Por Dr Cláudio Jerônimo da Silva - psiquiatra e Diretor Técnico do UNAD
É natural que um assunto complexo gere discussão e polêmica. Mas, sempre que ouço alguma opinião a esse respeito, me pergunto: quais são a motivação, os interesses e as avaliações que estão subjacentes à ideia da legalização da maconha? Naturalmente, são diversos motivos. Alguns dos que imagino, gostaria de compartilhar com os leitores.
Antes, alguns dados objetivos precisam estar em mente: 75% dos brasileiros não concordam com a legalização; 11% concordam. O restante não sabia opinar ou não respondeu à pesquisa Lenad 2012. Em número de pessoas, isso significa que 111 milhões de brasileiros não concordam com a legalização e que 16 milhões concordam. Como os dados com o perfil dessas pessoas não foram ainda avaliados, e suas motivações não foram objeto da pesquisa, vamos aqui levantar algumas hipóteses a respeito de quem seria essa minoria de brasileiros que concordam com a legalização.
Entre eles existe um grupo, manifesto, que acredita que a legalização vai regular o consumo, a produção, a distribuição, e com isso haverá diminuição do tráfico e da violência. Está subjacente à essa ideia o alto controle estatal, como aconteceu no Uruguai. O Estado deverá conseguir fiscalizar a venda de sementes, o número de pés de maconha plantados, a idade de quem planta, quem usa e a quantidade que usa, quem comercializa e quem compra. Quem defende essa posição deve acreditar que a maconha é uma droga que merece controle, que não deve ser liberada totalmente. Deve acreditar que pelo menos para alguns a maconha traz prejuízo, caso contrário não faria sentido tanta regulação do Estado.
Eu faço parte de um grupo que questiona: tendo em vista que a experiência brasileira na regulação e no controle do mercado de álcool e cigarro não é boa, por que seria diferente com a maconha? Regular tantas etapas do processo, além do comércio ilegal que continuará existindo, é viável, factível? Tendo em vista a dimensão do Brasil, nossa história, nossa cultura e nossos hábitos, podemos nos comparar com Uruguai, Holanda, Portugal, Estados Unidos? Se o Estado brasileiro não conseguiu fazer frente às forças do mercado de bebida e de cigarro no controle de propaganda, distribuição e venda de seus produtos, por que seria diferente com a maconha? Por exemplo, não se conseguiu restringir o consumo de bebida nos estádios durante a Copa. A lei foi rediscutida em razão do poder econômico. Ao se formar um mercado de maconha, ele não vai se organizar, se fortalecer e exercer seu poder sobre o Estado? Ou, ao contrário do mercado de bebida e cigarro, ele vai passar a considerar interesses de saúde pública e dos mais vulneráveis (crianças, adolescentes, doentes mentais)?
Existe outro grupo que acredita que a liberdade das pessoas deve ser prioridade. As pessoas todas teriam plena condição para avaliar os riscos e os benefícios de seu comportamento e para decidir o que é melhor para si. Essa é uma questão filosófica interessante. Existe uma teoria em psicanálise que diz que a cidadania e a convivência coletiva só foram possíveis quando o homem conseguiu reprimir alguns de seus impulsos primitivos individuais em prol do interesse da maioria e do bem comum. Para o bem-estar do grupo, não sujamos as ruas fazendo nossas necessidades fisiológicas, embora isso nos custe algum esforço e o cumprimento de algumas regras que contrariam a satisfação imediata e pura dos impulsos e desejos primitivos. Este é o princípio: se algum desejo individual prejudica o bem-estar do grupo, ele precisa ser revisto. Assim, pergunto: o que é melhor para o bem comum, e não para o indivíduo? A vontade do indivíduo deve se sobrepor à vontade do grupo?
Ainda nesse campo, temos a psicologia comportamental, que se baseia no argumento de que o ambiente (cultural, social, econômico etc.) influencia a decisão das pessoas. Ninguém é totalmente livre e desprovido de interferências externas. O mercado, a propaganda, o preço, a atitude do grupo influenciam a decisão das pessoas. Não é só isso. A dependência turva a liberdade de escolha. E maconha causa dependência: 37% dos brasileiros que usaram maconha no último ano preenchiam critérios de dependência (Lenad). Isso não é um questionamento. É um fato.
Existe ainda o grupo de usuários de maconha. Essas pessoas gostariam de sair da ilegalidade e não sofrer preconceito e exclusão. E, naturalmente, uma parte delas gostaria de continuar usando. Fato: cerca de 3% da população brasileira usa maconha. Questão: nesse grupo, imagino que existam vários subgrupos, como aqueles que usaram eventualmente e não tiveram problemas e querem continuar usando. Aqueles que usaram, tiveram problemas (desenvolveram um quadro psicótico e perderam a capacidade de ajuizamento crítico) e não conseguem perceber os prejuízos e, por isso, querem continuar usando. E aqueles que, embora usem, gostariam de parar.
