globo, tive a impressão de que a emissora o havia substituído pelo “Santa Missa em seu Lar” - que pegava de relance quando voltava da balada no domingo de manhã para espiar meus pecados. Gente… Deu para sentir a água benta respingando da tela. Se gravar o conteúdo dos telejornais em DVD dá para o Vaticano distribuir como media kit da vinda do papa.
Não digo isso pelo tamanho da cobertura. Mas pela total falta de senso crítico da mesma. O espírito crítico está longe de ser santo, mas é um dos elementos que diferencia a atividade jornalística de outras, como da publicidade. E a emissora faz valer esse senso crítico ao cobrir política, por exemplo. Por que ignora isso ao tratar de outras relações hegemônicas?
Quem acha que isso não diz respeito aos não-católicos não tem ideia de quanto a instituição em questão continua influenciando o cotidiano das pessoas em um país como o nosso. Basta ver como as liberdades individuais são limitadas pela disputa simbólica, política e legal levadas a cabo por representantes da Igreja Católica. Situação que é reafirmada sistematicamente através de veículos de comunicação.
É sério. Se eu assistir a mais uma matéria entrevistando as cozinheiras que vão servir doce de leite para o papa argentino, as camareiras que prepararam o quarto dele, as galinhas que colocaram os ovos que ele comerá, vou ter uma síncope. Há uma preocupação máxima em preencher espaço com a presença do pontífice, mesmo que isso signifique encher caminhões de linguiça. Há muitas coisas interessantes a falar, a bem da verdade. Mas, daí, a cobertura teria que ser crítica, debruçar-se mais sobre a disputa entre o catolicismo e denominações evangélicas neopentecostais. Ou sobre os desafios de liderar uma geração que, mesmo respeitando nas palavras do papa, abre o pacote de camisinha cada vez mais cedo.
“Ah, mas é o interesse público, japonês!” Poderíamos ficar anos aqui discorrendo quem define o que é o difuso “interesse público”. A minissérie “Hoje é Dia de Maria”, com narrativa e estética diferentes do convencional, teve uma bela audiência junto ao povão, mesmo com os críticos dizendo que ela seria um fracasso – mas preferimos continuar achando que a galera gosta mesmo é de peito, bunda, sexo debaixo do cobertor com câmeras de infravermelho – consentido ou não.
Por que o povo assim o quer? Ou por que é perigoso dar elementos para estimular o povo a sair de sua zona de conforto e da letargia a que está condenado? Vai que ele acorda, né? O povo. Não o gigante.
Cada um tem seu posicionamento diante do mundo. Uns com forte relacionamento com a Igreja Católica, que representa o establishment, o status quo. Outros são propriedade da Igreja Universal do Reino de Deus e tentam comer pelas beiradas. Há ainda os que se abrem em fúria para vender espaço de exibição para a denominação religiosa que pagar mais. Mesmo que tenha líderes homofóbicos e preconceituosos.
O problema é que estamos falando de concessão pública.
O Estado é laico. Isso significa que ele deve defender a livre expressão religiosa de todos, sem tomar partido de nenhum credo especificamente. Garantindo, por outro lado, que a manifestação da fé de alguém não se torne motivo para suplício e sofrimento de outros.
Quando o Estado concede por tempo determinado, sob contrato e com regras de utilização o espaço público para fins privados, a mesma regra deveria ser aplicada. Ou seja, esse espaço não poderia ser usado para promocão de determinado credo em detrimento a outros.
Concessões de rádio e TV não deveriam ser absolutas e não poderiam ignorar a laicidade do Estado. O mesmo não se aplica a jornais, revistas e outros meios que não contam com concessão para transmitir seu conteúdo. Eles podem fazer o que quiserem, professando o credo que melhor lhe aprouverem, respeitando as regras de civilidade e a dignidade alheia, é claro. Porque esta não é uma discussão para calar a voz de religiões, mas – pelo contrário – garantir que todas tenham voz. Lembrando que uma democracia não é apenas a expressão da vontade da maioria, mas o respeito à dignidade das minorias.
“Ah, não está satisfeito com que passa em uma TV, desligue o canal, japonês!”. Como eu gostaria de desligar o mundo inteiro de vez em quando! Mas não dá. O problema não é o que vou assistir, mas os monstrinhos que a TV vai formando e vão ter que conviver conosco, em sociedade. A resposta rasa é ótima como mantra, mas não para uma discussão sobre qual sociedade queremos.
Ou seja, você, que se sente oprimido pela maioria ou fica revoltado com o status quo, tem sim uma opção: mude-se ou mude o seu comportamento. Antes que a gente vá até aí e te dê um sova.
Enfim, Brasil em Cristo. Ame-o ou deixe-o.
Punição para os hitlernautas
Carta Maior
Para quem acha que Dani Shwery, Thismir Maia e Carla Dauden são o máximo que a direita “espontânea” conseguiu preparar para mobilizar seus simpatizantes - no contexto do quadro reivindicatório das manifestações de junho - podemos dizer que entre os servidores do Google e da Microsoft e os mouses dos internautas comuns há muito mais coisas que a nossa vã filosofia possa imaginar.
Uma delas, ficou comprovado, é a espionagem norte-americana na rede, denunciada pelo agora foragido Edward Snowden.
O súbito aparecimento do fenômeno dos hitlernautas é outra - e esse é um fato que merece ser analisado. O hitlernauta, não é, na verdade, uma nova espécie no ciberespaço brasileiro. Ele sempre existiu, embora não fosse conhecido por esse nome. A questão é que, antes, os hitlernautas só podiam ser encontrados no seu habitat natural, em reservas quase sempre protegidas, e normalmente produzidas e consultadas apenas por eles mesmos.
Encontravam-se, assim, ao abrigo do navegante comum, como nos sites neonazistas, integralistas, da extrema-direita católica, ou que correspondem, no Brasil, a “espelhos” de certas “organizações” fascistas internacionais.
