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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Não deixe o spam ser um grande eleitor neste segundo turno

Típico internauta, que acredita em spam e depois se envergonha




Blog do Sakamoto


Caro(a) amigo(a), se você decide seu voto por conta de uma das dezenas de correntes apócrifas que circulam pela internet, pró-Dilma e pró-Serra (ou anti-Dilma e anti-Serra), parabéns. Você é, oficialmente, uma pessoa manipulável.

Nunca entendi muito bem porque as pessoas acreditam piamente naquilo que recebem em suas caixas de e-mail. Será que o anonimato das mensagens apócrifas é entendido como uma espécie de “sinal”? Do tipo: “Senhor, me dê os números vencedores do jogo do bicho” e, dias depois, você interpreta uma propaganda de um haras, que chegou acidentalmente por e-mail, como resposta para apostar no “cavalo”?! Vai que, da mesma forma que o Altíssimo escreve certo por linhas tortas, ele também “emeia” justo por internet frouxa, não é?

O mais interessante é que algumas dessas mensagens contam com mentiras tão bem construídas que tem mais gente acreditando nelas do que em boas matérias, com dezenas de fontes, feitas por jornalistas com décadas de credibilidade, que desmentem ou explicam o caso.

- Pô, o texto é super bem escrito. Não deve ser falso.
- O e-mail trouxe vários números. Ou seja, não pode ser mentira.
- Ele tem fotos. É mais difícil manipular fotos.
- Recebi isso do Ronaldo, irmão da Ritinha, casada com o Roberval, filho do seu Romeu, lembra? É, Ro-meu. Ele repassou um e-mail que recebeu do Rui, que é chefe dele na Ramos e Ramos, aquela empresa de retroescavadeiras. Homem decente o Ronaldo… então é coisa séria.

É muito mais “quente” acreditar, neste segundo turno, que a candidata X devora criancinhas e o candidato Y bate constantemente nas suas amantes do que encarar que, na vida real, os defeitos, esquisitices e idiossincrasias podem ser outros. Também bizarros, mas que não influenciam no seu caráter e no seu comportamento político, – e que, talvez, não atraiam tanto a atenção. Sabendo disso, o pessoal mal intencionado apela.

A rede mundial de computadores nos abriu um mundo de possibilidades. Hoje, um leitor – se quiser – consegue acessar fontes confiáveis e encontrar números, checar dados, trocar idéias com amigos, comparar governos ou mesmo desmentir pataquadas. Avalie o que você quer para o país e faça uma escolha, sua escolha. Não jogue fora seu voto por uma mensagenzinha mequetrefe. Ah, mas cuidado! Ao se debruçar sobre essas questões, se informar, debater com outras pessoas, mandar e-mail e cobrar do candidato posições, você vai estar fazendo Política, com “P” maiúsculo e não politicagem. E atacando a raiz de muitos preconceitos.

Coisa que o Povo do Spam não quer. Pois, o Povo do Spam quer sangue.

***

Algumas mensagens de spam travestem opinião como dados isentos e descontextualizam ou ocultam fatos que não são interessantes para o argumento defendido. Trouxe algumas sugestões reunidas tempos atrás por Rodrigo Ratier, jornalista e mestre em pedagogia, grande especialista na área de educação e comunicação, para usar a lógica a fim de perceber problemas nos textos. Quem já adota essas ferramentas, pode parar a leitura por aqui e vá apagar o lixo acumulado na caixa de entrada. Caso contrário, fica aqui a sugestão.

“A camisinha não protege contra o vírus HIV. A epidemia de Aids cresceu justamente porque se confia nessa proteção”, disse um bispo certa vez.
Desconfie dos argumentos de autoridade. Não é porque o Papa, o Patriarca de Istambul ou a Bispa Sônia disseram algo que você tem que acreditar, não é? O mesmo vale para o presidente da sua associação de moradores ou o diretor do seu sindicato. É preciso provar o que se diz. Exija confirmação dos fatos ou vá atrás dela.

“Não ouviremos as posições do antropólogo Luiz Mott sobre o casamento gay: ele é homossexual.”
Para desmontar um discurso, não se ataca o argumentador, mas sim o argumento.

“Nesta eleição, vamos escolher entre um Sartre e um encanador.
Não se ridiculariza o outro apenas por ser seu adversário.

“Antes do MST existir, não havia violência no campo.”
Falsa relação de causa e conseqüência – um fato que acontece depois do outro não necessariamente foi causado pelo primeiro.

“Na guerra contra o terrorismo, ou você apóia a invasão do Iraque ou está alinhado com o mal.”
É errado excluir o meio termo. Um debate maniqueísta é mais fácil de ser entendido, mas o mundo real não é um Palmeiras e Corinthians, um Fla-Flu, um Grenal, enfim, vocês entenderam.

“Ou se dá o peixe ou se ensina a pescar.”
Isso é uma falsa oposição. Não se opõe curto e longo prazo necessariamente. Uma ação não invalida a outra. Elas podem ser, inclusive, subsequentes ou coordenadas.

“Isso não é demissão. A empresa apenas avisou que precisará passar por um redimensionamento do quadro de empregados.”
Não se deixe levar pelos eufemismos. Nem por quem fala bonito. Uma pessoa pode te xingar e você, às vezes, nem vai perceber se não se atentar para as palavras que ela escolheu.

“Avenida Faria Lima, Águas Espraiadas, Imigrantes, Minhocão, Rodovia dos Trabalhadores: alguém aí consegue imaginar São Paulo sem todas essas obras feitas pelo Maluf?”
Desconfie dos e-mail que contém um monte de acertos de alguém e ignorem, solenemente, os erros.


Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Já foi professor de jornalismo na USP e, hoje, ministra aulas na pós-graduação da PUC-SP. Trabalhou em diversos veículos de comunicação, cobrindo os problemas sociais brasileiros. É coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.


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