Sobre isso, me pergunto: não seria mais fácil e justo proteger os mais vulneráveis com capacidade de ajuizamento crítico prejudicado? Não existe outro modo de tratar os usuários sem preconceito e exclusão que não seja colocar em risco os outros mais vulneráveis? De fato, os mais vulneráveis talvez sejam a minoria. Mas qual é o papel das políticas públicas se não proteger os mais vulneráveis? Não deveria o Estado proteger a minoria mais vulnerável?
Evidentemente, existem muitos outros grupos, mas esses são os maiores. É evidente também que todas essas questões são passíveis de discussão e que assim seja. Essa é a intenção deste post. Quero levantar dúvida e gerar questionamento. Se formos capazes de duvidar, seremos capazes de responder um dia. O que preocupa é a indisposição para o debate e decisões que desconsiderem o que pensa a maioria das pessoas.
Mas a dúvida que mais preocupa e incomoda é que deve existir um grupo que lucraria muito com a legalização da maconha. Não são os 3% de usuários ou os 11% que concordam com a legalização. É um grupo muito menor, que vê em nossa ingenuidade e na possibilidade econômica uma grande oportunidade. Nesse grupo não há espaço para ingênuos, do que se conclui que entre os que concordam também há um grupo de ingênuos.
A pergunta que cabe neste caso é o que fazer para não ficar nesse grupo e inadvertidamente lutar pelos interesses de tão pouca gente?
Questionar e duvidar pode ser o primeiro passo. Saber em qual grupo nos incluímos, o segundo. E, por fim, tentar responder: a quem de fato interessa que a maconha seja legalizada? Interessa a você, leitor? Por qual motivo?
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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015
domingo, 22 de fevereiro de 2015
É uma piada" o silêncio da Globo sobre o caso HSBC
Da Rede Brasil Atual - O HSBC é um exemplo privilegiado de como corporações que estão no limite da criminalidade impõem na economia internacional seus interesses. O professor de filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Vladimir Safatle indica a instituição financeira como exemplo de promiscuidade entre mercado financeiro, política e mídia, com raízes no crime, em entrevista à Rádio Brasil Atual hoje (20). “Desde sua criação, o banco tem as piores credenciais possíveis. Essa instituição bancária foi criada em 1860, depois da última guerra do Ópio entre Inglaterra e China, quando os ingleses forçaram a abertura dos portos chineses para que o tráfico da droga continuasse”, relata.
“Os chineses resolveram impedir o comércio de ópio porque a população já estava entrando em um processo de ser dizimada pela droga. Então, o banco foi criado exatamente para financiar o tráfico de drogas, entre outras coisas. E ele cresceu, a partir dos anos 70, comprando bancos dos Estados Unidos e da Europa, muitos dos quais tinham carteiras extremamente problemáticas", diz Safatle. "Foi o caso do banco do finado Edmond Safra, que tinha entre seus clientes traficantes de diamantes e negócios com a máfia russa. O Safra foi assassinado em uma situação, no mínimo, bastante misteriosa. Seu banco iria ser comprado pelo American Express e o negócio foi desfeito por causa de problemas internos."
Esse foi o processo de crescimento do banco, segundo o professor. "Comprou o Bamerindus aqui, um banco que estava com problemas enormes. E não só isso, quer dizer, ele é reincidente, faz anos que o banco tem sido julgado por várias instâncias mundiais, exatamente por esses seus negócios com tráfico, negócios ilícitos. Foi declarado culpado nos Estados Unidos por um caso que envolvia tráfico com colombianos e mexicanos. Só que pagou uma mixaria de um milhão e novecentos mil dólares de multa.”
O que ocorre com o HSBC não é novo, é uma prática comum, para Safatle: “E não é para estigmatizar o banco, mas para esclarecer o que é o sistema financeiro internacional. São corporações que estão acima dos governos. Não só não se quebra como não se regulamenta um banco como o HSBC, porque ele está tão acima dos governos que o seu diretor à época desses chamados Swiss Leaks era pastor anglicano e hoje é ministro do David Cameron, no governo britânico."
O professor ressalta que se percebe uma relação incestuosa entre o sistema financeiro e a classe política. "É o diretor do banco que vira ministro de um gabinete da Inglaterra, que, com certeza, não vai desenvolver políticas que sejam estranhas ou contra os interesses do sistema financeiro que ele representa muito bem. A imprensa começou a questionar o ministro e ele não dá resposta alguma, porque ele sabe que está numa situação de ser completamente intocado, não há nada que possa acontecer com essas pessoas", lamenta.