Nesses espaços, eles ficaram, por anos, alimentando suas frustrações, preparando-se para sair à luz do dia tão logo houvesse uma ocasião mais segura para se apresentarem ao mundo. A oportunidade surgiu no âmbito das passeatas de junho. Afinal, nessas manifestações, cada um podia carregar a mensagem que desejasse - desde que não fosse símbolo de partidos políticos.
Os hitlernautas, além de aparentemente apartidários, são, principalmente, anti-partidários. Assim, resolveram engrossar, a seu modo, a procissão mesmo sem conseguir indicar, com clareza, rumo ou andor que lhes valesse.
É fácil reconhecer o hitlernauta. Nas ruas, é o “careca”; o de cara coberta por um lenço; pela máscara do movimento anarquista; o que leva coquetel molotov de casa; joga pedra na polícia; agride violentamente o militante do PSDB, do PT, ou do PSTU que estiver carregando uma bandeira; quebra prédios públicos; arranca semáforos; saqueia lojas; põe fogo em carros da imprensa ou invade o Itamaraty.
Na internet, o hitlernauta é ainda mais fácil de ser identificado. É aquele sujeito que acredita (piamente?) que estamos vivendo a penúltima etapa da execução de um Golpe Comunista no Brasil. E que o Fórum de São Paulo é uma espécie de conclave secreto, destinado a dominar o mundo via implantação, no continente, de uma União das Repúblicas Socialistas da América do Sul.
O hitlernauta é o “anônimo” que, atuando no Exterior ou em nosso território, nos comentários, na internet, tenta convencer os interlocutores, de que as urnas eletrônicas são manipuladas; de que não existe oposição no Brasil, porque o PSDB é uma linha auxiliar do PT na implantação do stalinismo por aqui; que FHC é fabianista, logo, uma espécie de socialista a serviço da entrega do Brasil aos vermelhos; que a ONU é parte de uma conspiração mundial, e o único jeito de consertar o país é acabar com o voto universal, fechar o Congresso, dissolver os partidos, prender, matar, arrebentar e torturar, no contexto de novo golpe militar, sob orientação norte-americana.
No dia 10 de julho, os hitlernautas saíram às ruas, sozinhos, pela primeira vez. Segundo o portal Terra, fecharam a rua Pamplona, até a esquina com a Consolação, com a Marcha das Famílias contra o Comunismo, convocada nas últimas duas semanas pela internet.
O portal IG calculou, em cerca de 100 pessoas, o grupo que se reuniu no vão do MASP e marchou, com bandeiras, pedindo intervenção militar, até as imediações do Comando Militar do Sudeste.
No Rio, a convocação conseguiu juntar, frente à Candelária, trinta e poucos manifestantes, em cena em que se viam mais bandeiras e cartazes sobre as escadas do que pessoas para empunhá-los. Ao ver a foto da “manifestação”, muita gente os ridicularizou na internet.
Os primeiros desfiles das SA na República de Weimar também não reuniam mais que 30 pessoas, que carregavam as mesmas suásticas hoje tatuadas na pele dos skinheads presentes à Marcha das famílias contra o Comunismo, em São Paulo, no dia 10. As pessoas normais, ao vê-los desfilando nos parques, com os seus ridículos uniformes, acharam, na década de 30, que os nazistas eram um bando de palhaços. Eles eram palhaços, mas palhaços que provocaram a maior carnificina da História. Sob seus olhos frios, seus gritos carregados de ódio, milhões de inocentes foram torturados, levados às câmaras de gás, e incinerados, em Auschwitz, Maidanek, Birkenau, Dachau, Sachsenhausen – e em dezenas de outros campos de extermínio montados por ordem de Hitler.
Os hitlernautas não devem ser subestimados. É melhor que a sociedade os conheça. A apologia da quebra do estado de direito é crime e deve ser combatida com os rigores da lei. Cabe ao Ministério Público, com a ajuda da Polícia Federal, identificá-los e denunciá-los à Justiça, para que sejam julgados e punidos, em defesa da democracia.
sexta-feira, 19 de julho de 2013
BBom não tem todos os rastreadores negociados, suspeita MP
Os Ministérios Público Federal e Estadual de Goiás suspeitam que o grupo BBom não tenha todos os rastreadores oferecidos aos associados. Em entrevista coletiva nesta quinta-feira (18), a procuradora da República Mariane Guimarães e o promotor Murilo Miranda apontaram esse como mais um indício de formação de pirâmide financeira, prática ilegal no país.
Por decisão judicial, a BBom teve as atividades suspensas e os bens bloqueados.Durante a coletiva, a procuradora e o promotor não souberam informar a quantidade exata de associados ou de rastreadores oferecidos mediante taxa de adesão e pagamento de mensalidade por um prazo determinado. A procuradora Mariane Guimarães disse ter constatado no site Reclame Aqui mais de 1.200 reclamações de associados que nunca receberam os rastreadores.
Outro ponto destacado pelos MPs é o fato da empresa não ter informado a quantidade exata de rastreadores negociados em comodato. "Estranhamente, ela só informa nos autos uma amostragem, que seria de 14 mil equipamentos negociados. Também demonstra ter adquirido 70 mil aparelhos para vendas futuras", diz Guimarães.
"Nós acreditamos que a empresa que fornece esses rastreadores não tem condição de fornecer os aparelhos que a BBom precisaria ter para atender a quantidade estratosférica de consumidores para os quais ela vendeu", avaliou.
Por meio de nota enviada por sua assessoria de comunicação, a BBom informou ao G1 que comprou 1.250.000 rastreadores, sendo que 30 mil já foram entregues, 75 mil estão em estoque, 145 mil, em trânsito, e 1 milhão de aparelhos serão entregues seguindo a previsão de entrega dos fornecedores.
“Estamos seguindo uma programação de entrega de acordo com a data de solicitação do rastreador pelo associado. Em até 60 dias todas as solicitações serão atendidas, conforme o cronograma de solicitação”, diz a nota.
'Dinheiro fácil'
Os MPs estimam que o grupo tenha mais de 1.500 associados. "Muitos deles possuem várias cotas", explica Murilo Miranda. Por isso, acreditam que o número informado é insuficiente para atender todos os clientes.
