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segunda-feira, 10 de agosto de 2015
Avestruzes da República esconderam-se do "petrolão" há mais de 20 anos
Por Tales Castelo Branco
Em 1989, o jornalista Ricardo Boechat ganhou o Prêmio Esso denunciando, como ele próprio definiu, a “roubalheira na Petrobras”.
Dominado por políticos de direita, o governo José Sarney (1985 – 1990) foi palco de constantes arrochos salariais e, principalmente, de grandes surtos inflacionários. Com relação à denúncia estrondosa de Ricardo Boechat, manteve-se silente, sem tomar qualquer iniciativa contra a corrupção que grassava na Petrobras.
Em 1997, o jornalista Paulo Francis afirmou em Nova York, onde residia e trabalhava como correspondente da TV Globo, que havia corrupção na Petrobras. Era o terceiro ano do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. O presidente, suponho que por simples descaso, não tomou qualquer providência para investigar a veracidade ou não da denúncia.
Apesar de Fernando Henrique Cardoso não mandar investigar a denúncia, os diretores da estatal, presidida na época por João Rennó, propuseram contra o jornalista, nos Estados Unidos, uma ação penal por danos morais. Paulo Francis, no programa “Manhattan Connection”, havia afirmado que “Os diretores da Petrobras põem dinheiro na Suíça”; “roubam em subfaturamento e superfaturamento”; “constituem a maior quadrilha que já atuou no Brasil”. Como os diretores queriam atingir o jornalista que não apresentava provas concretas, mas apenas a denúncia para ser apurada, decidiram, maldosamente, que a ação fosse proposta em Nova York, onde as indenizações morais são costumeiramente bilionárias. Daí resultou decisão judicial obrigando Paulo Francis a pagar o valor de US$ 100 milhões.
Sem qualquer possibilidade financeira de pagar soma tão elevada, Paulo Francis entrou em fortíssima depressão psicológica. Foi perdendo o dom da fala, que tanto impressionava seus telespectadores, e, aos poucos, foi enfraquecendo até morrer.
Agora, quase 20 anos depois da morte do jornalista, o ex-gerente da Petrobras, Pedro Barusco, em depoimento à operação “lava jato”, em delação premiada, afirmou que começou a cobrar propina das empresas que buscavam firmar contratos com a estatal desde o ano de 1997. Ele ocupava o cargo de gerente de Tecnologia de Instalações, e a empresa que ele compactuava na corrupção era a holandesa SBM.
Paulo Francis estava certo, mesmo não tendo provas concretas. E a seríssima denúncia deveria ter sido apurada, antes que o mal crescesse até onde chegou, mas tanto José Sarney quanto Fernando Henrique conviveram tranquilamente com a corrupção na Petrobras, possivelmente pelo mesmo motivo que os avestruzes do imaginário popular escondem a cabeça em certas circunstâncias. Nunca iniciaram qualquer investigação. Nas gestões de Fernando Collor e de Itamar Franco não há denúncias de corrupção na Petrobras.
É preciso conhecer como se iniciou a insana desonestidade em nossa grande estatal, para que esse conformismo do passado sirva de lição para o futuro: o mal deve, sempre, ser cortado, logo de início, pela raiz.
Fonte: Consultor Jurídico
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