Para o filósofo, todo mundo fica completamente exacerbado por problemas como tráfico de drogas, de armas, guerras. "Se não existissem esses bancos, que têm como uma suas finalidades lavar esse dinheiro, com certeza o problema não seria dessa magnitude em hipótese alguma. Só há crime nessa magnitude porque há um sistema financeiro que é completamente conivente, cresceu dentro desse meio.”
Ele destaca que não é só a tráfico de drogas que o HSBC está ligado, mas que há também fraudes de evasão fiscal, no momento em que a economia mundial e os estados estão em crise, tentando segurar o que restou de bem-estar social. “Os países da União Europeia socorreram bancos falidos. Então, quando os bancos cometem crimes, o que se espera é que os responsáveis sejam punidos, presos, mas não é isso o que ocorre”, observa.
Safatle lamenta que a imprensa brasileira não noticie os fatos, ao contrário da europeia. “É inaceitável o tipo de silêncio tácito que está ocorrendo, salvo raríssimas exceções muito pontuais. Na imprensa francesa ou britânica, mesmo nos Estados Unidos, foi dito que vão utilizar esses dados para tentar reaver o dinheiro." Nesses casos, a imprensa apresentou os nomes: "O Le Monde, que mobilizou um pouco tudo isso, chegou a brigar com seus acionistas porque um deles fez uma declaração dizendo que achava um absurdo que o jornal expusesse esses nomes. Ou seja, a imprensa fez o seu papel. No caso brasileiro é inacreditável".
O Brasil é, a princípio, o nono país em número de contas nessa filial genebrina do HSBC. São 8.667 contas, das quais 55% são contas de nacionais, ou seja, são mais de 4 mil pessoas. "A pergunta que eu gostaria de fazer é quem são essas pessoas. O sujeito não abre uma conta em um banco suíço com esse histórico à toa. Quem são as pessoas que fizeram evasão fiscal, fraude fiscal e coisas dessa natureza?”, questiona.
Alguns nomes de brasileiros que possuem contas no HSBC com depósitos sem origem comprovada na agência em Genebra foram conhecidos por intermédio de sites angolanos. “Aí apareceu o nome do rei do ônibus do Rio de Janeiro, o nome da família Steinbruch, que é do grupo Vicunha. Essas pessoas cometeram crimes, quais foram os crimes? É muito estranho que não só a imprensa, mas, ao que parece, a própria Receita Federal adiou a análise de coisas desse tipo."
Para Safatle, isso demonstra um dado muito evidente: "A elite rentista brasileira é completamente blindada, sabe que é e tem uma relação incestuosa entre poder político e estrutura de comunicação, que faz com que em última instância seja um grupo só, de uma forma ou de outra, que sabe que pode fazer o que quiser, porque sabe que não existe nenhuma possibilidade de a Justiça pegar, a não ser existam embates internos, em brigas internas, aí sim vão pegar um ou outro".
O professor da USP se pergunta como ampliar essa discussão oculta na imprensa tradicional. “Os nomes que vazam dessa lista de brasileiros com contas no HSBC em Genebra são de envolvidos na Operação Lava Jato, da Polícia Federal. Quer dizer, os nomes são divulgados dependendo do interesse do meio de comunicação. Só são esses os nomes dos 4 mil correntistas, só são esses dez ou 15 que tiveram problemas? Isso é uma brincadeira.”
A extrema gravidade da história exige que se faça algo. “Se tem algo que destrói a moralidade é a parcialidade, é você começar a perceber que há um uso estratégico do discurso sobre a moralidade, porque é um uso que serve simplesmente para você voltar suas atividades contra seus inimigos. Nesse momento, a moralidade perde completamente seu valor. Eu diria que na política brasileira isso acontece a torto e a direito, é um traço característico da política brasileira."
Safatle lembra: "A moralidade exige a simetria completa dos julgamentos. É julgar todos da mesma forma, independente do que vá acontecer. Isso falta dentro da política brasileira. É por isso que não se consegue fazer com que essas indignações se transformem em saltos qualitativos da política. E aí vira simplesmente um jogo em que se tenta colocar um ou outro contra a parede.”