Para a procuradora, o consumidor muitas vezes entra sem ter um interesse real no produto e querem apenas "ganhar dinheiro fácil e rápido com o aliciamento de novos operadores". Guimarães explica que o valor cobrado por comodato, de R$ 80, não é competitivo. "Esse valor é altíssimo. Nós apuramos que várias empresas que vendem esses rastreadores praticam preços bem mais razoáveis, que varia de R$ 30 a R$ 50 de aluguel", afirma.
A procuradora e o promotor reafirmaram que, como em outros casos emblemáticos de pirâmide financeira, o rastreador oferecido pela BBom seria apenas uma “isca” para recrutar novos associados, como ocorreu com a “Avestruz Master”.
Lucro de 3.000%
Chamou a atenção de procuradores e promotores o patrimônio dos sócios proprietários da empresa e crescimento exponencial dos lucros da BBom em um curto espaço de tempo. "O rastreador não é um produto popular para ter um apelo comercial que justifique um aumento de lucro de 3.000% em um espaço de três meses.
Sem divulgar o valor do patrimônio dos sócios proprietários do grupo, a procuradora destacou que é uma "quantia preocupante". O dado, segundo o promotor Murilo Miranda, não pode ser divulgado por determinação judicial.
Para Mariane Guimarães, esses pontos reforçam a tese da prática de pirâmide financeira. "Diferente de uma empresa de marketing multinível séria, o foco principal dela não é a venda do produto, e sim o recrutamento de novos divulgadores, para que esses novos divulgadores, num esquema piramidal, ganhe dinheiro recrutando mais e mais", argumenta.
A suspeita da prática de pirâmide financeira levou os ministérios públicos estaduais e federais de 20 estados a organizarem uma força-tarefa para combater a prática ilegal no país.
Bloqueio de bens
"Nós, num primeiro momento, solicitamos o bloqueio de todas as contas, bens móveis e imóveis desse grupo, para resguardar um dinheiro que a gente pensa, no final da ação, em devolver para os consumidores que forem lesados. Num segundo momento, solicitamos que a empresa fosse impedida de fazer novos associados, para evitar que novos consumidores venham a ser lesados", argumenta a procuradora.
Os pedidos foram acatados pela juíza federal substituta da 4ª Vara Federal de Goiânia, Luciana Laurenti Gheller. No dia 10 de julho, ela determinado a indisponibilidade dos bens da empresa e de seus sócios por "robustos indícios" de pirâmide financeira. Estão bloqueados R$ 300 milhões em contas bancárias do grupo, além de cerca de 100 veículos, incluindo motos e carros de luxo como Ferrari e Lamborghinis.
Em uma segunda liminar, na quarta-feira (17), a juíza determinou a "imediata suspensão" das atividades desenvolvidas pela empresa Embrasystem, conhecida pelos nomes fantasia BBom e Unepxmil, e proíbe o cadastro de novos associados bem como a captação de recursos financeiros junto aos associados que já integram a rede, "incluindo a percepção das mensalidades cobradas". A decisão é provisória e ainda cabendo recurso.
Em nota divulgada na quarta-feira (17), a BBom informou que "está tomando as providências judiciais cabíveis para retirar todo e qualquer impedimento às suas atividades" e diz estar "à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos que forem solicitados". A BBom sempre negou irregularidades ou a prática de pirâmide e se identifica como "empresa especializada em canal de vendas direta e marketing multinível".
Marketing multinível
Na decisão, a juíza federal destacou também as diferenças entre o modelo de negócios denominado “marketing multinível” ou “marketing de rede”, e o golpe conhecido por “pirâmide financeira”.
No marketing multinível, o faturamento é calculado sobre as vendas dos produtos e a venda do produto é a base de sustentabilidade do negócio, destacou a juíza. Já no esquema de pirâmide, os participantes são remunerados somente pela indicação de outros indivíduos para o sistema, sem levar em consideração a real geração de vendas de produtos, o que acaba por tornar o negócio insustentável, uma vez que é matematicamente impossível atrair novos participantes para uma rede que se funda unicamente nos pagamentos realizados pelos associados.
Pelo modelo da BBom, os interessados se associam mediante o pagamento de uma taxa de adesão, que varia de R$ 600 a R$ 3 mil, de acordo com o plano escolhido. Depois disso, a pessoa se compromete a atrair novos associados e a pagar uma taxa mensal no valor de R$ 80, pelo prazo de 36 meses, segundo a investigação do MP. Quanto mais participantes o associado consegue trazer para a rede, maior é a premiação prometida.
"Este tipo de esquema é coisa antiga. Mas com as redes sociais ganhou um fermento potencial inimaginável. Hoje, estas empresas crescem de maneira rápida demais e aprendemos que quanto antes se consegue intervir e bloquear menor o prejuízo para as vítimas", destacou a procuradora.
A prática de pirâmide financeira é proibida no Brasil, configurando crime contra a economia popular (Lei 1.521/51).
G1
Anatel quer que linhas telefônicas sejam canceladas pela internet, para você não lidar com call center
Cancelar uma linha de telefone é uma tarefa bem complicada. Você precisa ligar para a central de atendimento da sua operadora e conversar com vários atendentes que ficam transferindo para outras áreas, além de ouvir várias contra-propostas, até desistir de cancelar (vencido pelo cansaço).
A Anatel quer mudar isso, e nas próximas semanas vai aprovar um novo regulamento de atendimento e cobrança – e ele deve incluir a possibilidade de rescisão contratual pela internet.
As operadoras terão que criar uma sistema online para os clientes cancelarem automaticamente suas linhas telefônicas, sem precisar conversar com nenhum atendente para isso. Segundo oEstadão, o presidente da agência, João Rezende, disse que as reclamações dos clientes caíram nos últimos 12 meses, mas isso não significa que eles estejam satisfeitos com serviços e call centers. Por isso, a Anatel prepara esse novo regulamento.
Facilitar o cancelamento do contrato é uma das preocupações. Mas como isso funcionaria? “Quando o cliente entrar em contato com a central, ele poderá digitar o número do contrato de uma forma segura e realizar o cancelamento”, explicou Rezende. A proposta deve ser apresentada com mais detalhes nas próximas semanas, mas a ideia é que comece a valer 90 dias após a divulgação do novo regulamento.
Gizmodo
quinta-feira, 18 de julho de 2013
McDonald’s será a rede oficial do Papa Francisco no Brasil
O McDonald’s fechou um acordo com a Igreja Católica para ser o restaurante oficial da Jornada Mundial da Juventude, que espera reunir 2 milhões de pessoas no Rio, no próximo mês, para acompanhar a visita do Papa Francisco ao país.
A informação é da coluna Radar Online, de Veja. Segundo a coluna, os participantes do evento ganharão um cartão especial com o qual poderão comprar lanches no restaurante. A rede teria desenvolvido, até, um “combo do peregrino”, composto por sanduíche mais acompanhamentos.
A parceria de redes de fast food com grandes eventos é bastante comum. O próprio McDonald’s, no ano passado, chamou a atenção ao construir a maior loja da rede no mundo, para receber os turistas dos Jogos Olímpicos de Londres, capaz de receber 1.500 pessoas sentadas.
Para os críticos, o projeto era inadequado por associar lanches calóricos aos esportes. No caso da Jornada Mundial da Juventude, o jornalista Lauro Jardim, que assina a coluna de Veja, brinca dizendo que “no contrato assinado com a igreja, faltam apenas a absolvição do pecado da gula e a criação de uma McHóstia.” Resta saber se o Papa Francisco vai comungar com os fieis em uma mesa qualquer do restaurante.
Exame
quarta-feira, 17 de julho de 2013
Vaticano não escapou da crise
Menor Estado independente do mundo, onde vivem apenas 836 pessoas, o Vaticano dispõe de um impressionante patrimônio financeiro, o que o coloca, disparado, como o dono do maior PIB per capita do mundo: US$ 416 mil. Obras de arte de valor inestimável, doações, operações bancárias e a posse estimada de até 30% de todos os imóveis da Itália sustentam o órgão máximo da Igreja Católica.
Mesmo com diversas fontes de receita, o Vaticano não escapou da crise financeira que assola a Europa. A queda no número de visitantes aos museus e a seca nas doações causaram um déficit de US$ 18,4 milhões nas contas da Santa Sé – órgão que dirige o Vaticano, conforme a CIA World Factbook.
E tudo indica que 2012 tenha sido um ano ainda mais difícil (o balanço fiscal ainda não foi revelado): o governo italiano anulou a isenção do imposto sobre propriedades para a Igreja, o que acarretará em uma despesa adicional estimada entre US$ 100 milhões e US$ 600 milhões. O Vaticano não esperou a solução cair do céu: o presidente da Prefeitura dos Assuntos Econômicos da Santa Sé, Giuseppe Versaldi, recebeu carta branca para enxugar custos administrativos e encontrar formas de aumentar as receitas.
Fonte
terça-feira, 16 de julho de 2013
Pró-vida de quem?
Carta Capital
No Chile, uma menina foi estuprada repetidamente pelo padrasto dos nove (NOVE!) aos onze anos. Engravidou. O caso virou notícia internacional e cada vez que leio algo a respeito, tenho vontade de vomitar.
Primeiro foi a mãe, afirmando que as relações foram consensuais e que aquilo tudo era uma injustiça contra o parceiro dela. CONSENSUAIS. Relações consensuais de um adulto de mais de 30 anos com uma criança, dona mãe? Com a SUA FILHA? Por dois anos? Não. Não mesmo. Essa mãe deveria estar presa junto com o padrasto, já que é incapaz de defender ou dar qualquer apoio a sua filha.
Mas o horror não para por aí. O presidente do Chile declarou à imprensa que a menina "surpreendeu a todos com sua profundidade e maturidade ao dizer que, apesar da dor causada pelo homem que a estuprou, ela quer ter e cuidar do bebê".
Caro senhor presidente do Chile, o senhor acha mesmo que uma criança abusada tem qualquer condição de tomar uma decisão dessas, a decisão de cuidar de outra criança? A menina disse, na televisão, que seria como ter uma boneca em seus braços. Eu, que já era adulta ao ter a minha filha, não posso imaginar nada mais distante de um bebê do que uma boneca, um objeto de plástico que não respira, cresce, não chora, não mama, não demanda.
Os "pró-vida" estão todos muito orgulhosos da menina. Que menina! Mas é claro que essa pobre criança foi levada a tomar essa decisão, foi levada a acreditar que isso seria o certo. Ou seja: não querendo acabar com "uma vida inocente", acabam com outra vida inocente, a da menina abusada, estuprada e exposta dessa maneira.
O correto seria orientar a menina a interromper a gravidez, esclarecendo as fases de desenvolvimento do feto e explicando que ele só passa a ter atividade cerebral a partir da 12a semana de gestação. A pataquada religiosa deveria ser deixada de lado e a ciência deveria ser escutada. Nenhuma religião consegue provar onde começa a vida, então, usemos a lógica e os sistemas conhecidos.
Nas palavras do geneticista Eli Vieira, "para estabelecer se um embrião é um cidadão, o Estado deve ser informado pela ciência sobre quando surgem no desenvolvimento os atributos mais caracteristicamente humanos. Se a morte do cérebro é o critério médico que o Estado aceita para considerar o indivíduo humano como morto, o início do cérebro deve ser logicamente e necessariamente o critério para considerar o início do indivíduo, e não a fecundação."
O aborto é ilegal no Chile. Como acontece em qualquer país onde as mulheres têm seus direitos reprodutivos negados, isso não impede que abortos sejam realizados. Por lá, 12% das mortes maternas ocorrem devido a abortos ilegais. No Brasil, esse número chega a 22%. Entre 2000 e 2002, estima-se que foram realizados entre 132,000 e 160,000 abortos ilegais no Chile. 40 milhões de abortos ocorrem por ano em todo o mundo. 10% (quatro milhões) ocorrem no Brasil, sendo um aborto em cada oito mulheres, 11.100 por dia, 463 por hora e 7,7 por minuto. A curetagem após aborto foi a cirurgia mais realizada no Sistema Único de Saúde (SUS), com 3,1 milhões de registros entre 1995 e 2007. Ou seja, se o aborto fosse descriminalizado e realizado de forma segura, menos dinheiro público seria gasto em procedimentos do tipo.