Safatle identifica que há um processo de desgaste constante do governo pela mídia e, por isso, os nomes envolvidos em negócios ilícitos no HSBC são seletivos. “Se a gente quisesse mesmo fazer uma limpeza geral no que diz respeito ao caso Petrobras, por exemplo, todos denunciantes falaram: 'Olha, desde 1997 eu recebo propina'. Ou seja, tem um dado estrutural, não existe um caso de governo ou de partido, é um caso de estrutura, em que vai todo mundo. E nessa situação o mínimo que se espera é que se mostre claramente a extensão do processo e a necessidade geral de punição. Mas isso nunca ocorre, isso desgasta toda a força da indignação moral”, lamenta. “Todo mundo que conhece um pouco da sociedade brasileira sabe que lá você vai encontrar alguns dos nossos empresários mais conhecidos, alguns dos políticos mais conhecidos.”
Quanto ao silêncio que a Rede Globo dedica ao caso do HSBC, Safatle comenta: "Isso é uma piada, é completamente inacreditável. Eu gostaria que eles explicassem muito claramente qual é a noção deles de notícia, porque é surreal. Você pode pegar as páginas do The Guardian, jornal britânico, ou do francês Le Monde, e a televisão de maior audiência não dá nada? O que é isso? Eles transformam o jornalismo em uma grande brincadeira".
Para a secretária-geral do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, Ivone Maria da Silva, é uma "vergonha" que esse caso só apareça em alguns sites e blogs e seja ignorado pelos grandes meios de comunicação, que não têm interesse em divulgar os nomes de brasileiros que estão nessa lista com depósitos sem origem comprovada no HSBC em Genebra. “Um dos clientes que já apareceu na lista foi o Clarín, da Argentina. Não vamos ficar surpresos se os meios de comunicação aqui do Brasil também aparecerem na lista, ou se os donos desses meios estiverem guardando dinheiro lá fora para não pagar impostos. Talvez por isso essa lista não seja divulgada. Começaram a soltar os nomes seletivamente, e por isso surgem os nomes relacionados com a Lava Jato. Mas tinha que soltar o nome de todo mundo”, diz.
Brasil 247
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Inglaterra proíbe fumar dentro de carros com crianças
Motoristas e passageiros de veículos que estiverem transportando crianças não poderão mais fumar no interior do carro na Inglaterra. A lei, que entrará em vigor a partir de outubro, visa proteger os mais novos e evitar que eles sejam fumantes passivos desde cedo.
Com a nova legislação, quem for pego fumando dentro de um carro que tenha crianças como passageiros terá de pagar uma multa de £50 (cerca de R$ 220).
UOL
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015
sábado, 7 de fevereiro de 2015
Suíça testa novo tratamento contra o câncer
Carta Capital
O oxigênio é o ponto central de um estudo de combate ao câncer que cientistas estão desenvolvendo na Universidade de Zurique. Eles aplicam oxigênio nos tumores ao invés de reduzir a quantidade, como acontecia em terapias anteriores.
Os pesquisadores usam a molécula química ITPP (Inositol tris pirofosfato), com o intuito de normalizar os vasos sanguíneos modificados pelo tumor, elevando a sua oxigenação. Segundo o diretor do estudo, Pierre-Alain Clavien, depois começa-se com a quimioterapia.
“Em testes com animais, observamos que a quimioterapia é muito mais eficaz. Se combinarmos os dois métodos, conseguimos resultados muito bons”, explica.
Tumores no pâncreas, fígado e intestino grosso estão entre os tipos mais perigosos. Se a doença está em fase inicial, o paciente geralmente pode ser operado. Se o tumor já está avançado, o procedimento cirúrgico já não é mais possível, e é necessária radioterapia ou quimioterapia.
Esses tratamentos levam à inibição da formação de vasos sanguíneos, o que reduz o oxigênio disponível no tumor. Esse é até agora um método mais comum para fazer com que o tumor cresça mais lentamente.
Segundo Përparim Limani, do centro de doenças hepáticas e pancreáticas do Hospital Universitário de Zurique, estudos recentes mostram que tais métodos podem levar exatamente ao efeito contrário.
“A partir de um determinado tamanho de tumor, o fornecimento de oxigênio através do sangue não é mais suficiente para alimentá-lo. Forma-se a chamada hipóxia, ou seja, a redução do teor de oxigênio. Essa hipóxia altera o metabolismo do tumor e, assim, o seu comportamento.”
Os tumores ficariam então mais agressivos e iniciariam uma migração pela corrente sanguínea e vasos linfáticos para os órgãos onde existe mais oxigênio. Neste ponto, ocorre o perigo da metástase, ou seja, o início de uma nova formação tumoral a partir de outra.
Segundo Hellmut Augustin, professor do Centro Alemão de Pesquisas sobre o Câncer, o maior desafio ainda é a metástase. “O tumor primário acessado pelo cirurgião é geralmente removido. Mas o que leva na verdade à morte é a metástase, a fase que menos entendemos.”