O Conselho Federal de Medicina do Brasil recomenda que o aborto seja descriminalizado até a 12a. semana. Em países onde o aborto é permitido, esse tempo varia entre 10 e 13 semanas. Por enquanto, o aborto é crime no Brasil, salvo em caso de estupro ou de risco de vida materno, mas isso pode ser ameaçado se o Estatuto do Nascituro for aprovado.
Voltando ao Chile: o presidente disse que é "a favor de proteger a vida humana e dignidade a partir do momento da concepção até a morte natural". Me parece que ele é um daqueles que só se compadeceria caso um estupro que resultasse em gravidez, ou mesmo uma gravidez indesejada, acontecesse com alguém muito próximo a ele. Esse discurso geralmente desmorona nesses momentos. A maior parte dos pró-vida só são pró-vida quando se trata de teoria - e da vida dos outros, bem longe deles, ou, ainda, apenas as vidas dos que ainda não nasceram. Fosse um caso de gravidez adolescente na família, muitos recorreriam a clínicas clandestinas e esqueceriam a moral que tanto pregam. Fosse o caso de uma amante grávida, pagariam o aborto e o silêncio e esqueceriam toda essa "moral".
E enquanto ficamos à mercê da "moral" dos pró-vida, a vida daquela menina - e de tantas outras meninas e mulheres nos países em que o aborto é crime - se esvaem pelo ralo.
domingo, 14 de julho de 2013
DENÚNCIA DA SIEMENS COLOCA PRESSÃO EM ALCKMIN
Brasil 247 - As obras bilionárias do metrô de São Paulo podem causar uma tremenda dor de cabeça para o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, do PSDB. Segundo denúncia da multinacional alemã Siemens, as empresas contratadas para fornecer equipamentos, como ela própria, formavam cartel e colocavam preços até 20% superiores aos de mercado nas licitações de novas linhas do metrô.
A Siemens denunciou o caso às autoridades antitruste brasileiras, do Conselho Administrativo de Defesa Econômica, para escapar de uma punição maior – o caso foi revelado na edição deste domingo da Folha (leia mais aqui). Além da Siemens, o esquema envolveria ainda outras multinacionais, como a Alstom (já investigada na Europa por corrupção na América Latina), a canadense Bombardier, a espanhola CAF e a japonesa Mitsui. Todas essas empresas também fazem parte do projeto federal do trem-bala entre Rio de Janeiro e São Paulo, que será licitado no próximo mês.
De acordo com as denúncias, o cartel dos fabricantes de equipamentos atuou em seis licitações e o prejuízo total para o governo paulista ainda não foi totalmente estimado. Segundo a investigação do Cade, o conluio envolveria ainda as empresas TTrans, Tejofran, MGE, TCBR Tecnologia, Temoinsa, Iesa e Serveng-Civilsan. Destas, a Tejofran é fortemente ligada ao PSDB e cresceu exponencialmente nos governos de Mario Covas.
As multinacionais Alstom e Mitsui disseram estar colaborando com as investigações do Cade. O governador Geraldo Alckmin, por sua vez, prometeu conduzir uma investigação própria. Ao todo, o mercado de equipamentos para o transporte por trilhos movimenta R$ 4 bilhões ao ano no Brasil.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
CPI da espionagem deve convocar FHC para explicar entrega dos satélites da Embratel para os EUA
Só tucano que se finge de ingênuo pode se dizer surpreendido com a arapongagem dos EUA sobre telefonia e dados de brasileiros.
Não faltaram advertências de analistas para avisar com todas as letras que a entrega da Embratel para uma empresa dos EUA como foi o caso da MCI World Comm na privataria tucana de 1998 era estender o tapete vermelho para o governo dos USA grampear as redes e satélites brasileiros.
O dinheiro dos paraísos fiscais descritos no livro "A Privataria Tucana" falou mais alto, e o tucanato de FHC vendeu a Embratel de porteira fechada, com satélites, redes de fibra ótica e tudo. Nos primeiros anos pós privatização a Embratel era hegemônica nas redes nacionais e internacionais de longa distância.
Nas ligações locais de Brasília o controle estava nas mãos da Brasil Telecom, empresa controlada pelo Citibank através do banco Opportunity. Tudo dominado.
As empresas tiveram por um bom tempo o controle sobre todas as ligação nacionais e internacionais, sobre o tráfego de dados na internet. Pode perfeitamente ter gravado clandestinamente ligações com fins de espionagem diplomática, militar, comercial, industrial, de chantagem, etc, e repassado ao governo estadunidense informações sensíveis. E não havia nada que impedisse isso, pois não adianta nada estar proibido na lei, se ações de espionagem são por natureza clandestinas e secretas, e se não há controle nacional sobre as atividades.
Mesmo depois que o controle acionário foi transferido pela Telmex, o controle estadunidense sobre as informações continuou presente, através de serviços de empresas dos EUA para a operadora mexicana, e de equipamentos, softwares e controle de satélites.
Pode-se afirmar, sem exagero, que o governo FHC fez um verdadeiro planejamento estratégico meticulosamente preparado para o governo estadunidense bisbilhotar a tudo e a todos.
Agora que o senado decidiu abrir uma CPI para investigar a espionagem, o vendilhão da pátria número 1, FHC, tem que ser convocado, se preciso por condução coerciva pela Polícia Federal, para explicar o inexplicável.
Não faltaram advertências de analistas para avisar com todas as letras que a entrega da Embratel para uma empresa dos EUA como foi o caso da MCI World Comm na privataria tucana de 1998 era estender o tapete vermelho para o governo dos USA grampear as redes e satélites brasileiros.
O dinheiro dos paraísos fiscais descritos no livro "A Privataria Tucana" falou mais alto, e o tucanato de FHC vendeu a Embratel de porteira fechada, com satélites, redes de fibra ótica e tudo. Nos primeiros anos pós privatização a Embratel era hegemônica nas redes nacionais e internacionais de longa distância.