Em janeiro deste ano, a autoridade reguladora de medicamentos na Suíça (Swissmedic) e a Comissão de Ética Cantonal de Zurique aprovaram o estudo do método envolvendo o ITPP. A expectativa é que 70 pacientes sejam submetidos ao tratamento. O objetivo inicial é determinar a dose ideal para os pacientes e testar a tolerância.
“Além disso, nós esperamos tirar as primeiras conclusões sobre o efeito do ITPP nos tumores”, afirma Limani. Se os testes com o tratamento forem bem-sucedidos, calcula-se que a autorização para a comercialização possa ser dada em um período de três a cinco anos.
A Universidade de Zurique havia definido a nova abordagem, no mês de janeiro, como “uma maneira radicalmente nova de combate ao câncer.”
Os cientistas alemães, no entanto, são cautelosos. “Ainda é preciso verificar se no final o método funciona melhor ou não. A conclusão de que é uma mudança radical é um pouco exagerada. De qualquer forma, se trata de uma abordagem interessante”, opina Augustin.
Os pesquisadores usam a molécula química ITPP (Inositol tris pirofosfato), com o intuito de normalizar os vasos sanguíneos modificados pelo tumor, elevando a sua oxigenação. Segundo o diretor do estudo, Pierre-Alain Clavien, depois começa-se com a quimioterapia.
“Em testes com animais, observamos que a quimioterapia é muito mais eficaz. Se combinarmos os dois métodos, conseguimos resultados muito bons”, explica.
Tumores no pâncreas, fígado e intestino grosso estão entre os tipos mais perigosos. Se a doença está em fase inicial, o paciente geralmente pode ser operado. Se o tumor já está avançado, o procedimento cirúrgico já não é mais possível, e é necessária radioterapia ou quimioterapia.
Esses tratamentos levam à inibição da formação de vasos sanguíneos, o que reduz o oxigênio disponível no tumor. Esse é até agora um método mais comum para fazer com que o tumor cresça mais lentamente.
Segundo Përparim Limani, do centro de doenças hepáticas e pancreáticas do Hospital Universitário de Zurique, estudos recentes mostram que tais métodos podem levar exatamente ao efeito contrário.
“A partir de um determinado tamanho de tumor, o fornecimento de oxigênio através do sangue não é mais suficiente para alimentá-lo. Forma-se a chamada hipóxia, ou seja, a redução do teor de oxigênio. Essa hipóxia altera o metabolismo do tumor e, assim, o seu comportamento.”
Os tumores ficariam então mais agressivos e iniciariam uma migração pela corrente sanguínea e vasos linfáticos para os órgãos onde existe mais oxigênio. Neste ponto, ocorre o perigo da metástase, ou seja, o início de uma nova formação tumoral a partir de outra.
Segundo Hellmut Augustin, professor do Centro Alemão de Pesquisas sobre o Câncer, o maior desafio ainda é a metástase. “O tumor primário acessado pelo cirurgião é geralmente removido. Mas o que leva na verdade à morte é a metástase, a fase que menos entendemos.”
Em janeiro deste ano, a autoridade reguladora de medicamentos na Suíça (Swissmedic) e a Comissão de Ética Cantonal de Zurique aprovaram o estudo do método envolvendo o ITPP. A expectativa é que 70 pacientes sejam submetidos ao tratamento. O objetivo inicial é determinar a dose ideal para os pacientes e testar a tolerância.
“Além disso, nós esperamos tirar as primeiras conclusões sobre o efeito do ITPP nos tumores”, afirma Limani. Se os testes com o tratamento forem bem-sucedidos, calcula-se que a autorização para a comercialização possa ser dada em um período de três a cinco anos.
A Universidade de Zurique havia definido a nova abordagem, no mês de janeiro, como “uma maneira radicalmente nova de combate ao câncer.”
Os cientistas alemães, no entanto, são cautelosos. “Ainda é preciso verificar se no final o método funciona melhor ou não. A conclusão de que é uma mudança radical é um pouco exagerada. De qualquer forma, se trata de uma abordagem interessante”, opina Augustin.
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015
Dica de livro: " O Holocausto Brasileiro"
Excelente livro da jornalista Daniela Arbex, que trata das péssimas condições de um hospício em Barbacena (MG). A narrativa tem um foco excelente nas vítimas do tratamento nada humanitário perpetrado no local, além de excelentes imagens do repórter fotográfico Luiz Alfredo Ferreira, da revista "O Cruzeiro".
Segue abaixo uma entrevista com a autora:
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