Nas ligações locais de Brasília o controle estava nas mãos da Brasil Telecom, empresa controlada pelo Citibank através do banco Opportunity. Tudo dominado.
As empresas tiveram por um bom tempo o controle sobre todas as ligação nacionais e internacionais, sobre o tráfego de dados na internet. Pode perfeitamente ter gravado clandestinamente ligações com fins de espionagem diplomática, militar, comercial, industrial, de chantagem, etc, e repassado ao governo estadunidense informações sensíveis. E não havia nada que impedisse isso, pois não adianta nada estar proibido na lei, se ações de espionagem são por natureza clandestinas e secretas, e se não há controle nacional sobre as atividades.
Mesmo depois que o controle acionário foi transferido pela Telmex, o controle estadunidense sobre as informações continuou presente, através de serviços de empresas dos EUA para a operadora mexicana, e de equipamentos, softwares e controle de satélites.
Pode-se afirmar, sem exagero, que o governo FHC fez um verdadeiro planejamento estratégico meticulosamente preparado para o governo estadunidense bisbilhotar a tudo e a todos.
Agora que o senado decidiu abrir uma CPI para investigar a espionagem, o vendilhão da pátria número 1, FHC, tem que ser convocado, se preciso por condução coerciva pela Polícia Federal, para explicar o inexplicável.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Sugestão para melhorar o jornalismo
Precisamos da volta do jornalismo que dá voz à todas as versões da história relatada. Chega de parcialidade.
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Diplomas de dentista e psicólogo exigirão ciclo no SUS
A criação de um ciclo obrigatório de trabalho no Sistema Único de Saúde (SUS) não deve ficar restrito ao curso de medicina, como definido no programa Mais Médicos, anunciado nesta segunda-feira, 8, pelo governo. O Conselho Nacional de Educação (CNE) estuda a adoção da medida para outras carreiras da área de saúde. O plano prevê que estudantes de odontologia, psicologia, nutrição, enfermagem e fisioterapia também concluam a formação com atividades na rede pública.
“Isso já vem sendo pensado”, informou nesta terça-feira o secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), Paulo Speller. Não há prazo para a conclusão da análise, que começou antes mesmo dos estudos sobre o caso da medicina. A administração federal anunciou nesta segunda-feira a edição de medida provisória (MP) para ampliar de seis para oito anos a duração de medicina em instituições públicas e privadas.
A decisão vale para estudantes que ingressarem na faculdade a partir de 2015. O ciclo complementar será feito em locais indicados pelas instituições de ensino, que formarão rede com serviços públicos de assistência. Durante os dois anos do ciclo suplementar, o aluno não pagará mensalidade. Pelos serviços prestados, receberá uma bolsa com valor ainda não definido. O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que a remuneração deverá variar entre R$ 2,9 mil e R$ 8 mil. A verba virá da saúde.
Remuneração
As instituições de ensino receberão pela supervisão feita ao trabalho do aluno na rede do SUS. A forma como isso será feito também ainda não está decidida. “Há tempo ainda para se pensar”, justificou Speller. “Estamos falando em algo que terá impacto apenas em 2021.”
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, não descartou a possibilidade de o aluno ser enviado para uma cidade diferente daquela onde ele cursou a graduação. Para isso, no entanto, é preciso que a instituição de ensino tenha um vínculo com a unidade básica de saúde ou o hospital para onde o estudante será enviado. A regulamentação do texto pelo CNE deve demorar seis meses. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Yahoo
terça-feira, 9 de julho de 2013
Amaury Ribeiro Jr.: Globo usou doleiros para pagar direitos da Copa
Processos contra a Globo podem reaparecer no Congresso
Amaury Ribeiro Jr. e Rodrigo Lopes – Hoje em Dia
Jurado de morte, um auditor aposentado promete entregar, nos próximos dias, ao Congresso Nacional, os mais de 10 mil volumes originais dos processos (criminal e civil) contra a Rede Globo por sonegação, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Os processos sumiram dos prédios da Receita Federal às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2006.
Atentado
O desaparecimento do processo também foi confirmado por uma auditor fiscal, que participou das investigações contra a Globo. Após tentar obter vantagem financeira com os processos, um auditor encarregado de fazer a operação limpeza, teria sofrido, meses depois, um atentado e passado a viver escondido. Agora aguarda de seu esconderijo o momento certo de finalizar a vingança contra TV Globo.
Manobra
Para abafar o sumiço do processo a cúpula da Receita, de acordo com a mesma fonte, teria montado às pressas outros dois processos clonados, com numeração diferente dos processos iniciais que receberam da receita a numeração 18.470011261/2006-14. Uma alta fonte da Receita garante que as cópias sumiram após o auditor fiscal Alberto Zile ter solicitado, além do civil, a abertura de um processo criminal contra os irmãos Marinho. A manobra tinha como principal objetivo a prescrição dos crimes, o que ocorre em cinco anos. Além do mais, o processo civil teria sido construído com inúmeras falhas, visando a nulidade processual.
Pânico
Ninguém na Receita sabe informar o destino desses processos que até hoje não foram encaminhados à Justiça. A mesma fonte dessa alta cúpula do Leão disse que os processos clonados não diminuem o pânico na Receita. Isso porque basta uma consulta ao site do Ministério da Fazenda – aberto para a consulta de qualquer cidadão – para se chegar à conclusão de que os processos originais deixaram suas digitais e mais: estão parados desde 2006 na Delegacia Fazendária do Rio. A Globo sequer chegou a recorrer ao Conselho Nacional de Contribuintes. Se tivesse recorrido, constaria nas consultas de processos (Comprot).
Paraísos Fiscais
A família Marinho tem mais um motivo para se preocupar. O processo também acaba revelando o submundo da emissora nos Paraísos Fiscais. Nesse processo, por exemplo, é acusada de utilizar empresas nas Ilhas Virgens Britânicas para pagar à Fifa pelos direitos de transmissão da Copa de 2002.
Doleiro
Em outras palavras, em vez de mandar legalmente a bolada por meio do Banco Central, a emissora recorreu a uma rede de doleiros comandada por Dario Messer, aquele mesmo que lavava o dinheiro de Rodrigo Silveirinha e líder da máfia dos fiscais do Rio de Janeiro que foi preso em 2003, depois de enviar milhões para o exterior.
Leia também:
Rodrigo Vianna: Processo da Globo pode ter “bomba atômica”
Leia os documentos revelados pelo Cafezinho e o livro Afundação Roberto Marinho
Parceiros da Globo preocupados com o ato do dia 11 em São Paulo
Tijolaço: Globo admite que sonegou, mas pagou
Jamil Chade: TV brasileira envolvida no suborno a Teixeira e Havelange
Globo reafirma que pagou dívida à Receita; MP aguarda informações
Barão pedirá que MP investigue sonegação da Globo
Feltrin: Globo não admite crime, mas diz que pagou
Miguel do Rosário: Globo cobrada em R$ 615 milhões por sonegação
Jurado de morte, um auditor aposentado promete entregar, nos próximos dias, ao Congresso Nacional, os mais de 10 mil volumes originais dos processos (criminal e civil) contra a Rede Globo por sonegação, lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Os processos sumiram dos prédios da Receita Federal às vésperas do segundo turno das eleições presidenciais de 2006.
Atentado
O desaparecimento do processo também foi confirmado por uma auditor fiscal, que participou das investigações contra a Globo. Após tentar obter vantagem financeira com os processos, um auditor encarregado de fazer a operação limpeza, teria sofrido, meses depois, um atentado e passado a viver escondido. Agora aguarda de seu esconderijo o momento certo de finalizar a vingança contra TV Globo.
Manobra
Para abafar o sumiço do processo a cúpula da Receita, de acordo com a mesma fonte, teria montado às pressas outros dois processos clonados, com numeração diferente dos processos iniciais que receberam da receita a numeração 18.470011261/2006-14. Uma alta fonte da Receita garante que as cópias sumiram após o auditor fiscal Alberto Zile ter solicitado, além do civil, a abertura de um processo criminal contra os irmãos Marinho. A manobra tinha como principal objetivo a prescrição dos crimes, o que ocorre em cinco anos. Além do mais, o processo civil teria sido construído com inúmeras falhas, visando a nulidade processual.
Pânico
Ninguém na Receita sabe informar o destino desses processos que até hoje não foram encaminhados à Justiça. A mesma fonte dessa alta cúpula do Leão disse que os processos clonados não diminuem o pânico na Receita. Isso porque basta uma consulta ao site do Ministério da Fazenda – aberto para a consulta de qualquer cidadão – para se chegar à conclusão de que os processos originais deixaram suas digitais e mais: estão parados desde 2006 na Delegacia Fazendária do Rio. A Globo sequer chegou a recorrer ao Conselho Nacional de Contribuintes. Se tivesse recorrido, constaria nas consultas de processos (Comprot).
Paraísos Fiscais
A família Marinho tem mais um motivo para se preocupar. O processo também acaba revelando o submundo da emissora nos Paraísos Fiscais. Nesse processo, por exemplo, é acusada de utilizar empresas nas Ilhas Virgens Britânicas para pagar à Fifa pelos direitos de transmissão da Copa de 2002.
Doleiro
Em outras palavras, em vez de mandar legalmente a bolada por meio do Banco Central, a emissora recorreu a uma rede de doleiros comandada por Dario Messer, aquele mesmo que lavava o dinheiro de Rodrigo Silveirinha e líder da máfia dos fiscais do Rio de Janeiro que foi preso em 2003, depois de enviar milhões para o exterior.
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Barão pedirá que MP investigue sonegação da Globo
Feltrin: Globo não admite crime, mas diz que pagou
Miguel do Rosário: Globo cobrada em R$ 615 milhões por sonegação
Jornalista padrão FBI
As redes sociais mudaram os conceitos de notícia, da verticalidade da informação e estraçalharam com paradigmas do que se compreendia desde os anos 1960 como modelo do jornalismo moderno. Uma implosão magistral de conceitos, estruturas e normas que regeram por décadas tanto criador como a criatura. Algo que pouquíssimos pensadores da sociedade cibernética, como o francês Pierre Levi, e alguns jornalistas mais atrevidos poderiam conceber em seus estudos, artigos e livros. Mas até aí nenhuma novidade – e já comentado demais.
Entretanto, apenas parte dos seres gerados nesse processo de mutação mostraram seus dorsos e, pouquíssimos, suas caras ao emergirem no meio desses escombros. Mas a seleção natural nunca foi um processo com a velocidade de megabites pelas infovias – é lenta, orgânica e física, e dela surgem também deformidades e abominações, que podem prosperar ou não, conforme a adequação ao ambiente. Darwinismo puro.
Pelo visto, sentido e relatado, os jornalistas estão entre as primeiras espécies ingressas na listagem “ameaçadas de extinção”. O conceito de evolução também se aplica a essa categoria profissional, um tanto letárgica em seus movimentos, pois carregava sob o dorso o peso de estruturas gigantescas e um tanto servis ao sistema. E nesse trote trôpego tornaram-se com o tempo apenas repetidoras de preceitos da modelagem centenária da profissão. Um Quasímodo a se dependurar nas gárgulas e ameias da catedral a observar distante a populaça.
O que era imprevisto, porém, foi a guinada do voyeurismo do Facebook, que se encontrava mais para o clássico filme Janela Indiscreta de Alfred Hitchcock, para um modelo da perversidade fascista como do Federal Bureau of Investigation (FBI) de John Edgar Hoover. Ou vir a se assemelhar às práticas da nacional-socialista alemã Geheime Staatspolizei, a Gestapo, conhecida por suas atividades invasivas.
Rede de alcaguetes
Mas o tema aqui não são as espionagens da central de inteligência do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e sim da versão tropicalizada deste procedimento. Por essas plagas que já experimentou o Serviço Nacional de Informações (SNI) e o colaboracionismo da Polícia Civil, novos elementos se agregaram voluntariosamente à formação de dossiês, investigações contra pessoas e entidades, criação de redes de alcaguetes entre outras atuações que deixariam o Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) satisfeitíssimo com a disseminação e avanço de suas técnicas.
Nem mesmo a cultura da espionagem e delação profetizada pelo jornalista e escritor britânico George Orwell, em seu romance político 1984, poderia prever que os atores desse cenário medieval, de um Estado policialesco e opressor, seriam jornalistas. Sem diploma e regulamentação, a profissão se tornou um Quasímodo torturado por suas deformidades que tenta se adaptar para sobreviver. Diferente do esforço contra o Estado policial instalado no Brasil durante a ditadura militar, agora os jornalistas se tornaram os novos controladores das manifestações públicas. Esses recém promovidos a cães de guarda do sistema estão cumprindo à risca suas novas funções.
Com o falência das redações mantidas pela grande imprensa, o Estado em suas diversas esferas passou a arrebanhar esse imenso contingente, tanto egresso dos jornais como oriundos das faculdades que proliferaram como ratos nas últimas décadas, a maioria de péssima qualidade. Nunca foi novidade que muitos jornalistas estampavam suas paixões e ideologias abertamente, algo comum em um ambiente que sem contestação e efervescência de opiniões e ideários estaria fadado a ser mero reprodutor do oficialismo, da visão unilateral e, por vezes, distorcida.
Indicativos
No entanto, já em meados dos anos 1990 haviam claros indicativos que essa situação se transformava. As novas gerações aportavam enfaradas por seu comodismo intelectual, realizados com a falsa sensação de poder emprestada pelo exercício da profissão, com atuações cada vez mais oficial e burocrática, temerosas de infringir o “politicamente correto” e envoltas no manto da arrogância extremada e agressivas na defesa de seu status e vaidades aguçadas por aduladores. A situação se agravou de maneira frenética com o passar dos anos.
A mutação ignora os reclames. Moribundo e encastelado em seus antigos conceitos e práticas, a velha guarda do jornalismo ainda rememorava seus tempos de diversidade e clamava por profissionais que rumaram para longe desse horizonte nebuloso. Fugiam dos péssimos salários, de jornadas de trabalho mais apropriadas aos regimes escravocratas e de empresas nas quais a gestão é feita muito mais pelo interesse pessoal, pelo desleixo com a qualidade do conteúdo e pelo apadrinhamento que pela competência. Enfim, uma nova ordem estava estabelecida.
Boa parte da demanda para novos jornalistas passou a vir das assessorias de imprensa dos governos, de suas empresas e entidades públicas. O “quarto poder” não está mais divorciado de seus pares. E aí reside a pestilência. A tendência agora é transferir para os jornalistas a incumbência do engajamento da militância e de posicionamentos que fogem de sua função. Embora seja impossível saber ao certo qual a extensão desta rede de intrigas e fuxicos, seus efeitos são sentidos diariamente.
Imprensa golpista
Existem diversos relatos e demonstrações nas redes sociais, em particular no Facebook, de que as assessorias se tornaram centros de formação de bisbilhoteiros e alcaguetes profissionais. Cada grupo político partidário, altamente profissionalizado, adota em sua “política de comunicação” orientações para o atendimento à imprensa conforme uma classificação de cooptação, na qual há a separação da “imprensa parceria” e “imprensa inimiga” ou PIG (Partido da Imprensa Golpista). Algo de uma tacanhez sem precedentes.
Nessa visão maniqueísta e de viés totalitário, o trabalho de divulgação da informação institucional de interesse jornalístico é secundário. O foco é outro e dotado de contornos altamente perigosos para a própria liberdade de imprensa. Esses verdadeiros locatários do poder, que sitiaram o Estado da sociedade, criaram um sistema para vigiar, atacar e segregar os que ainda tentam desenvolver um jornalismo com maior independência ou na defesa de um ponto de vista editorial ou pessoal. Uma versão renovada da propaganda do Estado Novo, a própria releitura em matriz digital das práticas censórias getulistas.
Nesse enxame de moscas varejeiras, os veículos de comunicação, seus repórteres e editores são vasculhados pela rede. O objetivo é caçar informações pessoais, manifestações públicas sobre assuntos corriqueiros, entre eles a política. Suas páginas, fotos, blogs, sites são visitados periodicamente e as opiniões são recolhidas em dossiês. Esses documentos são formados destacando o jornalista como gerador de notícias “contra” ou “a favor do governo”, seja na esfera municipal, estadual, federal e, por fim, partidária.
Pudor, nenhum
A ferramenta promotora para essa prática está à disposição e poupa esforços: as redes sociais. E os agentes, os melhores possíveis, jornalistas engajados e ligados a estruturas da política profissional – que inclusive contam com agências de publicidade, marqueteiros, jornais e revistas, produtores de vídeos, redações completas para produzir informações e contrainformações.
Esses jornalistas não defendem uma causa, defendem sua nova posição social e seus empregos muito bem remunerados, financiados com o dinheiro público. Pudor, nenhum. Prova disto é que criam fakes com nomes de profissionais do círculo de relações do colega a ser seguido, interagem com a vítima com a desenvoltura dos grandes hipócritas.
A partir desses levantamentos canhestros, são produzidos relatórios e a separação do volume de matérias feitas contra o status quo. Esses dossiês circulam entre chefias, inclusive no setor privado e em redações de jornais, embora isso seja negado com veemência pelos travestidos de defensores da liberdade de imprensa. A tal da lista negra, uma prática antiga que atualmente é chamada de PIG, é produzida com requintes de perversidade que faria corar de vergonha qualquer agente do Departamento de Ordem Política e Social (Dops).
O objetivo é anular o alvo, tanto na parte profissional como pessoal. Mostrar a força do Estado policial, punitivo e converter o indivíduo numa sombra do que era e excluir sua existência diante do olhar de aprovação do Grande Irmão. Mas longe do conhecimento da sociedade. Orwell nunca foi de tamanha realidade no Brasil. A tecnologia que era para ampliar as diversidades se tornou a face do totalitarismo e de seus novos agentes, os jornalistas padrão FBI.
***
Júlio Ottoboni é jornalista, pós-graduado em jornalismo científico
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